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Entrevista

Especialista explica sobre benefícios dos cuidados paliativos em tratamento de pacientes com doenças graves

Por Victor Hernandes

Especialista explica sobre benefícios dos cuidados paliativos em tratamento de pacientes com doenças graves
Fotos: Igor Barreto / Bahia Notícias

A importância dos cuidados paliativos em casos de pacientes com doenças graves tem crescido nos últimos anos no Brasil. O tema ganhou mais proporção, após o jogador Pelé ser diagnosticado com metástases no intestino, no fígado e no pulmão, mas não responder ao tratamento quimioterápico e passar pelos cuidados paliativos. 

 

A abordagem multidisciplinar tem o objetivo de melhorar a qualidade de vida e minimizar o sofrimento de pessoas com doenças graves, a exemplo do câncer, entre outras. Engana-se quem pensa que o tipo de tratamento é utilizado para quem está em fase terminal, mas é um tipo de cuidado que busca promover o conforto e a dignidade do paciente. 

 

Para entender melhor sobre os cuidados paliativos, a reportagem do Bahia Notícias, foi entrevistar a médica paliativista, Fernanda Tourinho, que explicou sobre a importância do tipo de tratamento para pacientes, familiares e cuidadores.  

 

“A gente diz que cuida do binômio.Naturalmente o paciente no centro do cuidado, como o personagem mais importante, mas a saúde por algum tempo ignorou o fato de que as famílias adoecem em conjunto e sofrem em conjunto e são os principais cuidadores. Então quando você abre espaço para essa família, para educar sobre o que está acontecendo, para discutir qual é o prognóstico, o que é que vai acontecer no futuro; como eles podem se preparar para falar das suas dores; da sua sobrecarga; do Burnout que enfrentam ao cuidar de um paciente durante muitos anos você também alivia esse sofrimento e melhora os índices de qualidade de vida; de estresse pós traumático”, disse Tourinho. 

 

“Você reduz as chances de um luto prolongado que era antigamente chamado de luto complicado. Então você integra esse cuidado e para de achar que a família é complicada para na verdade uma família que está sofrendo É muito importante incluir os cuidadores que estão na linha de frente, que estão ali prestando cuidado, muitas vezes são cuidadores profissionais, mas que não estão participando das decisões, não estão sendo informados adequadamente sobre aquilo que está acontecendo e acabam sofrendo muito em conjunto”, observou a paliativista. 

 

Confira entrevista completa

 

Apesar de ser um tema que avançou bastante nos últimos anos, muitas pessoas ainda não conhecem a definição sobre os cuidados paliativos. O que significa os cuidados paliativos? Qual o conceito deste tipo de cuidado? 

Cuidado paliativo é uma abordagem realizada por uma equipe multidisciplinar que tem como objetivo principal aliviar o sofrimento e promover qualidade de vida. Sofrimento  de pacientes familiares e cuidadores que estão enfrentando o que a gente chama de doenças que ameaçam a continuidade da vida. Ou seja, é uma doença ativa, grave e progressiva e que coloca o paciente em face de uma série de problemas que são de ordem física por conta do próprio nascimento. Mas também de ordem social, de ordem psíquica, de ordem espiritual. Então diante de todas essas dificuldades que são enfrentadas pelo paciente. A gente vai fazer uma abordagem por uma equipe multidisciplinar olhando para todas essas quatro dimensões para aliviar o sofrimento desses pacientes. 

 

Quais são os profissionais de saúde que fazem parte dessa equipe multidisciplinar?  Quais são os pacientes que podem receber cuidados paliativos? Quando que esses pacientes devem iniciar os tratamentos? 

Não somente o médico, a equipe de cuidados paliativos é composta por todos os profissionais da área de saúde e ainda por outros profissionais de cuidado, como o próprio cuidado ou de terapias integrativas. Elas devem ser iniciadas em conjunto com essa assistência modificadora de doença. Então se um paciente recebe um diagnóstico de uma doença grave, de um câncer que já é metastático, que já se espalhou para outras regiões do corpo, esse paciente vai procurar um oncologista e vai começar o tratamento oncológico, mas ele também vai poder ter o acompanhamento de uma equipe de cuidados paliativos, que vai cuidar de seus sintomas, que vai fazer um planejamento de cuidados. Como é que esse paciente deseja ser cuidado? Quais são seus valores? Quais áreas da sua vida estão sendo afetadas. Então não é que a gente tenha um profissional para cada uma das áreas, né para espiritual, para psíquica. A gente tem a Capelania, a gente tem o psicólogo, a gente tem o serviço social, né? O assistente social tem o papel de cuidar das questões sociais, mas sobretudo que todos os profissionais da equipe possuem esse olhar integrado para todas as dimensões. Então existem as especificidades de cada profissão, mas existe esse olhar integrado. 

 

Quais tipos de doenças podem ter esse tipo de tratamento? 

Doenças neurológicas, demências que a gente tem, por exemplo a doença de Alzheimer. A gente está falando de pacientes com doenças renais hepáticas, então a etiologia não importa o que importa é a gravidade e o sofrimento que o paciente esperanciar durante o adoecimento cardiovascular. Doenças cardiovasculares quer que eu estou falando, doenças como insuficiência cardíaca que é uma doença que tem um altíssima morbidade, ou seja, atrapalha demais a qualidade de vida dos pacientes e também tem uma mortalidade muito alta. Doença de Parkinson dentro das doenças neurológicas. Insuficiência renal de alítica paciente, tem uma mortalidade muito grande associada a isso e também um sofrimento muito grande por conta do seu processo de adoecimento. Então há diversos exemplos de doenças que acometem diferentes órgãos e sistemas que podem se beneficiar da abordagem de cuidados paliativos como alívio de sintomas da melhora da qualidade de vida, de colocar o paciente no centro do cuidado, pois o que importa é a pessoa e não uma doença. A gente trata o indivíduo utilizando todos os recursos tecnológicos e não tecnológicos. 

 

 

Como que a parte religiosa e espiritual contribui também para esse tipo de cuidado. Como é que ele atua dentro dos cuidados paliativos? 

A primeira coisa para gente entender é que espiritualidade não é a mesma coisa de religiosidade. A manifestação da sua espiritualidade ?ode acontecer através de uma prática religiosa ou não. Espiritualidade é algo próprio de todo ser humano, mesmo uma pessoa que seja ateia tem a sua espiritualidade, a sua relação com o consagrado de alguma forma. Essa é uma dimensão fundamental do ser humano, a dimensão que envolve a esperança, a dimensão que envolve a busca por significado e que portanto precisa ser olhada e cuidada. E mais ainda espiritualidade é ciência. A gente dispõe de diversos artigos científicos que demonstram a importância dessa abordagem e existem formas técnicas de fazer isso, de abrir espaço para que o paciente coloque a sua espiritualidade, e como esses valores espirituais influenciam inclusive na sua jornada de tratamento e de doença. Então, a grande palavra do cuidado paliativo é integrar e não fragmentar. A medicina moderna evoluiu muito e isso é muito bom, pois hoje a gente consegue ofertar tratamentos que antes a gente não conseguia para condições que antes não eram possíveis de ser tratadas, mas ela acabou separando o biológico do biográfico.

 

A gente precisa integrar porque a nossa vida biográfica, ela tem talvez mais valor, inclusive do que nossa vida biológica. A gente não trata corpos, a gente trata pessoas, então com esse conceito é possível ter esse olhar multidimensional para aliviar o sofrimento. 

Mesmo com o avanço da discussão do tema, ainda enfrentamos grandes desafios na falta de conhecimento popular sobre os cuidados paliativos. O que faz isso acontecer? 

O preconceito vem da ignorância né? Ignorância no sentido de falta de conhecimento, porque não houve acesso. Falando de profissionais de saúde, a gente não tem cuidados paliativos dentro das graduações de saúde. Eu me formei em 2010, sem nunca ter ouvido falar sobre cuidados paliativos. Eu já fazia parte de uma liga de Oncologia, eu sabia que eu gostava de cuidar de pacientes graves, mas eu não conhecia essa abordagem enquanto uma área de atuação que eu poderia me informar e aprender tecnicamente para aliviar o sofrimento dos pacientes. Então, eu acho que é a falta de educação para os profissionais de saúde sobre os benefícios dos cuidados paliativos, a gente tem caminhado bastante nesse sentido. Em dezembro do ano passado se tornou obrigatório o ensino de cuidados paliativos dentro das faculdades de medicina e a tendência é que no futuro outras faculdades de saúde também incorporem isso e eu pessoalmente tenho me dedicado. Deixei a assistência há um ano e hoje eu atuo somente através do ensino de cuidados paliativos nas redes sociais para profissionais de saúde para preencher essa lacuna da formação. Hoje a gente não oferta pois não sabemos fazer e quando a gente não sabe fazer a gente faz errado. Então a gente precisa primeiro aprender para desmistificar. 

 

Quais os benefícios que os cuidados paliativos podem proporcionar para familiares e acompanhantes de pacientes? 

A gente diz que cuida do binômio.Naturalmente o paciente no centro do cuidado, como o personagem mais importante, mas a saúde por algum tempo ignorou o fato de que as famílias adoecem em conjunto e sofrem em conjunto e são os principais cuidadores. Então quando você abre espaço para essa família, para educar sobre o que está acontecendo, para discutir qual é o prognóstico, o que é que vai acontecer no futuro; como eles podem se preparar para falar das suas dores; da sua sobrecarga; do Burnout que enfrentam ao cuidar de um paciente durante muitos anos você também alivia esse sofrimento e melhora os índices de qualidade de vida; de estresse pós traumático. Você reduz as chances de um luto prolongado que era antigamente chamado de luto complicado. Então você integra esse cuidado e para de achar que a família é complicada para na verdade uma família que está sofrendo É muito importante incluir os cuidadores que estão na linha de frente, que estão ali prestando cuidado, muitas vezes são cuidadores profissionais, mas que não estão participando das decisões, não estão sendo informados adequadamente sobre aquilo que está acontecendo e acabam sofrendo muito em conjunto

 

Onde que pacientes podem ter acessos a cuidados paliativos na Bahia e em Salvador? 

A maioria dos grandes hospitais particulares já dispõe de equipe de cuidados paliativos. O Hospital das Clínicas e o Roberto Santos possuem uma comissão de cuidados paliativos. Salvador, tem também uma unidade hospice que é uma unidade para cuidados de fim de vida. E a gente está indo agora para construção do primeiro hospital público que vai ficar no antigo Instituto Couto Maia. É uma iniciativa do Governo do Estado que vai contar com 80 leitos para acolhimento de pacientes em cuidados paliativos que necessitam de internação. A gente tem também ambulatório na Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública para acolhimento a pacientes de cuidados paliativos também pelo SUS. A gente tem diversas empresas de home care que possuem atendimento de cuidados paliativos