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Entrevista

Única doação de órgãos pode beneficiar 50 pessoas; recusa familiar é de 44%

Por Júlia Vigné

Única doação de órgãos pode beneficiar 50 pessoas; recusa familiar é de 44%
Foto: Reprodução / Youtube

Com apenas um doador de órgãos pode-se salvar a vida de 50 pessoas. É o que explica José Lima Oliveira Junior, cirurgião cardiovascular e integrante da Comissão de Remoção de Órgãos da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO). De acordo com ele, oito vidas são salvas diretamente com a doação dos principais órgãos, que são o coração, dois pulmões, dois rins, intestino, pâncreas e fígado. O número sobe quando levamos em conta os transplantes de córneas, ossos, válvula cardíaca etc. Na entrevista, o cirurgião nos explica que a doação de órgãos no Brasil deve ser feita de forma consentida, ou seja, com a permissão da família. De acordo com ele, se a pessoa disser em vida que quer doar órgãos mas a família for contra e se manifestar assim, os órgãos não serão doados. “Ela deve procurar expressar e deixar clara a sua vontade e o seu desejo, ela pode até colocar nas mídias sociais, mas sempre a decisão final é da família”, explicou. A ABTO faz levantamentos sobre a doação de órgão; o último, divulgado em agosto, apontou que no Brasil existem mais de  33.199 pessoas à espera da doação de um órgão e que 44% das famílias não autorizam a doação de órgãos. Mesmo com tal taxa, o número de doadores efetivo de órgãos subiu de 13,1 por milhão de habitantes para 14 por milhão no segundo trimestre; o número ainda é longe da meta buscada pela instituição de 16 por milhão. No segundo trimestre o número de transplantes feitos caíram e o total de potenciais doadores também. Os órgãos mais requisitados são córneas e rim, seguida de fígado, coração, pulmão, pâncreas e intestino.

O que é preciso para se declarar um doador? Quais são os trâmites legais?

A pessoa pode informar a um familiar que ela tem o desejo de ser um doador. Eventualmente ela tendo uma condição de morte cerebral, morte encefálica, com esse aviso a família pode concordar que a pessoa se torne um doador efeitvo. Não precisa deixar nada por escrito, não há necessidade de registrar nada no cartório, isso não tem mais valor. Hoje em dia a doação só é realizada se a família concordar.

Quando a família se recusa existe alguma pessoa, uma assistente social, que possa conversar com a família para explicar a importância?

A família sempre é abordada por uma equipe multiprofissional. Com médicos, enfermeiras, assistente social, psicólogo, advogado, mas mesmo se com todo o trâmite a família não concordar, o assunto é encerrado.

Como funciona a doação de órgãos? Após a fala com a família quais são os trâmites até o transplante?

Depois que a família concorda um material é colhido para fazer testes de compatibilidade, ele é processado, a análise é feita atestando a sequência de compatibilidade de cada órgão para determinar quais são os setores compatíveis. A central estadual vai pegar o primeiro paciente da fila, ver de que instituição ele é, entrar em contato com a instituição para verificar se o paciente está em condições para receber o órgão compatível. Se ele estiver, o órgão vai ser retirado para esse receptor. Se for rejeitado, a central passa para o segundo paciente e assim por diante para todos os órgãos. Primeiro será retirado coração, pulmão, fígado, pâncreas, rins, intestino, pele, osso, córnea etc.

Quais são os principais mitos da doação de órgãos?

s pessoas têm medos de que os órgãos sejam vendidos e que não sejam efetivamente dados de forma gratuita para os pacientes, as pessoas têm muito receio quanto ao tráfico de órgãos, se existe, se não existe, como funciona a doação efetivamente. O custo também é uma preocupação das famílias, que sempre perguntam se a família terá custo, mas o transplante é realizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O estado do corpo da pessoa depois da doação também é uma preocupação para a família, que tem medo que o corpo fique deformado, mas os órgãos e tecidos são retirados por cirurgias.

Uma pessoa pode salvar quantas vidas com a doação de órgãos?

Diretamente até oito vidas, com o coração, dois pulmões, dois rins, intestino, pâncreas e fígado. Mas indiretamente até 50 pessoas, isso porque um olho, pele, córnea, válvula cardíaca, tudo isso também pode ser doado e ajudar outras pessoas.

Quem são as pessoas que não podem doar?

Os pacientes que apresentarem alguma insuficiência orgânica que podem comprometer o funcionamento dos órgãos e tecidos, como insuficiência renal, hepática, cardíaca, medular, pancreática etc; além de portadores de doenças contagiosas transmissíveis, como soropositivos, portadores da doença de Chagas, hepatite Be C, entre outras; paciente com infecção generalizada ou insuficiência de múltiplos órgãos, além das pessoas com tumores malignos.

Existe algum órgão que tenha uma procura grande mas uma oferta muito pequena?

No geral todos os órgãos tem uma procura maior do que a oferta. Nós temos um número grande de potenciais doadores e temos um número pequeno de doadores efetivos. De uma forma geral nós realizamos em torno de 40% dos transplantes a cada ano para todos os órgãos. O problema é que para alguns órgãos, como coração e pulmão, a mortalidade na fila de espera ainda é muito alto. E quanto menor a oferta, maior o tempo de espera da pessoa até que o órgão compatível chegue. Então no geral todos os órgãos nós temos uma demanda bem inferior à necessidade apresentada.

Mesmo vivo eu posso realizar uma doação de órgão?

Sim, os doadores vivos doam órgãos duplos como o rim, pâncreas, pulmão, uma parte do fígado, até mesmo a medula óssea, para que seja transplantado em amigos ou família. Para a doação ocorrer, será necessário atestar que o receptor não apresentará  nenhum de problema de saúde após o transplante.

Quando a pessoa é a favor da doação mas a família por algum motivo é contra, quais são as ações que ela pode tomar para garantir que seus órgãos serão doados?

Ela deve procurar expressar e deixar clara a sua vontade e o seu desejo, ela pode até colocar nas mídias sociais, mas sempre a decisão final é da família. Se a família concordar, mesmo que a pessoa tenha concordado em vida, a captação não será realizada porque nós trabalhamos no Brasil com a doação consentida.