Inteligência Artificial: a revolução na saúde suplementar passa por mais eficiência operacional
A opinião não é confortável, mas factual: no curto prazo, a maior revolução da IA na saúde suplementar não virá do uso clínico. Virá da eficiência.
Enquanto a discussão pública segue fascinada por diagnósticos automatizados e algoritmos preditivos, o que é extremamente importante, nota-se que o impacto a curto prazo — mensurável, hoje — está na redução de desperdício, na automatização de atividades meio e no controle de fraudes. É nessa agenda “pouco glamourosa” que está o dinheiro que financia a sustentabilidade assistencial.
E o mercado dá sinais claros de que essa eficiência deixou de ser opcional. Em apenas um ano, as despesas administrativas, comerciais e operacionais do setor saltaram de R$ 62 bilhões para R$ 68,6 bilhões, segundo a ANS. Crescimento acima de 10%.
Esse é o gargalo estrutural — e é aqui que IA já entrega ROI imediato.
Na prática, a automatização inteligente de autorizações, análises de contas e controles administrativos já reduz retrabalho, padroniza decisões e libera equipes para outras funções, como olhar para linhas de cuidado e outras questões clínicas. Em um projeto real, em uma autogestão com 500 mil vidas, 95,1% dos pedidos de consultas, exames e internações foram automatizados, com 9 milhões de solicitações processadas apenas no primeiro semestre de 2024. Ou seja, não é uma promessa, mas sim execução combinada de automação, regras e uso de IA.
Ao mesmo tempo, a agenda antifraude tem impacto direto na margem. O Instituto de Estudos da Saúde Suplementar (IESS) estima R$ 34 bilhões em perdas por fraudes em 2022. O reconhecimento facial para autenticação de beneficiários, por exemplo, já reduz “empréstimo de carteirinhas” — e esse é o tipo de medida que equilibra resultado sem cortar acesso nem qualidade assistencial.
Sim: ferramentas de IA vão diagnosticar antes, prever risco com mais precisão e transformar o cuidado. Mas esse ciclo tem maturidade, segurança regulatória e curva de validação científica mais longas.
O que é inevitável – desde já - é eficiência. A pergunta estratégica de curto prazo para gestores não é “quando a IA vai substituir médicos?”.
É: “quando vamos substituir processos ruins?”
Essa primeira disrupção já está acontecendo. Quem tratá-la apenas como modernização tecnológica vai perder timing. Ela é - claramente - estratégia de negócio.
*André Machado é CEO da Maida Health
*Os artigos reproduzidos neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do Bahia Notícias
