Medo e empreendedorismo: Como transformar essa emoção em um grande aliado?
Por trás de toda a responsabilidade pelas próprias ações, o empreendedor lida com emoções que podem impactar a sua vida de inúmeras maneiras, inclusive, nos processos de tomada de decisão do seu negócio. Uma dessas emoções é o medo. Ele merece um olhar minucioso por trazer em si uma dualidade: pode gerar aspectos negativos como pode se transformar em um grande aliado.
É importante salientar que as emoções do empreendedor são influenciadas pelo ambiente, contexto e o momento. É uma jornada que influencia pensamento, sentimento, comportamentos e emoções. Acontecimentos atípicos e inesperados geram sentimentos e emoções igualmente atípicos e inesperados.
Pagotto e outros (2022) analisaram os sentimentos de tweets de empreendedores brasileiros no contexto da COVID19 e perceberam que os sentimentos mais expressivos eram o de tristeza e medo, emoções que os autores concluem que podem acarretar doenças físicas e emocionais. Apesar disso, segundo o SEBRAE, o interesse e a adesão ao empreendedorismo cresceram no Brasil durante os anos de 2019 e 2020, anos em que a pandemia esteve no ápice.
Para trazer maior compreensão sobre o conceito de medo, apresento as ideias propostas por Daniel Goleman (2005) referente ao que o medo pode nos provocar: o medo é uma emoção, desta forma, apresenta reações fisiológicas que impactam nossos pensamentos, comportamentos sociais, hábitos mentais e, até mesmo, os sentimentos. Acontece que, essa emoção nos prepara, inclusive fisiologicamente, para a luta ou fuga, ou seja, nos prepara para uma ação, por vezes de enfretamento e, em outros contextos, o de evitação.
O medo pode trazer impactos negativos como o medo do fracasso e ansiedade. No entanto, deve-se reconhecer que ele faz parte da jornada empreendedora, podendo, inclusive, ser ressignificado e até mesmo substituído por outros medos ao longo do tempo. “Descartar os temores que permeiam a atividade, restringindo-os ao início (medo da abertura) ou ao potencial final (medo de falência), é ignorar que entre esses dois polos haja qualquer tipo de emoção.” (CAMARGO);
E pode ser também um grande aliado e agente motivacional para o alcance de metas e propósitos. É possível utilizar o medo de forma estratégica para uma avaliação de ameaças, para a construção de ações ou pensamentos que podem prevenir danos ou amenizá-los e até mesmo para incentivar a um maior envolvimento em uma tarefa.
O medo pode ser bem utilizado a medida em que se aprende a manuseá-lo como reforçador em direção aos objetivos desejados, na avaliação de oportunidades e quais são as ações mais adequadas e trarão melhores consequências.
*Roberta Calabrich é psicóloga, pós graduada em Psicologia Organizacional e Gestão de Pessoas pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUC-RS
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