Com crescimento de mais de 3.000% na Bahia, uso de Ritalina é questionado por especialista
Por Renata Farias
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Dados do Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados (SNGPC) revelam uma venda descontrola do medicamento Metilfenidato, mais conhecido como Ritalina, no Brasil. A substância é recomendada por profissionais da área da saúde para o tratamento do Transtorno de Déficit de Hiperatividade e Atenção (TDAH). Apenas na Bahia, houve um salto de mais de 3.000%. Enquanto no primeiro semestre de 2009, foram vendidas 433 caixas do medicamento, foi registrada a venda de 58.719 caixas no mesmo período de 2014. De acordo com a pesquisadora da Faculdade de Educação da Ufba e membro do Fórum sobre a Medicalização da Educação e da Sociedade, Lygia de Sousa Viégas, esses números são referentes aos remédios prescritos por médicos, já que existe ainda um forte mercado paralelo da substância, que só pode ser adquirida com prescrição. Para a especialista, esses dados estão ligados à medicalização da educação e da sociedade, que abrange um cenário ainda maior. "A medicalização não se refere apenas ao uso de medicamentos. É um fenômeno mais amplo que isso. A gente pode traduzir como um processo por meio do qual a gente, diante de questões sociais complexas, ao invés de tentar entender, transforma essas questões em problemas individuais e, na sua radicalidade, em doenças individuais", explicou. Um exemplo de medicalização pode ser visto quando uma criança não acompanha o ensino de uma escola e, ao invés de identificar o problema no ensino, os envolvidos apresentam um diagnóstico de problema de aprendizagem. "A própria expressão 'problema de aprendizagem' transfere para o aluno a complexidade do processo de escolarização do Brasil. Até porque, se a gente for parar para notar, o número de crianças que não consegue aprender a ler e escrever no que se chama de 'idade certa' atinge quase metade da população escolar. Será que o problema é da criança?", questionou Lygia.
Muitas crianças são diagnosticadas com TDAH | Foto: Cesar Brustolin/ SMCS