IA não é muleta: é o novo sistema operacional
Eu trabalho escrevendo.
E como redator publicitário, produzo facilmente 70 a 80 páginas de texto por semana (somando rascunhos, ideias, roteiros e versões finais).
Por isso, digo com orgulho: uso o ChatGPT todos os dias no meu trabalho.
E eu não estou sozinho. No momento em que escrevo este artigo, aproximadamente 100 milhões de pessoas estão usando a mesma ferramenta em paralelo. São 700 milhões de usuários ativos mensais e 18 bilhões de mensagens por semana. É uma escala global, não hype.
Isso não é só impressão pessoal: o estudo How People Use ChatGPT, publicado pela OpenAI em parceria com pesquisadores da Duke e de Harvard (NBER, 2025), analisou milhões de interações de usuários em escala global. É a pesquisa mais ampla já realizada sobre o tema e mostrou em detalhes como o ChatGPT já está enraizado em nosso cotidiano.
Então, se você sente vergonha de usar IA ou se acha um profissional melhor por não usar, tenho uma má notícia: você não está só enganado como está ficando para trás. É a mesma ingenuidade de quem rejeitou o processador de texto nos anos 90 ou a web nos anos 2000. É você querer ser uma locadora de VHS e concorrer com a Netflix.
Como eu uso IA
Meu uso de IA não é esporádico, é estrutural. No meu workflow, organizo janelas de contexto com briefings completos, referências e tom de voz. Uso workspaces no ChatGPT para separar clientes e tarefas. Trabalho com a Lousa, meu quadro de desdobramentos criativos, títulos, peças e roteiros. Tudo em linguagem natural, sem engenharia de prompt, cobrando da IA um racional, como se fosse minha dupla criativa. É o que chamo de vibe working: criar em fluxo com a IA, numa troca contínua que mantém o ritmo e a energia do processo criativo.
Sem nem falar de como ganho tempo com tarefas do dia a dia: desde a transcrição de reuniões, sumário de áudio e vídeo, à organização de informações, revisões rápidas e pesquisas inteligentes. É a IA como buscador, com contexto, nuance e adaptação.
Não há nada de “muleta” nisso. Há estratégia. A criatividade sempre precisou de repertório, comparação, diversas iterações e muita edição. É aquela célebre frase atribuída a Thomas Edison: “Criatividade é 1% inspiração e 99% transpiração.” A IA só acelera esses quatro movimentos, ajudando justamente no esforço que faz a diferença. Recusar isso não protege a criatividade, a sufoca.
Como o mundo está usando
Esse movimento não é exclusivo da minha profissão. Médicos já usam IA para resumir prontuários, revisar exames e organizar informações clínicas, acelerando diagnósticos. Advogados recorrem à tecnologia para rascunhar petições, revisar contratos e organizar jurisprudência, eliminando horas de pesquisa repetitiva. Mesmo em um simples trabalho administrativo, como a produção de relatórios, apresentações e e-mails, podem (e devem) ser delegados (ou co-pilotados) em parte à IA, liberando tempo para análise e estratégia.
Mais de 40% das interações profissionais no ChatGPT envolvem revisar, reescrever ou traduzir textos. Dois terços disso não são textos novos, mas melhorias em rascunhos humanos. A Inteligência Artificial não substitui o autor: ela edita, amplia, dá nitidez e velocidade.
O medo mais comum é o da chamada “alucinação”, mas isso não deve ser visto como falha fatal; é exatamente nesse ponto que entra o olhar humano. A IA não é para fazer o trabalho no seu lugar, mas para fazer junto, validando e refinando.
Desapegue da falsa superioridade
Então, seja você entusiasta, crítico ou apenas um leitor deste artigo, saiba: a discussão já mudou. IA não é ferramenta, é um novo tipo de sistema operacional. Já está no centro da vida cotidiana e profissional. Democrática, transversal, inevitável.
E se ainda há alguma dúvida disso, basta ler a conclusão do Estudo da OpenAI: O maior ganho de produtividade não vem de automatizar tarefas, mas de melhorar a qualidade da decisão em trabalhos de alta intensidade cognitiva.
É nesse ponto que a IA se mostra indispensável, não como atalho, mas como amplificador da nossa capacidade de pensar melhor.
*Kim Nery é um criativo que transita entre publicidade, estratégia e empreendedorismo, com mais de dez anos de experiência, acredita que a criatividade é um ativo de negócio para empresas que buscam relevância e impacto na nova economia. Já colaborou com marcas nacionais e globais, empreendeu em diferentes setores e foi reconhecido por prêmios como Effie, AMPRO Globes e Colunistas
*Os artigos reproduzidos neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do Bahia Notícias