Eleito em novembro para ocupar a cadeira de n&uacute;mero 1 da Academia de Letras da Bahia (ALB), o jornalista, escritor e professor Emiliano Jos&eacute; (<a href="https://www.bahianoticias.com.br/cultura/noticia/39132-emiliano-jose-e-indicado-para-cadeira-da-academia-de-letras-da-bahia.html" target="_blank">relembre aqui</a>) toma posse nesta sexta-feira (19), &agrave;s 19h. O evento ocorre de forma virtual, em decorr&ecirc;ncia da pandemia de Covid-19. A solenidade ser&aacute; dirigida pelo acad&ecirc;mico Ordep Serra, rec&eacute;m-eleito presidente da entidade. Depois do discurso de agradecimento, o mais novo imortal ser&aacute; saudado pelo arquiabade do Mosteiro de S&atilde;o Bento, Dom Emanuel D&rsquo;Able do Amaral, membro da Academia.

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&Agrave; Associa&ccedil;&atilde;o Bahiana de Imprensa (ABI), Emiliano Jos&eacute; falou sobre a honraria de ocupar a cadeira deixada pelo historiador Lu&iacute;s Henrique Dias Tavares, falecido em &nbsp;junho passado. &quot;A minha fala vai tentar traduzir o agradecimento e ao mesmo tempo lembrar os meus antecessores, e de modo muito especial do professor Lu&iacute;s Henrique Dias Tavares, provavelmente o mais importante historiador da vida baiana. Ser&aacute; um momento muito significativo&quot;, destaca.

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&quot;&Eacute; um momento muito honroso para mim. N&atilde;o foi uma luta para chegar &agrave; Academia, foi uma generosidade dos acad&ecirc;micos e acad&ecirc;micas, que me acolheram com imenso carinho&quot;, afirma. Segundo ele, o principal esfor&ccedil;o foi do arquiabade Dom Emanuel d&rsquo;Able do Amaral. Aos 74 anos de idade e com 16 livros publicados, Emiliano considera a indica&ccedil;&atilde;o um reconhecimento de sua trajet&oacute;ria como jornalista e escritor. Ele tinha 28 anos quando chegou como &ldquo;foca&rdquo; &agrave; reda&ccedil;&atilde;o do jornal Tribuna da Bahia, sua primeira casa, anos depois de deixar a pris&atilde;o no per&iacute;odo da ditadura.

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O professor contribuiu para forma&ccedil;&atilde;o de gera&ccedil;&otilde;es de jornalistas e escritores baianos, por sua atua&ccedil;&atilde;o de mais de 20 anos na Faculdade de Comunica&ccedil;&atilde;o da UFBA (Facom). &quot;Chego &agrave; Academia gra&ccedil;as ao jornalismo. Agrade&ccedil;o profundamente ao mundo do jornalismo, aos meus colegas e minhas colegas, aqueles que conviveram comigo e me ensinaram, deram o caminho das pedras. Eu fico muito comovido ao lembrar que essa trajet&oacute;ria &eacute; devida principalmente aos amigos e amigas jornalistas, que me deram r&eacute;gua e compasso&quot;, afirma Emiliano Jos&eacute;.

Os relatos sobre os quatro anos que passou sob cust&oacute;dia do Estado - governado na &eacute;poca pelo regime militar -, das torturas sofridas e todo o percurso na clandestinidade pol&iacute;tica s&atilde;o alguns dos fatos que o autor baiano Emiliano Jos&eacute; traz na autobiografia &quot;O C&atilde;o Morde a Noite&quot;.

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&quot;Ele nasceu de uma iniciativa minha de ir, ao dia-dia, durante quase dois anos, publicando nas redes sociais como uma novela. &Eacute; uma autobiografia que pega da minha inf&acirc;ncia, at&eacute; o momento da minha sa&iacute;da da pris&atilde;o. Cobre desde 1946 a 1974, quando conclu&iacute; os quatro anos de pris&atilde;o&quot;.&nbsp;

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Nas mais de 400 p&aacute;ginas do livro, editado pela EDUFBA, mem&oacute;rias pessoais de um passado n&atilde;o t&atilde;o distante v&ecirc;m &agrave; tona e se cruzam com a hist&oacute;ria amigos com quem Emiliano Jos&eacute; compartilhou momentos de luta. Alguns destes companheiros,&nbsp;assim como ele, tamb&eacute;m&nbsp;foram torturados.&nbsp;

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&quot;Eu percorro a trajet&oacute;ria, mas esse percurso nunca &eacute; solit&aacute;rio. &Eacute; com muita gente, com circunst&acirc;ncia, com a conjuntura, com muitos companheiros que viveram comigo e &agrave;s vezes mais longamente, como &eacute; o caso do Theodomiro Romeiro dos Santos&quot;, conta Emiliano, citando o caso do primeiro civil condenado &agrave; pena de morte no per&iacute;odo republicano Brasileiro, com base na Lei de Seguran&ccedil;a Nacional.

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&quot;Conto da minha inf&acirc;ncia com detalhes, da minha juventude, a chegada &agrave; luta revolucion&aacute;ria, da minha milit&acirc;ncia, chego &agrave; minha pris&atilde;o aqui na Bahia, passo pela tortura - essa &eacute; a primeira vez que conto em detalhes como foi minha tortura - e depois eu detalho o que foi a Galeria F na penitenci&aacute;ria Lemos de Brito&quot;, descreve.

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<img alt="" src="/fotos/entretenimento_noticias/39589/mg/entretenimento_noticias_39474.jpg" style="width: 313px; height: 380px;" /> 
Capa do novo livro de Emiliano Jos&eacute; | Foto: Divulga&ccedil;&atilde;o

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Questionado sobre como a escrita pode ter funcionado para ele como uma forma de exp&ocirc;r seus traumas de alguma maneira mais sutil para si mesmo, ele comenta que come&ccedil;ou a escrever sobre o tema h&aacute; cerca de 20 anos, quando, ainda no jornal A Tarde, escrevia relatos sobre a ditadura militar. &quot;Ali eu comecei a falar sobre a tortura.&quot;

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&quot;Quando li [pela primeira vez], publicado no jornal, o meu relato sobre a minha tortura, levei um choque&quot;, conta o escritor. &quot;S&atilde;o feridas, eu costumo dizer isso, que n&atilde;o fecham. Elas est&atilde;o l&aacute;, no nosso corpo e na nossa alma&quot;, comenta, dizendo que estas quest&otilde;es se relacionam com a condi&ccedil;&atilde;o humana e suas emo&ccedil;&otilde;es.

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Durante a conversa, por telefone, Emiliano tamb&eacute;m lembra de autores como Rachel Rosenblum, que falam sobre regimes autorit&aacute;rios e rememora&ccedil;&atilde;o de momentos traum&aacute;ticos. &quot;Talvez a minha catarse, meu enfrentamento, seja contar, falar as coisas&quot;, revela.

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Emiliano tamb&eacute;m opina sobre atitudes que neguem ou questionem a atua&ccedil;&atilde;o da m&atilde;o armada do Estado brasileiro contra opositores do regime instaurado no pa&iacute;s com o golpe de 1964, como a ocasi&atilde;o em que o presidente Jair Bolsonaro p&ocirc;s em d&uacute;vida as torturas sofridas pela ex-presidente Dilma Rousseff (<a href="https://www.bahianoticias.com.br/noticia/255465-maia-critica-bolsonaro-apos-nova-ofensa-a-ex-presidente-dilma-nao-tem-dimensao-humana.html" target="_blank">entenda aqui</a>).

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&quot;Me sinto enojado e indignado. O sujeito [Bolsonaro] simultaneamente &eacute; um farsante - ele sabe que ocorreu - e um covarde. Ali&aacute;s, essa &eacute; a marca das ditaduras, elas s&atilde;o constitu&iacute;das de covardes. N&atilde;o houve combate, eles mataram centenas e centenas de pessoas na tortura&quot;, dispara Emiliano, argumentando que h&aacute; uma frustra&ccedil;&atilde;o do presidente por n&atilde;o ter atuado diretamente nos atos de tortura de presos pol&iacute;ticos. &quot;Estou no combate contra este cidad&atilde;o&quot;, completa.

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<img alt="" src="/fotos/entretenimento_noticias/39589/mg/waldir-pires-lancamento.jpg" style="width: 380px; height: 208px;" /> 
Emiliano no lan&ccedil;amento da biografia de Waldir Pires | Foto: Divulga&ccedil;&atilde;o

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Aos 74 anos, Emiliano acumula uma hist&oacute;ria repleta de livros, ocupa&ccedil;&otilde;es e outros r&oacute;tulos. Ele &eacute; autor de outras 15 obras liter&aacute;rias, foi deputado, al&eacute;m de ter atuado como jornalista e professor. Agora ele carrega o t&iacute;tulo de imortal. Acolhido pela Academia de Letras da Bahia (ALB), a mesma que j&aacute; prestigiou nomes como Jo&atilde;o Ubaldo Ribeiro e Rui Barbosa, ele ser&aacute; empossado em mar&ccedil;o como o ocupante da cadeira de n&uacute;mero 1.

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&quot;O C&atilde;o Morde a Noite&quot; ser&aacute; lan&ccedil;ado em fevereiro, atrav&eacute;s de um evento virtual. O pref&aacute;cio do livro &eacute; do reitor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Jo&atilde;o Carlos Salles, e a apresenta&ccedil;&atilde;o &eacute; do jornalista baiano Adilson Borges.&nbsp;

O jornalista Emiliano Jos&eacute; lan&ccedil;a, nesta quinta-feira (15), o segundo volume da biografia de Waldir Pires, pela Versal Editores. O evento de lan&ccedil;amento acontece a partir das 17h, no Pal&aacute;cio Rio Branco, no Centro Hist&oacute;rico de Salvador.

 
A sequ&ecirc;ncia completa a narrativa sobre a trajet&oacute;ria de Waldir, iniciada no primeiro livro, lan&ccedil;ado no ano passado, que conta desde o seu nascimento, em 1926, at&eacute; a retomada de seus direitos pol&iacute;ticos ap&oacute;s o fim do AI-5, em 1978. O segundo volume retoma a narrativa desse ponto, at&eacute; o ano de sua morte, em 2018, aos 91 anos.

 
Segundo Emiliano Jos&eacute;, a frase do capitulo final &ldquo;Encerro minha vida parlamentar aos 90 anos, mas, n&atilde;o encerro minha luta. Derrotados s&atilde;o os que deixam de lutar&rdquo;, sintetiza com perfei&ccedil;&atilde;o o esp&iacute;rito combativo do pol&iacute;tico que viveu com intensidade a Era Vargas, o governo Jo&atilde;o Goulart, o golpe militar de 1964, o ex&iacute;lio, a resist&ecirc;ncia, a redemocratiza&ccedil;&atilde;o, a Constitui&ccedil;&atilde;o de 1988, e teve participa&ccedil;&atilde;o ativa nos governos de Lula e Dilma Rousseff.

 
Neste novo livro, Emiliano Jos&eacute; retoma a hist&oacute;ria do biografado a partir 1979, abordando momentos como a sua candidatura ao Senado, em 1982, sua atua&ccedil;&atilde;o na constru&ccedil;&atilde;o do MDB e na campanha das Diretas J&aacute;, a elei&ccedil;&atilde;o para o governo do Estado da Bahia, em 1986, e a ren&uacute;ncia para disputar as elei&ccedil;&otilde;es presidenciais de 1989. Tamb&eacute;m s&atilde;o destacadas a sua elei&ccedil;&atilde;o e reelei&ccedil;&atilde;o para deputado federal nos anos 1990, e o &uacute;ltimo cargo p&uacute;blico ocupado por ele na carreira pol&iacute;tica, com o mandato de vereador na C&acirc;mara Municipal de Salvador, conclu&iacute;do em 2016.

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Emiliano José é indicado para cadeira da Academia de Letras da Bahia

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