À Pata de Cavalos e Baionetas
No majestoso dia de 12 de novembro do ano de 1899, em uma manhã eleitoral na Bahia, as nuvens choraram incessantemente, como se o próprio céu previsse um épico confronto. Trovões ecoaram à noite, ecoando como presságio de um possível apocalipse iminente.
Na alvorada do dia seguinte, em 13 de novembro, como era costume pelas ruas do comércio, a política dominava as conversas. Governistas e oposicionistas travavam uma batalha ardente pela vitória, enquanto comerciantes insatisfeitos e empregados exaltados expressavam suas desilusões com fervor. O "Correio de Notícias" lançou um boletim proclamando o triunfo do governo, apenas para ser contrariado por outro boletim, que anunciava o sucesso da oposição. O ânimo do povo exaltado inflamou-se, e os boletins foram rasgados e lançados ao vento.
Diante da crescente agitação, o governo enviou praças de cavalaria para manter a ordem. Um trágico incidente ocorreu quando um dos cavalos atropelou um transeunte inocente. Protestos e conflitos eclodiram, e uma nova patrulha foi chamada, mas foi recebida com vaias. A população, agora enfurecida, lançou pedras contra os soldados. O conflito se intensificou, com pedras desafiando balas de mosquetão, deixando corpos sem vida espalhados pelo chão. A força policial efetuou inúmeras prisões.
Diante de tamanha violência perpetrada pelo governo, e com a honra do comércio manchada, os comerciantes exigiram a libertação de seus empregados e a retirada das baionetas das ruas comerciais. O comércio, em um ato de união sem precedentes, exigiu um pronunciamento da nobre Associação Comercial. Uma comissão de bravos comerciantes foi eleita para se dirigir ao imponente Palácio da Vitória. Contudo, foram recebidos com hostilidade e desdém.
Os comerciantes, em seu justo furor, proclamaram que enquanto um único empregado do comércio fosse privado de sua liberdade, eles se recusariam a abrir suas portas. Assim, mantiveram-se firmes por seis dias, como um muro inabalável em defesa de seus companheiros leais, os valorosos caixeiros, que eram a espinha dorsal do comércio.
Por anos a fio, o dia 13 de novembro foi reverenciado como um luto para o comércio. A Associação Comercial realizava solenes préstitos fúnebres até a Quinta dos Lázaros. Nessa data, a dignidade e a importância do comércio para a vida da sociedade baiana eram celebradas. Este dia, repleto de heroísmo e sacrifício, jamais pode ser esquecido.
*Zilan Costa e Silva é advogado especialista em direito internacional privado, direito marítimo e portuário
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