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Com sincretismo, trabalho e momentos íntimos, 'Fevereiros' mostra 'faísca divina' de Bethânia

Por Lara Teixeira

Com sincretismo, trabalho e momentos íntimos, 'Fevereiros' mostra 'faísca divina' de Bethânia
Foto: Divulgação

Sincretismo, música e Carnaval são três palavras que podem definir bem o que "Fevereiros" tem para mostrar ao público. 

 

O documentário de Marcio Debellian sobre Maria Bethânia, que conquistou o prêmio de melhor filme do 10º IN-Edit Brasil, estreou nesta quinta-feira (31) e reúne histórias que levaram a cantora baiana a ser homenageada pela escola de samba Estação Primeira de Mangueira, no vitorioso desfile, em 2016, no Rio de Janeiro.

 

O diretor, que também trabalhou com a artista no documentário “O Vento Lá Fora” (2014), disse ao Bahia Notícias que o fato da religião ter ganhado destaque no longa foi por causa do "caminho que a Mangueira escolheu para homenagear Bethânia". "A escola poderia escolher várias formas de homenageá-la, e decidiu por 'Maria Bethânia: A Menina dos Olhos de Oyá', no caso, Iansã, o orixá de frente dela, então a Mangueira já deu um recorte de sincretismo", conta Debellian. 

 

Para conseguir explicar no documentário o motivo da escolha da agremiação, Marcio viajou para Santo Amaro, município do Recôncavo Baiano, para entender a relação de afeto de Bethânia com o catolicismo e com o candomblé. Entre cenas de apresentações musicais, procissões e depoimentos, a cantora revela que nunca passou a data 2 de fevereiro em Salvador, celebrando Iemanjá, pois no mesmo dia comemora-se em Santo Amaro o dia de Nossa Senhora da Purificação, Santa da qual a artista é devota, além de Santa Bárbara.

 


Foto: Divulgação 

 

"O filme é uma via de mão dupla, porque a Mangueira dá uma partida, faz o enredo, e eu vou em Santo Amaro entender o que inspirou o enredo. Nessa triangulação entre Rio e Santo Amaro e meu olhar para todas as coisas, o filme destaca muito a festa de fevereiro em Santo Amaro e os rituais religiosos que a cidade tem. Além disso, mostra que as pessoas do candomblé convivem muito bem com as pessoas da igreja católica. A fé está muito ligada à festa, à alegria, então isso ficou muito forte no filme. Eu acho que o Recôncavo tem isso muito forte", declara o diretor. 

 

O documentário é repleto de momentos íntimos, mas Debellian garante que toda aproximação que existiu com Maria Bethânia durante filme foi "muito cuidadosa e respeitosa". O diretor explica quais foram as suas percepções em dois momentos que ganham destaque em "Fevereiros": "Eu tinha em mente que ela estava ali num carnaval (durante o desfile da Mangueira), sendo homenageada, que ela tinha que se divertir com aquele momento. Eu tinha em mente que ela estava em uma procissão, enfeitando a santa de proteção dela, carregando o andor de Nossa Senhora, momentos muito íntimos. E eu queria respeitar isso". 

 

"O filme tem uma intimidade, mas ele não é invasivo. A gente tentou ao máximo fazer uma filmagem que não fosse chata para ela, que ela pudesse esquecer que a gente estava ali. E os depoimentos dela vão nesse caminho também, de um respeito, de uma delicadeza. Bethânia nunca me pediu para não entrar em nenhum assunto, e quando ela assistiu o filme, não me pediu para tirar ou mudar nada, foi tudo tranquilo", completa Marcio. 

 

Além de histórias contadas por Maria Bethânia, o longa-metragem conta com os depoimentos do artista Caetano Veloso e a poeta Mabel Velloso, irmãos da cantora. E também de personalidades como o cantor Chico Buarque, o figurinista e carnavalesco da Mangueira, Leandro Vieira, e o historiador Luiz Antonio Simas. Marcio Debellian contou que essas entrevistas aconteceram após ele ter realizado a decupagem das filmagens e entender o que "queria construir" no documentário.

 

 

 

O nome do filme-documentário, "Fevereiros", foi escolhido no último dia de filmagem em Santo Amaro, após o diretor entrevistar Bethânia e participar da procissão de Nossa Senhora da Purificação. "Quando eu fui andar pela cidade surgiu esse nome na minha cabeça. E eu acho um nome muito bonito, porque fevereiro é um mês em que a gente se dedica muito à alegria. 'Fevereiros' no plural porque tem a questão do tempo, da tradição, do que se repete e não é igual. Todo ano tem Carnaval em fevereiro, todo ano tem festa da purificação em fevereiro, então acho que dá uma coisa atemporal, de tradição, e tem essa coisa de ser um mês em que a gente se dedica muito à alegria", explica Marcio. 

 

Questionado sobre qual é o axé que ele percebeu em Bethânia, durante as gravações do filme, que a faz ser prestigiada por grandes nomes da música brasileira ao interpretar diversas canções, Debellian respondeu: "A Bethânia tem uma faísca divina, tem um dom, essa faísca de encantar, de ter esse encantamento no palco. Eu acho que existe essa faísca divina que a protege e a ilumina. Mas eu acho que não é só isso, tem muito trabalho também. Bethânia é muito séria no trabalho dela. Para mim, uma pessoa não chega nessa altura de 50 e tantos anos de carreira com esse prestígio, esse amor do público, somente com uma faísca divina. Ela é seríssima com o trabalho dela, é rigorosa com as escolhas dela, é cuidadosa com o ofício dela, faz tudo com amor e verdade. Então acho que essa é a receita".