Usamos cookies para personalizar e melhorar sua experiência em nosso site e aprimorar a oferta de anúncios para você. Visite nossa Política de Cookies para saber mais. Ao clicar em "aceitar" você concorda com o uso que fazemos dos cookies

Marca Bahia Notícias
Você está em:
/
Artigo

Artigo

A Banda da PM Precursora no Carnaval e nas Festas Populares

Por Nelson Cadena

A Banda da PM Precursora no Carnaval e nas Festas Populares
Foto: Acervo pessoal

No ano próximo, quando a Polícia Militar da Bahia celebra seu bicentenário, em 17 de fevereiro, por um dever de justiça, a Coordenação do Carnaval deve incluir o desfile da banda da PM, em alguns dos circuitos da folia, a pé, ou de preferência num pranchão, ou trio elétrico, para maior destaque; igual, na Festa do Bonfim onde a banda tem seu cordão umbilical: os acordes do hino do Maestro Wanderley, até hoje referência musical da Lavagem.

 

A banda deve desfilar em lugar de destaque, abrindo o desfile. Por uma questão de simbolismo. Ela precedeu o Carnaval, já animava a festa momesca antes do primeiro Carnaval oficial de Salvador, realizado pela primeira vez em 1884. Foi a banda da Polícia Militar quem animou blocos, pranchas de bonde, desfiles dos grandes clubes, coretos nos bairros e festas de salão, durante sete décadas pelo menos.

 

Criada em 1849, quando ainda se brincava o entrudo e a alternativa da rua era o Carnaval dos Teatros, São João e São Pedro de Alcântara, a banda da PM animava os bailes de mascarados desses espaços. Cinco anos antes de sua existência, o baile de mascarados da Associação Comercial, realizado em 17 de fevereiro, data referencial da origem da PM, Dona Maria Peçanha Martins, esposa do chefe da polícia, foi uma das integrantes da comissão de honra que recepcionou os convidados.  

 

Nos bailes de mascarados

Nos bailes dos teatros a banda interpretava quadrilhas, polcas, valsas e schottichs que os estudiosos dizem originou o xote. Em 1863, o maestro José Lourenço de Aragão, à frente de uma orquestra da corporação, interpretou no Carnaval “masque” do Teatro São João, a “Polca dos Beijos”. Tocou também mazurcas e quadrilhas e à meia noite, para exaltação dos convidados, a produção a postos com pistolas da verdade, interpretou “O Carnaval de Paris”, com sonoplastia delirante de tiros de pistola e estalos de chicote no chão.

 

Em 1879 no teatro São Pedro de Alcântara, na rua Carlos Gomes, os jornais noticiaram o baile de mascarados “com a muito aplaudida música da polícia...terminando com o galope infernal ligeireza”. O galope foi invenção dos franceses, inspiração do maestro Phillippe Mussard, baianos e cariocas o adotaram como o grand-finale dos bailes masque e se reinventou no século XX, com vários formatos, impulsionado pelo frevo baiano e o axé.

 

A banda da PM foi presença marcante nos bailes carnavalescos na residência do industrial Luiz Tarquinio, em ensaios de Carnaval onde eram repassados os hinos, dobrados e marchas que seriam interpretados no cortejo. E consta que em 1904, no umbral da casa de Theodoro Teixeira Gomes, “a banda do 2º corpo de polícia executou peças do esplendido repertório dos Fantoches”. Teixeira era então o presidente do clube carnavalesco. E, em 1905, os jornais divulgando a programação carnavalesca do Politeama, destacaram: “A estudiosa banda de música do 16º batalhão dará a nota principal devido ao esplêndido repertório de polcas e maxixes”. (o chamado tango brasileiro).

 

Presença certa nas festas populares

O Carnaval de rua, desde sua origem oficial, em 1884, dependeu das várias bandas da PM, contratadas pelos Fantoches da Euterpe e o Cruz Vermelha dentre outros grandes clubes, para a animação de seus desfiles. E, no carnaval de 1892 o carro principal do bloco Tutti-Frutti “Precedia-o a excelente banda do corpo militar da polícia que executou ótima coleção de marchas e dobrados que produziam grande entusiasmo”.

 

A banda era requerida também para animar as festas populares. A comissão organizadora do 2 de julho temporão de Brotas, uma das festas de bairro alusivas à data, requereu em 1873, do Presidente da Província: “Lhe conceda a música do Corpo Musical para acompanhar o carro que conduz o símbolo de nossa emancipação, do largo do Paranhos até o de Brotas e lhe conceda a guarda de honra do 5º batalhão para acompanhar o carro”. Referia-se à réplica do Carro do Caboclo. Na festa popular de 1º de novembro, uma das mais concorridas da cidade, celebrada nas escadas do Cais do Porto, a comissão organizadora requereu do presidente da província a banda militar para abrilhantar a festa de 1879.

 

A Banda da PM animava o cortejo da festa da Conceição da Praia todo ano e na festa do Bonfim, era presença certa nos coretos, aos sábados. E foi presença recorrente nas festas de Santo Amaro da Purificação, a mais animada festa de 2 de fevereiro realizada no interior, presente também na festa de Nossa Senhora de Candeias, na mesma data, e não tenho referências, mas acredito que também na festa de 2 de fevereiro de Nossa Senhora de Nazaré. Nos festejos de 2 de fevereiro de 1917, em Santo Amaro “Além das filarmônicas locais vieram abrilhantar a festa, a do 2º Corpo da Polícia e acompanhando passeantes as do 3º Corpo e a do esquadrão de Cavalaria”, registrou um jornal local.

 

Em 1924, rememorando as faustas festas Santamarenses, o cronista de “O Município” lembrou “algumas vezes era contratada uma banda da PM, outras cedida pelo governo do Estado. E, antes, A Tarde noticiou o burburinho das festas santamarenses: “Tocarão as bandas do 50 batalhão e do 2º Corpo da Polícia”. Domingo sobre a regência do Alferes José Antônio Wanderley e segunda feira do contramestre João do Espírito Santo do 1º batalhão do regimento policial.

 

As mais de uma banda da PM nas festas de Santo Amaro se justificavam pela presença, em alguns anos, do Presidente da Província e do Arcebispo Primaz. Santo Amaro era a cidade interiorana, que antes da abolição ostentava grande riqueza, os senhores de Engenho patrocinavam as festas, e as famílias santamarenses faziam parte da elite baiana. A elite de Salvador tinha raízes no município. A festa de Nossa Senhora da Purificação chegou a ser tão imponente, que passou a ser denominada pela mídia de “festa de 2 de fevereiro”, um nome genérico a ressaltar o seu esplendor.

 

*Nelson Cadena é escritor e jornalista

 

*Os artigos reproduzidos neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do Bahia Notícias