Oliver Jack, dois em um
Por Jamil Moreira Castro
Para quem não conhece, Márcio Santos e Oliver Jack são a mesma pessoa. Se a festa tem um destes nomes no line up dos DJs, tenha certeza de que a pista vai estar fervida a noite inteira. Oliver Jack é o nome artístico do DJ baiano com uma trajetória que se confunde com a história da cena house de Salvador. Esta é a principal razão pela qual o escolhemos para fazer um balanço do movimento da música eletrônica por aqui. Um dos DJs mais requisitados da cidade, Márcio revela que falta mais empresários para investir na noite, revela os segredos para deixar a pista lotada e fala do seu curso, que vem revelando uma nova geração de DJs.
JMC - Como vai a cena eletrônica em Salvador?
MS - Continua num efeito sanfona, feita de altos e baixos. Eu sonho com a estabilização desse cenário.
JMC – Há anos a Off Club vem sendo o melhor programa da noite GLS na cidade. Surgiram até alguns concorrentes e não deram certo. O que está faltando para mudar este cenário?
MS - Olha, no dia que surgir um empresário que coloque num club todo o amor, suor e dedicação que a Márcia Franco coloca na Off, talvez surjam outras opções à altura. Até então ela detém a hegemonia, merecidamente. As pessoas às vezes se propõem a investir na cena GLS apenas de olho no “pink money”, e acabamos por nos submeter a verdadeiros “mafuás”, como aconteceu recentemente numa casa onde fui convidado pra tocar, que mau abriu e já fechou, dada a insatisfação do público com o atendimento. Márcia investe caro em perfeccionismo.
JMC – Há também poucas boates em Salvador e sabemos que os baianos gostam de dançar. Será que o axé atrapalha a cidade não ter uma noite forte em pistas?
MS - Sinceramente, eu acredito que o mercado de música eletrônica na Bahia deveria se inspirar no profissionalismo e na indústria que é o axé. Não acredito que o axé atrapalhe, não. Pelo contrário, se a cena eletrônica se organizar e se profissionalizar, a indústria axé pode vir a ser uma aliada, haja visto que para o público leigo, as ações mais lembradas dentro da seara eletrônica foram iniciativas da turma do axé (a exemplo de blocos com DJs).
JMC – E as festas? Temos público para lotar festas com capacidade para centenas de pessoas?
MS - Infelizmente, não. Salvador ainda não tem público fiel suficiente para, por exemplo, abrigar uma filial da The Week. O que se vê, pra quem é militante da cena, é que o público fixo interessado em música eletrônica, que sai todo fim de semana pra dançar ao som de DJs, não passa da casa de 1.000 a 1.500 pessoas.
JMC – Existe segredo para manter uma pista lotada?
MS - O DJ é um misto de artista, pesquisador, produtor, formador de opinião e manipulador de emoções coletivas. Pra manter uma pista lotada, fervendo, hoje em dia, é preciso ter um pouco de cada uma dessas características pra que você consiga se destacar sem ser óbvio.
JMC - Qual o tipo e música que o baiano não gosta? Aquela que deixa a pista vazia?
MS - Olha, nas pistas onde eu toco as pessoas gostam de música com alma, balanço, percussão e melodia. Tem que ter o famoso groove. Daí, cada pista pede uma pegada diferente, e você conhece um bom DJ quando ele consegue agradar vários tipos de público sem perder a identidade.
JMC - Como se forma um bom DJ? Você destacaria alguém que fez o seu curso?
MS - Olha, no início, quando está aprendendo, o DJ precisa ter duas características principais: paciência e amor à música. Daí se após o curso você consegue juntar carisma, técnica e bons contatos, você vai ter meio caminho andado. Dos que foram meus alunos posso destacar a ótima Anne Louise, que já é uma top na cidade, e os novatos Liv e Ale Urpia, que estão vindo muito bem também.
JMC - Você já tem seu set para o Inverno?
MS – Sim, no inverno eu costumo adotar outro tipo de set, menos alegre e mais elegante. Daqueles pra dançar fazendo carão com cachecol no pescoço. Mas, como eu disse antes, tudo depende da pista.
JMC – Qual o DJ que você mais admira?
MS - Olha, DJs maestros são grande fonte de inspiração pra mim. Maestro é uma gíria pra o DJ que sabe conduzir as emoções de uma pista e mantê-la interessada por horas e horas a fio. Eu venho de uma época em que o DJ tocava sozinho a noite toda, então me acostumei aos long-sets, que podem durar até 7 horas. Dentro dessa seara sou fã de DJs como MauMau e Felipe Venâncio no Brasil, e Danny Tenaglia e Carl Cox no exterior. Tive sorte de ficar amigo do Venâncio, e confesso que já aprendi muito com ele.
JMC – Dá para viver só com a profissão de DJ?
MS - Olha, eu vivo, mas devo advertir quem está começando de que é bem difícil. Precisa ter muita vontade de vencer na profissão e certeza de que vai dar certo na carreira. E algum suporte financeiro para aguentar os primeiros tombos. Mas, o ideal hoje é ter uma profissão paralela. Confesso que fui um louco apostando nisso lá atrás. Eu consegui, mas tenho dezenas de amigos que desistiram pelo caminho.