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Quo Vadis?

Por Zilan Costa e Silva

Quo Vadis?
Foto: Acervo pessoal

Estava Fukuyama certo quando disse, ao final da guerra fria, que a difusão das democracias liberais e do livre capitalismo de mercado sinalizariam o fim de evolução sociocultural da humanidade, o fim da história?

 

O fim da guerra fria e o período de unipolaridade que se seguiu parecia confirmar essa previsão. A expansão econômica, das ideias e valores ocidentais, da afirmada superioridade das democracias liberais acabou, por complexos caminhos, levando a OTAN às fronteiras da Rússia. A guerra da Ucrânia eclode. Como eclodiu a da Coréia e mostrou ao mundo a seriedade do que sinalizava Churchill desde o discurso da cortina de ferro nos Estados Unidos. Se hoje a unipolaridade já não é mais uma realidade, poderia eclodir a guerra da Ucrânia sem uma certa concordância da China?

 

Se estamos vivendo uma segunda guerra fria e a guerra da Ucrânia é a primeira guerra quente da segunda guerra fria como a da Coréia o foi da primeira - apesar de mais complexa em razão do teatro de operações europeu - será que teremos também uma crise dos misseis cubanos, agora envolvendo uma outra ilha e semicondutores? Repare-se que nesse caso a então posição de Kruschev é a atual dos Estados Unidos, de se ver obrigado a ter uma presença naval distante. A implementação derradeira da política de uma única China seria o coroamento da Carreira do líder Chines Ji Xinping. Apesar da má vontade do povo americano em lutar guerras no além-mar, a não defesa de Taiwan ou a derrota seria o Suez americano, podendo ainda provocar uma corrida ao dólar e títulos do tesouro americano.

 

No encontro anual do Parlamento Chinês, em março passado, o líder Chinês Xi Jinping disse que está se preparando para a guerra. Ao tempo que o governo anunciou um incremento de 7,2% no orçamento de defesa, que dobrou na última década e, ainda, um artigo publicado em um Jornal do Partido Comunista Chinês, com o título “sob a liderança de Xi Jinping pensamentos no fortalecimento das forças armadas, nós avançaremos vitoriosamente” que afirma sem meias palavras: “diante de guerras que possam nos ser impostas, nós precisamos falar com inimigos em uma linguagem que eles entendam e usar a vitória para ganhar paz e respeito”.

 

Como na guerra da Coréia, estamos, na Europa do século XXI, diante de uma guerra de atrito de longa duração que, pode no futuro, reproduzir o mesmo resultado: um armistício sem o fim claro do conflito. Enquanto isso, nesse cenário, pergunto se podem os Estados Unidos permitir uma vitória da Rússia nessa guerra? da mesma forma, pode a China permitir uma derrota? Podem os Estados Unidos, no contexto geral, suportar um conflito duradouro, que está usando o arsenal convencional de reserva do ocidente e cuja reposição não será imediata, dada a atual situação da infraestrutura industrial de defesa? Será essa guerra a distração que alguns estão começando a afirmar? Está a China preparada? É essa a perfeita ocasião a justificar uma nova corrida armamentista?

 

Se estamos novamente em uma guerra fria, os tempos já não são mais os mesmos de então e nem os opositores ou mesmos os aliados também: no seu melhor momento o PIB da União Soviética não era nem a metade do americano ou os aliados precisavam afirmar não serem vassalos, com disse Macron recentemente; não tínhamos a inteligência artificial e nem a computação quântica. Não tínhamos, como hoje temos, toda a imbricação que as relações comerciais da modernidade permitiram e que repercute na quantidade de abstenções na Assembleia Geral das Nações Unidas durante a votação das resoluções sobre a Ucrânia. Não tínhamos um Estados Unidos com uma infraestrutura interna carente de investimento em face da uma China em situação de vantagem ou paridade no desenvolvimento tecnológico e investimentos em pesquisa e infraestrutura.

 

Aliás, o campo de batalha tecnológico não é novo, é só lembrarmos da batalha comercial recente entre os Estados Unidos e a China acerca da Huawei, o caso dos balões derrubados,... Do passado temos as armas nucleares, inclusive na Coréia do Norte. Mas, não nos esqueçamos, estamos diante de uma batalha ideológica que não tem nada de novo. O comunismo chines é comunismo, mesmo com a patina da economia de mercado e o Estados Unidos se consideram os guerreiros santos na batalha do bem contra o mal.

 

Em janeiro de 2023 foi vazado um memorando do General da Força Aérea americana Mike Minihan que afirma textualmente “Espero estar errado. Meu instinto me diz que lutaremos em 2025. [O presidente chinês Xi Jinping] garantiu seu terceiro mandato e estabeleceu seu conselho de guerra em outubro de 2022. As eleições presidenciais de Taiwan são em 2024 e oferecerão a Xi um motivo. As eleições presidenciais dos Estados Unidos são em 2024 e oferecerão a Xi uma América distraída. A equipe, a razão e a oportunidade de Xi estão alinhadas para 2025”.

 

Como observa o leitor, respostas não tenho para essas questões ou mesmo certa é a sua inevitabilidade, todavia termino com a primeira indagação: Quo Vadis?

 

Espero que não venha a me dizer: vado iterum crucifigi 

 

*Zilan Costa e Silva é advogado especialista em direito internacional privado, direito marítimo e portuário

 

*Os artigos reproduzidos neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do Bahia Notícias