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Notícia

Home office e parceria: Mães artistas driblam pandemia com amor e ideias criativas

Por Jamile Amine / Júnior Moreira Bordalo

Home office e parceria: Mães artistas driblam pandemia com amor e ideias criativas
Foto: Reprodução / Instagram

A desigualdade entre gêneros, já cristalizada na sociedade brasileira, ficou mais acentuada na pandemia do novo coronavírus, impactando sobretudo as mães no mercado de trabalho. De acordo com um levantamento do Sebrae, no período de isolamento a sobrecarga nos afazeres domésticos implicou na redução de 33% do tempo dedicado aos negócios pelas mulheres com filhos, contra o impacto de 24% dos pais.

 

Segundo o estudo, no terceiro trimestre de 2020, a proporção de mulheres à frente de empreendimentos caiu um ponto percentual em comparação a 2019, chegando a 33,6% dos cerca de 25,6 milhões de empresários no país. Em números absolutos, o total fica abaixo do registrado em 2017, com 1,3 milhão de mulheres a menos à frente dos negócios.

 

Um dos setores mais afetados financeiramente pela pandemia, a Cultura não ficou imune, já que também abriga mães que tiveram que se reinventar para trabalhar, manter a criatividade, prover a subsistência e ainda se dedicar aos cuidados dos filhos. 

 

Neste Dia das Mães - o segundo em período de pandemia -, o Bahia Notícias conversou com algumas artistas, que relataram suas rotinas e contaram estratégias para superar os desafios inéditos, além dos habituais. 

 

No intuito de abarcar a pluralidade, o BN procurou representantes de diversas construções familiares.  Abrindo espaço em suas agendas atribuladas, seis delas aceitaram: Hilda Lopes Pontes, Claudia Leitte, Cecília Amado, Illy, Emanuelle Araújo e Márcia Short. Ao final, elas gravaram vídeos nos quais revelam o presente que gostariam de ganhar este ano. 

 


HILDA LOPES PONTES


Hilda, a filha Penélope e o Companheiro Klaus Hastenreiter nas gravações do curta-metragem 'Mamãe' | Foto: Reprodução / Facebook


É exatamente sobre a árdua experiência da maternidade durante o período de crise sanitária que trata o novo trabalho da roteirista e diretora de cinema baiana Hilda Lopes Pontes. “O curta-metragem eu escrevi durante a pandemia se chama ‘Mamãe’, e eu dirigi junto com meu companheiro Klaus agora em fevereiro. É sobre esse cotidiano de uma mãe que se vê trabalhando em casa sozinha com a filha, porque ela precisa ficar isolada do marido que trabalha fora. E eu tentei um pouco externalizar esse sentimento de sobrecarga, desse sentimento de imperfeição que todas as mães sentem de que elas não estão dando o suficiente, mas ao mesmo tempo se sentem esgotadas”, explica a mãe de Penélope, de cinco anos.

 

O filme tem lançamento previsto ainda para este mês e traz consigo as reflexões e vivências da própria artista sobre o momento. Para ela, ser mãe durante a epidemia e trabalhar em home office tem sido muito desafiador, ainda que tenha o companheiro como grande parceiro. “A gente trabalha junto na mesma coisa, mas em vários momentos eu precisava sentar, escrever, e minha filha só queria ficar comigo. Aí senta no colo pra escrever página de roteiro, 90 páginas de roteiro que precisavam ser escritas durante pouquíssimo tempo. E aí a gente fica nesse sentimento de que a nossa filha está precisando de afeto, de atenção, porque ela está sem escola, sem conviver com pessoas da idade dela, ao mesmo tempo que a gente precisa trabalhar”, conta a diretora, relatando momentos de estresse e medo, em contraste com a busca por equilíbrio. 

 

Lembrando da batalha para coordenar o dia a dia e dividir as tarefas, ela diz que muitas vezes se sentiu sobrecarregada, mas percebeu também a oportunidade para estabelecer uma conexão ainda maior com a filha. “A gente se conhece muito mais, a gente criou coisas novas, o nosso momento da conversa, eu comecei a ler mais pra ela. Ao mesmo tempo que é difícil, eu consigo ver como um momento de muita troca com minha filha, e hoje eu conheço ela de uma maneira muito especial e criei um elo muito poderoso”, avalia Hilda, que comemorou ainda o momento em que Penélope atuou em seu novo projeto. “A gente gravou um filme e nossa filha atua nele, foi um momento em que a gente conseguiu colocar ela pra trabalhar junto com a gente e foi muito incrível, muito feliz. A gente conseguiu unir as duas coisas”, conta a diretora, para quem o filme foi um momento de “expurgar” as dores e repensar a batalha diária de ser mãe, que já era complicada e com a pandemia é ainda mais.

 

CLAUDIA LEITTE


Claudia, o marido Márcio Pedreira, e os filhos Davi, Rafael e Bela | Foto: Reprodução / Instagram


Para a cantora Claudia Leitte, a pandemia chegou em um momento de reforço da sua maternidade. Quando foi decretado o fechamento das fronteiras para conter o avanço do novo coronavírus, a baiana estava nos EUA e recém-parida da pequena Bela, sua terceira filha, fruto do relacionamento com o empresário Márcio Pedreira. Além da bebê de um ano e meio, ela é mãe de Davi, de 11 anos, e Rafael, de oito anos.

 

Ao longo desse tempo, o desafio foi manter as atribuições da carreira artística, em meio às restrições e ao cancelamento do Carnaval - como integrar o corpo de técnicos do The Voice Brasil + (voltado para o público mais velho) e lançar músicas, a exemplo de “Agradece”, parceria com Natiruts - e conciliar tudo com as atividades dentro de casa com a família. 

 

"Eu sempre fiz questão de estar super próxima dos meus filhos, mesmo na correria do dia a dia, então eu estava bem acostumada em ser mãe coruja enquanto trabalhava. Na pandemia, isso só se potencializou porque passamos mais tempos juntos. Eu me virei em 10 - cozinhando, cuidando de Bela, fazendo lição de casa com meus filhos, reuniões, tudo ao mesmo tempo! Mas aqui em casa todos ajudam, cada um com uma tarefa, então foi massa ver a gente se reunindo para resolver todas as demandas que tivemos", admite.


CECÍLIA AMADO


Cecília e o filho Felipe | Foto: Arquivo Pessoal


Neta de Jorge Amado e Zélia Gattai, a cineasta Cecília Amado concilia suas várias facetas há muito tempo, mas também tem sentido o impacto do isolamento. “Ser artista, viver de arte, ser mulher, ser mãe é a minha vida há 15 anos desde que meu filho nasceu. Eu levei ele na barriga pro set de filmagem, até praticamente seis, sete meses. Eu estava trabalhando no set e ele estava na barriga”, lembra ela, revelando que atualmente tem se dedicado às etapas do trabalho audiovisual que podem ser feitas em casa e não envolvem aglomerações, a exemplo de produção, edição e criação.

 

“O que aconteceu na pandemia é que toda essa parte que acontecia dentro da produtora, tudo que não era a filmagem, continuou podendo acontecer de forma home office. Então, tenho vivido essa experiência. Estou longe dos sets desde que a pandemia começou, sou uma pessoa muito preocupada em evitar os contágios, então eu recusei alguns trabalhos que seriam no set de filmagem, justamente para preservar minha família, apesar de que é complicado a gente viver distante do set tanto tempo”, conta a cineasta, que concluiu sua última gravação exatamente no dia 16 de março de 2020, um dia antes do governo anunciar oficialmente que o país estava em pandemia. 

 

“Na véspera de sabermos que estávamos em pandemia oficialmente eu concluí a filmagem então, de lá pra cá, eu tenho trabalhado na pós-produção dessa série. Tive alguns projetos adiados, como eu falei, por conta da filmagem, mas ao mesmo tempo que eu estou finalizando um, também tem essa parte de criação de novos projetos, de escrita de roteiro, essa parte de produção, planejamento, captação de recursos. Isso tudo, é como se eu tivesse transferido a minha parte da produtora, que é a Tenda dos Milagres, pra dentro de casa e para o convívio com meu filho”, detalha Amado.

 

Assim como outras artistas com agendas e rotinas atribuladas pela atividade laboral, a cineasta também tem aproveitado a oportunidade de estar mais dentro de casa para estreitar ainda mais os laços com o filho Felipe, de 15 anos. “Sem romantizar, porque home office é uma coisa que deveria ser provisória, mas ao mesmo tempo é muito bom estar com ele por perto”, pondera Cecília. “Então a gente pode estar mais juntinho, se ver, fazer uma parte de colaboração mesmo, eu mais atenta ao seu desenvolvimento na escola, e ele também atento aos trabalhos”, acrescenta.

 


Cecília com o filho Felipe no set do filme "Capitães da Areia" | Foto: Arquivo Pessoal

 

Típico do trabalho home office, o momento de parar tem sido um dos desafios para a diretora de cinema. “Eu sou muito caxias, muito trabalhadora, então às vezes o home office ocupa um espaço da casa muito difícil, porque a gente não quer desligar antes de acabar o trabalho e o filho está querendo um colo, um carinho, uma atenção, uma troca, e você está no computador trabalhando, está nas tantas e tantas videoconferências, porque a gente passa a morar praticamente dentro do computador”, revela a artista, que na busca desse equilíbrio encontra em Felipe um grande parceiro. 

 

“Hoje, graças a Deus, tenho um filho de 15 anos super bem resolvido, com muita autonomia, muito carinhoso, e ele me ajuda no trabalho, principalmente em trabalhos para a infância e adolescência. É um tema que eu invisto bastante, então eu mostro como estão ficando os projetos pra ele, peço opinião, peço dicas, ele faz pesquisas para os meus projetos, então é uma troca muito bonita”, diz Cecília, que torce para o retorno aos sets de filmagem, reconhece a importância de separar o espaço de casa e o do trabalho, mas enquanto a normalidade não se restabelece aproveita o convívio diário entre mãe e filho. 

 

ILLY


Illy com o filho Martim em maio de 2020 | Foto: Reprodução / Instagram


Para a cantora Illy, mãe de Martim, nascido pouco antes da pandemia, em dezembro de 2019, o isolamento não é fácil, mas tem sido superado por uma rede de apoio e jogo de cintura para se adaptar à nova realidade.  

 

“A pandemia parou nossas carreiras, com relação a show, mas o mundo digital serviu como uma saída pra gente, e os lançamentos digitais também, como uma forma de acalanto pro nosso público”, avalia a artista, que no início do período de restrições lançou o disco  "Te Adorando Pelo Avesso", com repertório de Elis Regina. “Foi um álbum muito significativo pra mim, muito importante de ter lançado neste momento, porque leva a uma reflexão diante de tudo que a gente está vivendo”, avalia a artista, que transformou o próprio quarto em home studio e tem “se virado” durante o período de isolamento social.

 

“E continuei fazendo as coisas, recebendo convites para singles, participando de gravações e tudo isso com um filho que tem só 1 ano e 4 meses agora. Foi uma doideira, eu pedi ajuda pra minha mãe algumas vezes, e foi meu marido que divide todas as tarefas comigo e que me ajuda com meu filho em casa, eu e ele cuidando de nosso Martim”, lembra a cantora, que se diz privilegiada por ter suporte da família. “Moro no mesmo prédio que meu pai, minha mãe também mora muito próximo a mim, são pessoas que estão totalmente isoladas, e eu pude recorrer a eles nos momentos de aperto, nos momentos mais difíceis, mas na maioria das vezes eu tive que dar conta mesmo sozinha, eu e meu marido. E assim a gente foi levando a nossa vida com uma criança e todos os trabalhos que a gente tinha pra fazer em casa”, revela.

 

Resiliente, ela diz que o importante é “arranjar um jeito de viver de arte”, mesmo diante das dificuldades. Para isso, ela lançou mão de algumas soluções criativas. “Foi tudo muito desafiador, porque me vi dentro do guarda-roupa gravando voz pra amigos e até para meu próprio disco, para meus próprios lançamentos. Então, foram coisas bem diferentes que eu vivi nessa quarentena”, lembra Illy.


EMANUELLE ARAÚJO


Emanuelle Araújo e a filha Bruna | Foto: Reprodução / Instagram
 

Mãe de Bruna, a atriz Emanuelle Araújo vê como o maior desafio na pandemia administrar a distância e o desejo de estarem juntas. “Minha filha não mora mais comigo, ela já tem 27 anos, mas temos uma vida bastante entrelaçada ainda. O que foi mais difícil foi a questão de não nos vermos, porque a gente está nesse momento de muita preocupação de encontrar”, conta a artista, revelando que o Dia das Mães de 2020 foi solitário, mas este ano a data será celebrada ao lado da filha, em um almoço, após ambas fazerem testes de Covid-19. 

 

“Acho que para os filhos que moram fora de casa ficou essa sensação de sempre ter uma preocupação para encontrar. Ficou mais difícil pra encontrar e a gente ter que lidar com isso de uma nova forma, como tem sido tudo nessa realidade difícil”, avalia a atriz, que na pandemia chegou a se isolar em uma casa no campo.

 

MÁRCIA SHORT


Márcia Short e os filhos Daniel e Valentina, em 2018 | Foto: Arquivo Pessoal


“Mãe duas criaturas de dois extremos totalmente diferentes”, a cantora Márcia Short diz que conciliar a maternidade e o ofício de artista durante a pandemia tem sido desafiador, sobretudo diante das especificidades de cada um dos rebentos, que agora na quarentena ficam ainda mais juntos no seio familiar. 

 

“Eu sou mãe de um homem de 34 anos que é deficiente intelectual, tem autismo, e tem sido bem complicado conduzi-lo, porque, se em pessoas ditas normais a ansiedade tem imperado, imagine para o autista que tem dificuldade de compreensão de tantas coisas que acontecem à sua volta”, conta Márcia sobre o convívio com Daniel, revelando que os dois vivem momentos de altos e baixos intensificados pela quarentena. “Há dias de muita interação, há dias de interação nenhuma. Dias de depressão, dias de muita tristeza, porque ele quer sair e por conta do distanciamento e das medidas preventivas da Covid a gente não pode fazer do jeito que deveria. O máximo que eu consigo é botar ele no carro, dar uma volta, caminhar um pouco numa praia, quando elas estão liberadas”, relata a artista, destacando a importância de dar o exemplo na condução de seus atos durante a crise sanitária.

 

No outro extremo, Marcia divide sua atenção ainda com a filha Valentina, de 12 anos, em idade escolar. “É uma pré-adolescente com muita saudade do convívio com os colegas, muita saudade da escola, muito tempo no computador e no celular, e isso acaba gerando conflitos entre a gente. Mas com amor e paciência eu estou conduzindo da melhor maneira possível, pedindo a Deus que essa vacina chegue logo pra gente poder retomar a nossa vida”, detalha. 

 

Como muitas mulheres brasileiras, além dos filhos, a cantora dá conta ainda dos cuidados da mãe. “De quebra tenho uma mãe octogenária, que é uma criança grande, uma criança com autonomia, e que a gente também tem que contornar e conduzir pra mantê-la segura dentro de casa”, conta Márcia Short. “Ela já tomou a primeira dose e agora a expectativa é que ela tome a segunda dose e assim possa se libertar, como ela mesma diz (risos)”, completa.