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Os Insênicos: Há dez anos, grupo de teatro descortina 'loucura' através da arte

Por Bruno Leite

Os Insênicos: Há dez anos, grupo de teatro descortina 'loucura' através da arte
Foto: Divulgação

"Eu executei esse projeto que se chamava 'Em cena, insanidade', que era uma oficina de teatro para usuários dos CAPS [Centros de Atenção Psicossocial] e que, no final desse processo de três meses, a gente conseguiu montar um espetáculo. O projeto nasceu daí, foi uma experiência super rica, construímos um vínculo entre o grupo que foi o que desencadeou nosso desejo de continuar mesmo depois do edital". A fala da atriz e psicóloga Renata Berenstein dá as coordenadas do que foi o início da trajetória de dez anos do grupo de teatro "Os Insênicos". Fundada em Salvador, a trupe é composta por atores usuários do serviço de saúde mental.

 

Renata atua desde o início como diretora do grupo. Ela contou ao Bahia Notícias que teve que dar passos difíceis para a promoção da arte e garantir a existência de um coletivo que ultrapassa as barreiras do preconceito. Atualmente, a equipe conta com 15 pessoas.

 


Os Insênicos em ensaio na Casa do Benin | Foto: Reprodução / Instagram

 

"Eu sou graduada em psicologia e já no final da minha graduação foi um momento em que a Secretaria de Cultura lançou um edital voltado para cultura e direitos humanos. Na epoca eu já trabalhava com teatro, tinha uma companhia, atuava como atriz e isso me deu o start para fazer uma proposta de saúde mental e teatro. Me submeti na época ao edital e fui premiada", contextualiza a diretora sobre o início dos Insênicos.

 

A junção entre o conceito de insanidade e tudo aquilo que gira em torno da encenação deu sentido para o nome do primeiro espetáculo a ser montado. Este, aliás, é justamente o mesmo que batiza o grupo: "Insênicos".

 

Entre os atores dirigidos por Renata despontaram talentos como Elisleide Bonfim, indicada ao Prêmio Braskem deste ano pela atuação no espetáculo Holocausto Brasileiro (relembre aqui). O convite para a atriz participar do espetáculo que rendeu a indicação para a maior premiação do teatro baiano surgiu de uma intenção de promoção de um espaço de troca sobre o percurso da saúde mental e o próprio debate da reforma psiquiátrica.

 

"No processo de seleção de atores eles [os organizadores do espetáculo Holocausto Brasileiro] abriram para que os atores dos Insênicos também fizessem e Elisleide foi selecionada naquele momento", disse Renata, que revelou estar animada e orgulhosa com a conquista, que é individual, mas também coletiva.

 


Elisleide (de azul) em Holocausto Brasileiro | Foto: Divulgação
 

O trabalho junto aos integrantes fez desencadear processos artísticos diversos. Gilvan, um outro integrante, é um dos exemplos citados pela diretora. Ele é morador de Coração de Maria, no interior do estado, e desenvolve o trabalho de palhaço, oficinas de teatro e animações de festa.

 

Para além do "ganhar o pão" com a arte, Renata revela que muitos dos membros, antes afastados dos seus espaços de labor, puderam retornar graças à participação no grupo. "Tem gente que voltou a dirigir táxi, a trabalhar como pedreiro e outras carreiras que economicamente dão um retorno para eles", disse. Vários dos "insênicos" já viveram momentos de internação em hospitais psiquiátricos, chegando a sofrer abusos e hospitalizações que perduraram por até três décadas.

 

Apesar dos percursos distintos de vida dos participantes, o teatro, mais especificamente "Os Insênicos", tem uma importância clínica e política para eles. Além do fator visibilidade. "Vai no sentido oposto de que a gente faz normalmente no cuidado à saúde mental, que é esconder, de colocar na internação. Então é um ato político, nesse sentido, e estético, porque os espetáculos que surgem da interação deles são super ricos", revela Renata Berenstein.

 


O grupo na montagem de Quem Está Aí? | Foto: Reprodução / Instagram

 

Em atividade durante todo o ano, o grupo se reúne semanalmente, às quintas-feiras, na Casa do Benin, no Pelourinho. Desde a fundação, além do primeiro, já foram montados os espetáculos "Cidade em Versos" (2011), "Balada de Amor" (2013) e "Quem Está Aí?" (2017). Além disso, foram feitas apresentações em universidades, congressos e aberturas de eventos, e outras ações são feitas para arrecadar fundos.

 

Agora, com a chegada dos dez anos, uma campanha de financiamento foi lançada. O propósito é custear um conjunto de ações, dentre elas a realização de duas rodas de conversa, ensaios abertos e a montagem de outra peça. A colaboração pode ser feita através da plataforma Catarse (clique aqui). A meta é arrecadar R$ 50 mil.