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Reaberta após 20 anos, Igreja do Passo ganhará memorial do ‘Pagador de Promessas’

Por Jamile Amine

Reaberta após 20 anos, Igreja do Passo ganhará memorial do ‘Pagador de Promessas’
Foto: Mateus Morbeck / Divulgação

Fechada há cerca duas décadas, a igreja do Santíssimo Sacramento da Rua do Passo, cujas escadarias ganharam o mundo através das telas de cinema no clássico “O Pagador de Promessas”, reabrirá as portas na próxima segunda-feira (5), após três anos de reformas. Construído em 1736, tombado como patrimônio histórico desde 1938 e localizado entre o Pelourinho e o Santo Antônio Além do Carmo, em Salvador, o templo foi totalmente restaurado por meio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), com um investimento de R$11,3 milhões do Governo Federal, no âmbito do PAC Cidades Históricas. “Os principais problemas eram relacionados à deterioração dos bens integrados, quadros, imagens, altares, além de problemas estruturais sérios”, revelou o superintendente do Iphan na Bahia, Bruno Tavares. “Ela está localizada próximo à encosta e apresentava uma rachadura que ia de um lado a outro, então nós fizemos um trabalho de consolidação estrutural para evitar que uma parte da igreja ruísse com o passar do tempo”, acrescentou, lembrando que em alguns lugares as fendas chegavam aos dois centímetros de espaçamento e que a equipe precisou fazer uma investigação minuciosa para identificar as causas dos problemas estruturais.


Diante do grau de deterioração, foi preciso começar a trabalhar pelos alicerces do imóvel. “Fizemos uma cortina atirantada, foram colocados 22 tirantes na base da igreja que está voltada para a encosta, e aí fizemos o trabalho de consolidação estrutural do restante, de costura, digamos assim, das alvenarias e das paredes. Mas basicamente foi a restauração completa da igreja”, explicou o superintendente do Iphan. Além da estrutura, que foi a principal preocupação durante a reforma, Bruno Tavares conta que problemas de conservação também foram solucionados, a exemplo da recuperação de toda a parte em madeira, além da pintura, douramento e azulejos. “Imagine você uma igreja que fica 20 anos fechada, o que a gente encontrou lá...”, ponderou o dirigente do Iphan. Não é preciso muita criatividade para prever os estragos ocasionados pelo tempo e a falta de uso, mas Tavares relata alguns deles: cupins, madeira deteriorada, azulejos sofrendo com salinidade e humidade. “A gente costuma dizer o seguinte: o uso está diretamente ligado à conservação do edifício. Porque no dia a dia, se você percebe sujeira, um probleminha de um azulejo faltando, ou algum outro problema, você recupera de imediato. Pelo menos, na medida do possível você faz a conservação”, explica. “Na medida que o monumento fica fechado, pela falta de capacidade de efetuar essa manutenção, o problema só piora. Porque se acumula sujeira, a humidade é um problema também, principalmente para a madeira. Se você tem uma telha não trocada, você pode ter um gotejamento sobre a madeira, que fica suscetível a um ataque de cupim, então é toda uma cadeia de acontecimentos que resulta da falta de uso e do fechamento, que pode levar o monumento à ruina”, avalia Tavares. 

 

 

Veja algumas imagens da igreja antes das obras:

Igreja do Passo - Antes de Restauro


O processo de deterioração da Igreja do Passo começou em 1998.  “Houve o arruinamento de um elemento da capela-mor, que é um coroamento do altar que chamam de baldaquino. Esse elemento em madeira ruiu e provocou um dano considerável ao altar-mor. Foi um incidente que levou ao fechamento definitivo da igreja”, lembra Bruno Tavares. A interdição definitiva aconteceu em 2006, por indicação do Iphan, do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural do Estado da Bahia (Ipac) e da Defesa Civil. “Havia de fato um risco, houve uma série de inspeções que resultaram nessa recomendação de fechamento”, acrescentou. Para reverter tal quadro, cerca de 80 pessoas de diversas áreas integraram uma equipe multidisciplinar, que incluiu profissionais de áreas como construção civil, carpintaria, marcenaria, engenharia, especialistas e consultores em restauro de pinturas, azulejaria, imagens e arte sacra. “O campo do restauro não é apenas a restauração em si, envolve uma série de disciplinas que têm que trabalhar de forma integrada”, contextualiza Tavares. 


O superintendente lembra também que, mesmo interditado, o monumento histórico seguiu na memória de baianos e turistas. “A Igreja do Passo é bem emblemática, apesar do fechamento o uso no entorno continuou ocorrendo. Um exemplo disso era a utilização da escadaria, numa espécie de resistência. Era utilizada para realizar alguns eventos, Gerônimo usava aquele espaço para pequenos shows. Isso que, de certa forma, trazia as pessoas. Então ela foi fechada, mas não foi esquecida. Inclusive porque ela está na memória das pessoas pelo fato de ser conhecida no mundo inteiro como a Igreja do Pagador de Promessas por conta do filme que ganhou a Palma de Ouro no festival de Cannes”, afirma, destacando ainda que a importância de devolver o espaço à sociedade está não só pela possibilidade de dar continuidade aos atos ecumênicos, mas também porque ali funcionará um espaço aberto para a comunidade.

 

Confira imagens da Igreja do Passo após restauração:

Igreja do Passo - Após Restauro


De acordo com Bruno Tavares, existe uma preocupação do Iphan sobre a sustentabilidade dos monumentos restaurados, sobretudo as igrejas, para que eles se mantenham no transcorrer do tempo e não necessitem de novos investimentos para restauração a curto prazo. “A gente tem discutido com a irmandade que é responsável pelo monumento, assim como a arquidiocese também, para trazer diversos usos para a igreja além da realização das missas”, conta o superintendente do Iphan, revelando que após a reabertura oficial o espaço ganhará um memorial do filme “O Pagador de Promessas”, construído pela Fraternidade Samaritana Beneditina, responsável pela igreja. Ele revela ainda que é planejado para o local a implantação de um café colonial com vista para a Baía de Todos-os-Santos e também uma escola de restauro, com o apoio do Iphan e do Ipac.