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Marca Bahia Notícias

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Lázaro Ramos vive ‘vendedor de passados’ em filme que estreia nesta quinta

Por Jamile Amine

Lázaro Ramos vive ‘vendedor de passados’ em filme que estreia nesta quinta
Lázaro Ramos e diretor Lula Buarque de Hollanda /Foto: Divulgação
O baiano Lázaro Ramos foi a primeira e única opção do diretor Lula Buarque de Hollanda para protagonizar o longa-metragem “O Vendedor de Passados”, adaptação do livro homônimo do angolano José Eduardo Agualusa, que estreia no Brasil nesta quinta-feira (21). No filme, Lázaro vive Vicente, um jovem que ganha a vida criando e vendendo passados para pessoas que desejam modificar suas histórias. Sua vida dá uma guinada quando conhece Clara, uma bela e enigmática cliente, interpretada por Alinne Moraes. Em princípio, o ator achou estranho o convite para o papel, já que na obra original o personagem é albino, mas depois entendeu a proposta de Lula de Hollanda e se envolveu completamente no projeto. “Eu falei ‘mas Lula, o personagem no livro é albino, você vai me chamar por quê? ’. Eu já conhecia e adorava o livro, mas se fosse para ser daquelas adaptações que tentam fazer exatamente o livro, as descrições do personagem não eram as minhas. Mas aí ele falou, ‘não, eu acho que a sua escalação é acertada porque eu acho que a gente tem que fazer o nosso vendedor de passados. A gente tem que pegar esse personagem e esse tema e contar nossa história’. Eu achei depois que era uma escolha sábia, porque esse livro, essa história e esse tema realmente potencializam várias visões. E o livro tem algumas características que são muito regionais. É um livro que se passa em Angola, tem um narrador bem especifico, e que para transpor para o cinema seria difícil. Eu acho que a gente acabou fazendo um filme que fala de temas muito pertinentes para o hoje em dia, para nossa realidade”, lembra Lázaro.
 

Lázaro Ramos é Vicente, um jovem que vende passados e vê sua vida estremecer ao conhecer Clara, interpretada por Alinne Moraes / Foto: Divulgação 
 
Este homem vendedor de passados intrigou o diretor, que pensou que a história, originalmente vivida em Angola, poderia acontecer em qualquer país. “Achei o personagem muito original, ele poderia ser no Japão, nos Estados Unidos, e aí o que eu propus ao autor foi trazer esse personagem para o Rio de Janeiro. Ele gostou da ideia e a partir daí se desenvolveu o roteiro”, conta Lula de Hollanda, sobre o processo de concepção do filme. “Na verdade, o personagem tem algumas coisas autobiográficas. Assim, eu sou carioca, nasci no Rio de Janeiro. E eu queria trazer umas questões também do homem contemporâneo na parte de sentimentos, por exemplo, porque um carioca de 30 anos, bonito, vai se apaixonar e querer se envolver com alguma pessoa? Então, até o momento que aparece essa cliente para o Vicente, que é uma pessoa que pede para ele criar um passado do nada, uma mulher belíssima que Alinne Moraes interpreta, a vida dele está na boa, depois que aparece esse elemento desestabilizador”, explica Lula, acrescentando que, no primeiro momento, ele e Agualusa pensaram juntos quem poderia precisar de passados no Brasil. Ele sugeriu o tema da cirurgia plástica. Tem até um personagem que é inspirado nisso, que é o médico, porque o Brasil é campeão de cirurgia plástica e você fazer essas cirurgias é uma forma de mudar o seu passado também. E aí a gente inventou outras coisas”, conta.

Confira o trailer de "O Vendedor de Passados"

 
Após o processo de concepção da ideia, a parceria com Lázaro Ramos se consolidou. “Eu sou fã do trabalho dele. Foi um prazer enorme trabalhar com Lázaro, ele entrou de corpo e alma no desenvolvimento do projeto, que acho que é a etapa mais importante no amadurecimento do roteiro. A gente ficou um mês ensaiando, todas as frases foram repensadas. Então foi uma grande ajuda, ele acabou como produtor executivo também do filme, participou de muitas decisões e está sendo fundamental no lançamento”, diz Lula sobre a união com o ator baiano, que pretende cada vez mais investir e se envolver com o que se passa atrás das câmeras. Este movimento tem sido evidenciado nos projetos atuais de Lázaro, que, pelo “desejo de aprender a entender a indústria do cinema brasileiro”, participa como produtor associado. “Acho que tem muita coisa para aprender, principalmente porque quero passar para trás das câmeras. Então eu estou lá, em cada filme eu participei de um jeito diferente. Alguns eu participei convencendo atores, outros indo atrás de recurso, captação financeira, os formatos foram bem variados. Neste, além de ter carga horaria um pouco maior do que tinha nos outros filmes, participei no processo de discussão de roteiro, de indicação de algumas empresas para procurar captação, na relação política com alguns membros da equipe. Foi muito variado, e algumas coisas era só estar perto para entender e dar um ‘pitaquinho’”, conta Lázaro, que, de fato, deu muitos palpites e ajudou a conduzir a história através de reflexões sobre a relação entre as pessoas e o tempo.
 

Como produtor associado, Lázaro Ramos participou de todo processo do filme / Foto: Reprodução
 
No filme, o passado é traduzido como o conjunto de histórias que as pessoas vivem ou acreditam ter vivido. Neste contexto, para Lázaro, existem vários indícios de que o trabalho de seu personagem, o vendedor de passados, é um serviço realmente é possível a partir do desejo de pessoas comuns. “Sabe que eu acho que é possível? [criar um novo passado] Apesar dos mecanismos de você desvendar um mistério, de localizar documentações falsas, acho que ainda é possível. Há pouquíssimo tempo teve uma menina que passou 30 dias no quarto dela, e, somente através das redes sociais, convenceu a família inteira, os amigos e os seguidores, de que estava na Tailândia, só com Photoshop e mudando umas coisas atrás, na casa dela”, lembra o ator baiano, acrescentando que “existem pessoas que criam perfis falsos, que têm esse perfil durante 10 anos e que ficam ali vivendo uma outra vida, que ninguém nem sabe quem é essa pessoa. Que fala coisas, vende coisas, se mostrando ser outra pessoa que ela não é, mas independente dessa verossimilhança, dessa possibilidade, ou não, eu acho que tem uma coisa que o filme traz, que é a insatisfação com a passagem do tempo, com quem nós somos, com a nossa história, ou com a nossa identidade. A insatisfação com a passagem do tempo, se você for pensar, as cirurgias estéticas, a quantidade que a gente tem aqui no nosso brasil é gigante. Então essa insatisfação com a passagem do tempo está toda hora aí. Foi essa a inquietação do personagem, com a insatisfação com o tempo. E tem uma pergunta que hoje em dia, a cada hora que passa, é mais feita. ‘Onde é que mora a verdade? Como é que você acessa informação de qualidade? Hoje em dia que você tem um monte de blog, um monte de site, a imprensa oficial, qual é a versão que é a mais fiel à realidade? Então nosso tema é esse”, explica Lázaro, convidando o público para uma reflexão.