Usamos cookies para personalizar e melhorar sua experiência em nosso site e aprimorar a oferta de anúncios para você. Visite nossa Política de Cookies para saber mais. Ao clicar em "aceitar" você concorda com o uso que fazemos dos cookies

Marca Bahia Notícias
Você está em:
/
Artigo

Artigo

Hidroxicloroquina: a panacéia da vez?

Por Fábio Vilas-Boas

Hidroxicloroquina: a panacéia da vez?
Foto: Divulgação

Na mitologia grega, Panaceia (ou Panacea em latim) era a deusa da cura. O termo "panacéia" também é muito utilizado com o significado de remédio para todos os males. Asclépio (ou Esculápio para os romanos), o filho de Apolo que se tornara deus da medicina, teve duas filhas a quem ensinou a sua arte: Hígia (de onde deriva higiene) e Panacéia. O nome desta última formou-se com a partícula compositiva pan (todo) e akos (remédio), em alusão ao fato de que Panacéia era capaz de curar todas as enfermidades. (Wikipedia).

 

A cloroquina e a hidroxicloroquina, isoladamente ou em combinação com a azitromicina, são as candidatas da vez para o emprego do sagrado nome divino da cura. Apontadas como potenciais terapias para o Covid-19, as alegações de eficácia baseiam-se amplamente em relatos isolados e séries de casos que foram descritas como sendo tão persuasivas que seria antiético realizar estudos com controles placebo. Com base nessa "evidência", essas terapias foram recomendadas por diversos serviços e foram amplamente implementadas. Mas a evidência é realmente tão forte? Um estudo observacional publicado recentemente em uma das mais respeitadas revistas médicas do mundo examina a associação entre o uso da hidroxicloroquina e os resultados em pacientes hospitalizados com Covid-19 e sugere que esse tratamento não é uma panacéia. Em uma comparação simples e não ajustada, a taxa de morte ou intubação foi mais do que duas vezes maior entre os pacientes que receberam hidroxicloroquina do que entre os que não receberam. Nas análises ajustadas mais detalhadas não houve evidência de uma diferença substancial na taxa do desfecho final composto de morte ou intubação. Conclusão: nada se pode concluir. São necessários mais estudos.

 

Os médicos que cuidam de pacientes com Covid-19 são confrontados diariamente com importantes dilemas terapêuticos. Eles devem usar agentes amplamente disponíveis, como hidroxicloroquina ou azitromicina? A escolha do uso desses medicamentos já foi feita, provavelmente em centenas de milhares de pacientes, mas com poucas evidências sobre os riscos e benefícios. Na ausência de protocolos de manejo definitivos, muitos regimes de tratamento têm sido explorados no tratamento da Covid-19. Alguns desses tratamentos podem ter sido tentados por desespero e, entre eles, alguns mostram-se promissores. No entanto, é muito cedo para termos resultados de ensaios clínicos rigorosos publicados.

 

Aqui na Bahia, a Secretaria Estadual da Saúde optou por disponibilizar todas as alternativas terapêuticas para suas equipes médicas que estão na linha de frente dos hospitais. Um comitê científico estadual e outro do consórcio nordeste estão examinando e formulando recomendações de manejo, com o objetivo de garantir segurança para os pacientes, já que a eficácia ainda não pode ser comprovada.

 

Quando temos pouca ideia sobre qual a terapia mais apropriada, maior ainda se torna a nossa obrigação de buscar colher informações corretas de forma científica.

 

*Fábio Vilas-Boas é doutor em Ciências pela USP e secretário Estadual da Saúde da Bahia

 

*Os artigos reproduzidos neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do Bahia Notícias