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Marca Bahia Notícias

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Autores baianos exploram Salvador futurista e realidades alternativas em nova novela gráfica

Por Jamile Amine

Autores baianos exploram Salvador futurista e realidades alternativas em nova novela gráfica
Foto: Divulgação / Amine Barbuda

Nos últimos anos, obras como o metrô e o BRT têm mudado a paisagem da capital baiana. Se na Salvador real estes equipamentos têm impactado fortemente no espaço urbano, na cidade futurista da novela gráfica “-13, -38: amanhã de novo” as transformações são ainda maiores. No livro, a sociedade convive entre o antigo e o novo, entre paisagens clássicas, como o Centro Histórico, e construções futuristas, como sólidos de imersão, onde as pessoas podem mergulhar em dimensões alternativas.

 

Escrita por Igor de Albuquerque e ilustrada por Amine Barbuda, a história em quadrinhos baiana é uma espécie de “ficção filosófica especulativa” e se passa no futuro imaginado pelos autores. “Eu sou escritor, escrevo críticas, ensaios e ficção também, e ela [Amine] como urbanista, arquiteta e artista visual tem muitas ideias sobre o que é a cidade. O livro fala muito sobre a cidade de Salvador, que é uma temática muito cara tanto a mim quanto a ela. E nos desdobramentos, o que a tecnologia vai causar no futuro, em como a cidade vai ficar”, explica Igor sobre a motivação para a obra, que foi financiada pela Fundação Gregório de Mattos, através do edital Gregórios 2018.

 

O enredo remonta 24h de um dia comum na vida da protagonista, Clarissa Huang, uma mestiça sino-afro-brasileira, que trabalha com a poesia do século XVII e lida com temas como o impacto das tecnologias no futuro da humanidade, o impasse filosófico das realidades virtuais e as reconfigurações da história e das artes. “O pai dela é um negro soteropolitano e a mãe é uma chinesa. No futuro a gente projeta essa mescla já um pouco mais intensa entre os chineses e a população afro-brasileira. Os chineses são um pouco fechados ainda, mas a gente projetou aí imaginativamente uma forte influência chinesa”, situa o autor. “Ela trabalha no Centro Histórico, tem um trabalho que é meio misterioso, a gente não sabe muito bem, e no final a gente vai ver o que é”, conta Albuquerque, apontando como grande desafio tornar essa narrativa do cotidiano uma história natural e fluida, cujo desfecho se dá com um epílogo, após as 24h. “Alguns dias na frente acontece alguma coisa ali, que enfim, é a surpresa do livro e ele se fecha”, diz Igor.

 


Obra mescla paisagens urbanas clássicas de Salvador com recursos de ficção científica para remontar uma cidade do futuro | Foto: Divulgação / Amine Barbuda

 

A obra é intrigante, mas o leitor que espera aventuras eletrizantes, histórias de amor, reviravoltas ou pirotecnias comuns na ficção pode ficar decepcionado. Não é esta a tônica do livro de 64 páginas, escrito em nove meses, após inúmeros encontros entre os autores e também de muitos momentos de solidão de cada profissional para compor separadamente texto e ilustrações. “O enredo é muito mais disperso do que de fatos, etc.. É uma coisa mais alusiva que mostra esse cotidiano funcionando...”, explica Albuquerque, destacando que a ideia é, na verdade, narrar como seria a Salvador e as pessoas que habitam a cidade em um futuro. “O interessante do nosso livro é que é uma ficção científica, que é um gênero que tem várias possibilidades, muitas delas com ação, mas o nosso livro começa e termina sem derramar uma gota de sangue. Não tem armas laser, não tem espadas, nem muita coisa assim, não, é uma coisa mais sóbria, ligada ao cotidiano mesmo”, avalia.

 

O escritor explica ainda que a obra não privilegia uma visão otimista ou pessimista. “Não foi pensado nem como uma utopia, isto é, uma imagem otimista do futuro, uma sociedade perfeita e tal. E nem como uma distopia, que é quando a sociedade deu errado, uma ditadura implantada a la ‘1984’, ‘Blade Hunter’, todos esses filmes e roteiros mais ligados a uma ideia pessimistas do futuro”, diz Igor. “Em termos gerais, a gente não é otimista e nem pessimista do que vem lá pra frente, a gente vê várias modificações, mas um cotidiano acontecendo de uma maneira mais ou menos funcional”, pontua.

 


Passado, presente e futuro se encontram em “-13, -38: amanhã de novo” | Foto: Divulgação / Amine Barbuda

 

Para mostrar a fluidez desta Salvador ficcional, a graphic novel mostra alguns pontos bastante conhecidos da cidade de maneira simbiótica com elementos futuristas. “A ideia visual da qual a gente partiu não foi fazer uma nova cidade, mas fazer uma cidade modificada a partir do que já tem, em termos de estruturas físicas, arquitetônicas, etc..”, conta o autor, dando como exemplo o início do livro, que mostra a Igreja do Rosário dos Pretos e as ladeiras do Pelourinho e do Carmo. “Dentro dessa vista clássica de Salvador você vê várias construções dialogando com outras estruturas mais modernas que Amine pensou do que seria esse futuro”, situa Igor. “Mais na frente também tem um sólido de imersão, que é um conceito que a gente inventou, que é o lugar onde as pessoas ficam pra fazer imersões em dimensões alternativas por mais tempo. E ele funciona exatamente no Convento do Carmo. Ele está lá, mas é um Convento do Carmo modificado, com estruturas hexagonais”, descreve.

 

No final do livro, presente, passado e futuro se mesclam ainda mais profundamente. “Tem uma cena que se passa numa realidade aumentada, quer dizer, numa realidade criada, porque a personagem principal está fazendo uma aula de história e poesia no Centro Histórico de Salvador, no século XVII, da época de Gregório de Mattos”, revela Albuquerque.

 

A história completa poderá ser conferida pelo público a partir do dia 31 de agosto, quando acontece o lançamento de “-13, -38: amanhã de novo”, no Espaço Coaty, que também está representado nas ilustrações do livro.