Medicina do Estilo de Vida: A Urgência de Ouvir o Corpo e Integrar Tratamentos
Vivemos em um tempo em que o ritmo acelerado e a sobrecarga de funções nos afastam de nós mesmos. A pressa e o excesso de informações criam uma desconexão silenciosa com o corpo e, quando percebemos, sinais que poderiam ter sido um aviso se transformam em diagnósticos tardios. O caso recente da cantora Preta Gil ilustra bem essa realidade: sintomas como constipação e sangramentos foram ignorados por meses até que se confirmasse um câncer colorretal. A história dela não é exceção. Muitas pessoas, sem perceber, acostumam-se a conviver com dores, azia, fadiga, alterações de humor ou ansiedade, tratando apenas sintomas, sem investigar a causa.
Em contrapartida, personalidades como o Rei Charles III recorrem a práticas de medicina integrativa para apoiar tratamentos convencionais. Ao ser diagnosticado com câncer, o monarca britânico incorporou recursos da Ayurveda, medicina tradicional indiana, para complementar a abordagem médica ocidental. Não se trata de abrir mão da ciência, mas de ampliar o olhar: somar estratégias que tratam o corpo, a mente e o espírito. Essa é a essência da medicina integrativa, que une o melhor dos avanços tecnológicos com o conhecimento ancestral, oferecendo suporte para reduzir efeitos colaterais, melhorar a qualidade de vida e, muitas vezes, potencializar a resposta ao tratamento.
Ao longo da minha carreira, com a maior parte dos anos dedicados à medicina do estilo de vida, percebi que a verdadeira revolução não está apenas em diagnosticar precocemente as doenças, mas em criar condições para que elas sequer se instalem. A epigenética comprova o que vemos diariamente no consultório: mais determinantes que os genes herdados são as escolhas que fazemos no dia a dia. A forma como nos alimentamos, dormimos, nos movimentamos e lidamos com o estresse pode ativar ou silenciar genes relacionados a enfermidades graves, como câncer, diabetes, doenças cardiovasculares e neurodegenerativas.
Isso não significa desconsiderar a medicina convencional, mas compreender que tratar a doença sem olhar para o estilo de vida é como enxugar gelo. Enquanto não mudamos o que alimenta o desequilíbrio, como hábitos ruins, alimentação ultra processada, privação de sono, sedentarismo e excesso de estresse, o tratamento será sempre paliativo. É urgente ressignificar essa lógica. Precisamos aprender a ouvir os sinais do corpo e educar a população para buscar ajuda antes que pequenos desconfortos evoluam para algo maior. A constipação que Preta Gil minimizou, o refluxo que muitos consideram normal, o cansaço constante que se mascara com café ou energéticos, são mensagens claras de que algo precisa mudar. Ignorá-las tem um custo alto.
Mudanças simples, como priorizar uma alimentação rica em frutas e hortaliças, zelar por um sono restaurador, hidratar-se adequadamente, praticar atividade física regular e cultivar momentos de calma e conexão, transformam vidas. Pacientes com Alzheimer em fase inicial, Parkinson, síndrome metabólica e até câncer têm respostas mais positivas quando combinam o tratamento tradicional com estratégias integrativas. Em muitos casos, há regressão dos sintomas ou redução significativa na necessidade de medicação.
Precisamos de uma nova consciência sobre saúde, que vá além de tratar doenças e nos ensine a cultivar vitalidade. O futuro da medicina não está apenas nos avanços tecnológicos, mas na nossa capacidade de unir ciência e sabedoria ancestral, prevenção e tratamento, razão e sensibilidade.
*Italo Almeida é neurologista e diretor técnico da Neuro Integrada, clínica especializada em Medicina Integrativa
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