Usamos cookies para personalizar e melhorar sua experiência em nosso site e aprimorar a oferta de anúncios para você. Visite nossa Política de Cookies para saber mais. Ao clicar em "aceitar" você concorda com o uso que fazemos dos cookies

Marca Bahia Notícias Saúde

Entrevista

Para psicanalista, um dos maiores desafios para casais é proposta de abrir o relacionamento

Por Renata Farias

Para psicanalista, um dos maiores desafios para casais é proposta de abrir o relacionamento
Foto: Divulgação
Defensora de relacionamentos livres e da quebra de padrões socialmente estabelecidos, a psicanalista e escritora Regina Navarro Lins conversou com o Bahia Notícias sobre a ideia de que amor e sexo devem andar juntos e também sobre as mudanças nas formas de relacionamento. “De quatro anos pra cá, notei que um dos maiores desafios dos casais tem sido quando uma das partes propõe uma mudança, uma abertura do casamento. Essas são as maiores mudanças. Há ainda a questão de pessoas optarem por outras formas de relacionamentos amorosos, porque antigamente todos tentavam se enquadrar em um modelo, que era casar, ter dois filhos, uma frost free e uma televisão de 42 polegadas. As pessoas estão se abrindo para outras formas”, afirmou durante evento promovido pela empresa farmacêutica Bayer, em São Paulo (veja aqui). Ao ser questionada sobre uma possível evolução para as formas de relacionamento, a profissional disse acreditar que um número cada vez menor de pessoas vai desejar um relacionamento monogâmico a dois. “Acho que as pessoas vão viver melhor, porque, com esse tipo de relação que se vive hoje, você canaliza tudo para uma pessoa, você espera que ela satisfaça todas as suas necessidades e acaba sobrecarregando a relação”, avaliou.

Como a senhora enxerga a relação entre sexo e amor?
Eu acho que pode existir amor sem tesão, sem sexo, sexo sem amor e, às vezes, existe amor e sexo juntos. Eu acho que as pessoas têm que aprender a dissociar sexo de amor. Sexo é uma coisa, amor é outra e podem estar juntos ou não. Só que a repressão sexual foi tão grande nos últimos 2 mil anos que existe uma tendência nas pessoas de desvalorizar o sexo pelo sexo, como se fosse ruim. Sexo pelo sexo pode ser ótimo!
 
Por que a senhora defende que é muito difícil manter um relacionamento monogâmico duradouro?
Nós somos atingidos e afetados por estímulos o tempo todo. É natural que você sinta desejo por mais de uma pessoa. O que eu acho importante nesse momento é que cada um pode escolher sua forma de viver. Se alguém quiser ficar casado 40 anos e fazer sexo só com aquela pessoa, tudo bem. Se quiser ter três parceiros fixos, tudo bem também. O que a gente observa é que a imensa maioria dos casamentos se frustram com desejo por outras pessoas, fantasias, culpa. O número de relações extraconjugais é enorme. Em torno de 70% das pessoas têm relações extraconjugais. Não adianta ficar fingindo que não está vendo aquela realidade. É realmente muito difícil uma pessoa passar 10, 20 anos fazendo sexo com uma única pessoa.
 
Periodicamente divulgam pesquisas sobre o número de relações extraconjugais e, geralmente, o foco está sobre o aumento da quantidade de mulheres que traem. O que fazia com que essa mulher se mantivesse mais “presa” ao casamento, enquanto hoje ela se sente mais à vontade para agir dessa forma?
Primeiro que ela podia engravidar, qualquer transa podia gerar um filho. Hoje as mulheres têm tantas relações extraconjugais quanto os homens. Ambos os sexos têm relações extraconjugais cada vez mais cedo, segundo estudos.

Essa questão da mulher está ligada também à criação do anticoncepcional, certo? Qual foi o impacto disso para a mulher moderna?
A pílula mudou a história do mundo, porque, até então, a mulher tinha 10, 20 filhos, quantos filhos o homem quisesse. Ela não tinha autonomia nenhuma. A pílula permitiu dissociar o sexo da reprodução, e a mulher escolheu com quem, quando e, principalmente, se quer ter filhos. As pessoas olhavam com maus olhos a mulher que não quisesse, porque era muito marcado esse papel de ser mãe. Até hoje tem uma cobrança. A pílula permitiu que a mulher entrasse no mercado de trabalho e ganhasse autonomia.
 
A senhora tem 43 anos de atendimento. Foi possível perceber uma mudança nas formas de relacionamentos? O que mais chamou atenção?
Essa questão da mulher está tendo mais relações extraconjugais. De quatro anos pra cá, notei que um dos maiores desafios dos casais tem sido quando uma das partes propõe uma mudança, uma abertura do casamento. Essas são as maiores mudanças. Há ainda a questão de pessoas optarem por outras formas de relacionamentos amorosos, porque antigamente todos tentavam se enquadrar em um modelo, que era casar, ter dois filhos, uma frost free e uma televisão de 42 polegadas. As pessoas estão se abrindo para outras formas. Há pessoas que querem viver a três, outras que querem ter um parceiro fixo e ter outras relações sem ser escondido. São essas as principais mudanças.
 
Para que direção a senhora acredita que estamos evoluindo? Como devem ser a maioria dos relacionamentos no futuro?
Eu acredito que menos pessoas vão querer se trancar numa relação a dois. Mais gente vai optar por ter relações mais livres. Acho que as pessoas vão viver melhor, porque, com esse tipo de relação que se vive hoje, você canaliza tudo para uma pessoa, você espera que ela satisfaça todas as suas necessidades – isso porque somos regidos pelo mito do amor romântico – e acaba sobrecarregando a relação. Você culpa o outro se ele não está te satisfazendo, aí vem ressentimento, mágoa. Eu acho que os relacionamentos vão melhorar.
 
E com relação a definição de gênero e orientação sexual?
Eu acho que a gente está abrindo muito nessa área. Acredito que essas definições de heterossexual, homossexual, bissexual, transexual vão deixar de ter importância. É possível que, dentro de algum tempo, não se classifique dessa forma, mas apenas se diga sexualidade.