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Festa de Santa Luzia. A quituteira e o lava-olhos

Por Nelson Cadena

Festa de Santa Luzia. A quituteira e o lava-olhos
Foto: Acervo pessoal

Todo ano a famosa cozinheira e quituteira Maria de São Pedro, hoje homenageada com o nome de um dos restaurantes do andar superior do Mercado Modelo, montava uma barraquinha no largo da Igreja do Pilar, durante a festa de Santa Luzia, celebrada pelos baianos em 13 de dezembro, desde sabe-se lá quando, seguramente que século XIX.

 

Era a década de 1960 e a quituteira justificava a sua preferência pela festa com o argumento de o local ser mais tranquilo que o da Conceição da Praia, onde ocorriam alguns incidentes, brigas de cachaça e por outras motivações.

 

Não foi tão tranquila assim por muito tempo. Com o crescimento do comercio informal no entorno, que encurtava o espaço do samba-de-roda e a degradação do território da vizinhança, tornou-se uma festa violenta. Os baianos não devotos e o governo a abandonaram. A fé não esmoreceu e neste século voltou a ter protagonismo.

 

A água milagrosa de Santa Luzia, originada na nascente de água ao lado da igreja, fortaleceu a fé dos baianos que todo ano__ antes e hoje__ enfrentam enormes filas para colher o líquido e esfregar os olhos, na convicção de que cura as doenças dos olhos e as previne.

 

A festa, segundo o historiador Silva Campos, teria se originado no hoje Solar do Unhão, no pé de um manancial de água onde existiu um nicho com a imagem da Santa. O nicho ainda existe e a nascente igualmente, cercada por uma grade, hoje integrando uma das ruelas da comunidade do Solar do Unhão; sobreviveu às máquinas que passaram asfalto em cima da comunidade quando da construção da Avenida Contorno.

 

Em algum momento o culto foi transferido para a Igreja do Pilar o que gerou alguns equívocos da opinião pública, há quem chame até hoje a Igreja de Santa Luzia de Igreja do Pilar. Que tinha a sua própria celebração, em setembro. Santa Luzia chegou a ser celebrada na Catedral e na Igreja da Saúde, no século XIX. A procissão sempre ocorreu na cidade baixa, cabe diferenciar o culto à Santa, da Festa da Santa. Até porque é obvio que a Catedral e a igreja da Saúde não tinham nascente de água a justificar o lava-olhos. E Lavar com água benta, nem a santa aprovaria a desfeita.

 

A primeira quinzena de dezembro consolidou-se no calendário de festas populares da Bahia pelo protagonismo das mulheres, as do céu e as da terra. As do céu, na sua áurea sublime, representadas por Santa Bárbara, Nossa Senhora da Conceição da Praia e Santa Luzia, iluminando e inspirando o povo que tem fé, porque “a fé não costuma faiar” como nos lembrou Gilberto Gil.

 

*Nelson Cadena é escritor e jornalista

 

*Os artigos reproduzidos neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do Bahia Notícias