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Marca Bahia Notícias

Notícia

Livro debate dificuldades e histórias da comunidade LGBT no futebol

Por Lara Teixeira / Mauricio Leiro

Livro debate dificuldades e histórias da comunidade LGBT no futebol
Foto: Reprodução / Twitter

O escritor João Abel lança nas próximas semanas de setembro o livro "BICHA! Homofobia estrutural no futebol", em que destaca três principais temas: futebol profissional, torcidas LGBT e futebol amador.

 

"O livro está dividido em três parte: campo, arquibancada e camisa, que são símbolos para falar sobre futebol profissional, torcidas LGBTs, e futebol amador. Esses três temas são destacados no livro e dentro deles eu conto sobre alguns casos. Falo sobre o primeiro jogador a se assumir homossexual; as torcidas LGBTs, que estão em todos os clubes grandes do Brasil; a torcida LGBT que lutou durante a ditadura militar no Brasil; do primeiro time de homens transsexuais; faço um mapeamento de times LGBTs, que hoje no Brasil são pelo menos 60, dos campeonatos que eles disputam... Além disso, realizei várias entrevistas com jogadores, com o único profissional gay que atua no Brasil, jornalistas, especialistas e um sociólogo. É um livro bem generalizado", define o escritor ao Bahia Notícias. 

 

João explica que utilizou o termo "estrutural" no título do livro porque acredita que a homofobia já é uma característica que está intrínseca na sociedade brasileira. "Eu acho que a homofobia reflete especialmente nas gestões dos clubes. Principalmente nos dirigentes. Já é da natureza do futebol ser um ambiente muito hostil, então por isso ela é estrutural, porque tem a ver com essa raiz do futebol de ser mais máscula, de ser um esporte preconceituoso, que é algo que a gente precisa quebrar", indica. 

 

 

 

Recentemente aconteceu um episódio de homofobia em São Januário e o árbitro Anderson Daronco parou o jogo para pedir que a torcida parasse a manifestação. A partir desta e de outras situações, muitos torcedores acreditam que o futebol está se tornando "chato". O escritor, contudo, disse que o ocorrido serviu para contra-atacar o argumento de pessoas que ainda "defendem gritos homofóbicos dentro dos estádios, que dizem que o futebol está ficando chato e que nós estamos problematizando e tudo é mimimi". 

 

"O que eu tenho pra dizer para as pessoas é que eu concordo com elas que o futebol está ficando chato, mas não por causa disso. Acho que tem outras coisas bem mais importantes e preocupantes acontecendo. Os ingressos estão cada vez mais caros, o torcedor pobre não consegue ir para os estádios, camisa de time é muita cara, o torcedor não se vê representado, as entrevistas com os jogadores são cada vez mais protocolares e ruins, os técnicos falam cada vez mais bobagens. As festas são muito cerceadas, você não pode levar papel picado, sinalizador, você não pode torcer como deveria, bandeirão é proibido aqui em São Paulo, torcida única em clássicos aqui em SP, só podem ter a torcida de um time. Então tem outras coisas que estão deixando o futebol chato, que não tem nada a ver com o politicamente correto ou coisas desse tipo. Isso é o básico da humanidade, você não ser uma pessoa preconceituosa", defende Abel. 

 

"Eu acho que vai ficar mais interessante, mais plural e divertido quando essas pessoas se verem representadas. Isso ainda não acontece, e por isso o futebol está ficando chato também, porque essas pessoas estão ficando excluídas", continuou o autor sobre a presença de LGBTs dentro e fora de campo. Ainda sobre o jogo que foi paralisado, Abel destacou a importância da situação pelo fato de ter sido um jogo que foi transmitido na TV aberta. 

 

Mesmo com campanhas que lutam a favor do respeito nos estádios, João disse não perceber uma mudança nas arquibancadas. Para ele, as torcidas continuam sendo "tão homofóbicas quanto sempre foram". 

 

"Eu acho que esse ambiente mais radicalizado que a gente vive no Brasil, hoje, deixa isso mais explícito ainda porque esses casos ganham mais notoriedade, acho que é isso que tem mudado. Acho que agora tem mais luz do que isso e os clubes e as confederações estão percebendo que precisam fazer algo sobre o assunto. É bom o livro ser lançado agora porque estamos num momento crucial sobre essa discussão, porque os clubes estão fazendo campanha sobre isso, alertando os torcedores, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) já disse que vai começar a punir os clubes inclusive com perda de pontos. Vamos ver se isso realmente vai acontecer". 

 

"Eu acho que o momento é de mais discussão sobre o assunto, eu não sei se isso vai se refletir mais pra frente para dentro dos estádios, eu espero que sim. Mas no momento eu acho que ainda não existe menos homofobia no estádio. Na verdade eu sinto que estamos falando mais sobre o assunto e talvez isso gere resultados daqui há um tempo". 

 

 

 

 

Questionado sobre a atuação dos clubes no combate a homofobia, o escritor destacou as ações realizadas pelo Esporte Clube Bahia. "O Bahia talvez seja o único clube que tenha abraçado essas causas de fato, recentemente inclusive produzimos um podcast no projeto ‘Contra-ataque’ sobre o clube, conversamos com um torcedor. Uma coisa que percebo é que, abraçando essas causa, o clube também ganha financeiramente, já que os dirigentes muitas vezes estão preocupados com o dinheiro, e em com fazer o clube dar lucro. Eu acho que trazendo pra perto esse torcedor LGBT, negro, a mulher, essas minorias, você ganha em público, você tem um nicho de mercado muito forte para ser explorado. Então acho que o Bahia está fazendo isso muito bem. O clube tem sido muito vanguardista em se posicionar tanto, e nós temos percebido quais são os clubes que estão se posicionando porque realmente acreditam na causa”. 

 

“O Fortaleza essa semana lançou um vídeo muito importante, o Vasco foi o único a se posicionar no dia do orgulho lésbico, então tem alguns clubes que já têm em sua natureza se posicionarem politicamente. Em São Paulo o Corinthians também se posiciona, mas não tanto. Eu acho que o Bahia e esses outros clubes têm feito um trabalho muito importante para conscientizar o torcedor sobre esses assuntos". 

 

Em maio deste ano, o jogador australiano Andy Brennan revelou em sua conta do Instagram que é homossexual. Sobre casos semelhantes, o escritor disse acreditar que o Brasil esteja começando a criar um ambiente favorável para que, daqui a alguns anos, um jogador brasileiro decida se assumir. 

 

“O Brasil tem 30 mil jogadores profissionais mais ou menos, e acho bem improvável que não existam gays entre todos esses. Com certeza tem jogadores que hoje estão sofrendo porque não podem assumir suas sexualidades. Eu acho que quando o primeiro se assumir, e vai ser mais importante talvez se for um jogador ídolo de algum clube, a gente vai começar um movimento muito forte de pessoas demonstrando publicamente sua sexualidade. Na verdade ninguem é obrigado a demonstrar nada, mas eu acho que por representatividade, e por levantar bandeiras, seria muito interessante. Acho que nesses momentos eles ainda se sentem bem acuados. Eles sentem medo de dizer, mas talvez em alguns anos a gente veja isso acontecer aqui no Brasil. Eu acho que a reação não vai ser boa a princípio, mas quem fizer isso vai ter que ter consciência, de que será o pioneiro nessa causa, e é importante não voltar atrás e manter esse posicionamento até que a torcida entenda o quanto isso é importante”. 

 

A venda de “BICHA! Homofobia estrutural no futebol" acontece a partir de uma pré-venda online. Os leitores que comprarem devem estar recebendo seus exemplares daqui a duas semanas. João pretende lançar junto com a editora Primeiro Lugar uma segunda tiragem do livro, mas isso irá depender de como serão as vendas deste primeiro lançamento.