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Entrevista

Após polêmicas, especialista explica benefícios e riscos do uso do anticoncepcional

Por Júlia Vigné

Após polêmicas, especialista explica benefícios e riscos do uso do anticoncepcional
Foto: Reprodução / Sonnar
Com a inserção no mercado de trabalho, a utilização de métodos contraceptivos se tornou indispensável na rotina das mulheres, tornando-as donas de seus corpos já que puderam exercer sua sexualidade sem uma possível gravidez indesejada. Desde sua inserção no mercado de trabalho, na década de 1960, no entanto, ela causa diversas dúvidas em relação a segurança e ao uso. Após diversos casos de trombose venosa cerebral serem veiculados na mídia, os métodos contraceptivos - principalmente a pílula anticoncepcional - foram ainda mais questionados por muitas mulheres. Com receio do desenvolvimento de trombose por conta da utilização dos anticoncepcionais orais, algumas até mesmo pararam de ingerir o contraceptivo. Questões importantes, como um possível  exame de rotina para rastreamento de trombofilia, a importância da prescrição médica do remédio, além da não existência de anticoncepcional direcionada para homens foram levantadas. A professora da Escola Paulista de Medicina (UNIFESP), Cristina Guazzelli nos explica um pouco mais sobre os benefícios e riscos do anticoncepcional. 
 
Qual é a importância de ir ao médico antes de começar a tomar uma pílula ou de iniciar o uso de um método contraceptivo? 
Antes de iniciar qualquer método contraceptivo, o ideal seria se a mulher pudesse ter acesso a um médico para ser apresentada a todas as opções dos métodos existentes. O médico deve explicar e discutir com a paciente a escolha que ela fará. É importante ressaltar que a função do médico é saber se a paciente pode ou não utilizar o método, sempre quem escolhe o método é a paciente.
 
E quais são os métodos existentes no mercado?
Existem métodos contraceptivos hormonais de curta duração, os hormonais de longa duração, os não-hormonais e o de barreira. O mais utilizado são os métodos hormonais de curta duração, que são a injeção mensal, o anel vaginal e o adesivo anticoncepcional. Os de longa duração podem ser hormonais, como o implante subcutâneo, o DIU de cobre e o SIU hormonal. Além desses, têm os métodos de barreira, como os preservativos [camisinhas] masculinas e femininas e o diafragma. Todos esses métodos, se utilizados de forma correta, apresentam alta eficácia. A taxa de falha da camisinha é de 20 para cada 100 mulheres que usam a camisinha durante o ano e, por isso, a camisinha não é considerada um bom método anticoncepcional. O uso da camisinha é recomendável para todas as mulheres, independente da faixa etária, por conta das doenças sexualmente transmissíveis (DST).
 
Qual método é o mais utilizado e quais são os benefícios que ele causa? 
Os métodos mais utilizados no mundo são os contraceptivos orais combinados (COC), que são as pílulas que possuem dois hormônios em sua fórmula. São diversos benefícios da pílula, como a melhora da cólica menstrual e da tensão pré-menstrual (TPM), melhora o humor, a irritabilidade, a acne, cabelo, oleosidade da pele, melhora a endometriose, reduz em 50% a chance de câncer de ovário e câncer de endométrio, reduz o sangramento da paciente. Isso é importante porque mais de 30% da população brasileira tem anemia e a redução do sangramento é uma grande ajuda nesse quesito.  
 
Mesmo com os diversos benefícios do uso da pílula, alguns casos de trombose acontecem e são associados ao uso da pílula. De que forma isso ocorre? 
Antes de falar sobre o risco de desenvolver trombose com o uso da pílula, vamos esclarecer qual é o risco de trombose para pacientes que não a utilizam. Uma paciente que não faz uso de anticoncepcional e é saudável, o risco de trombose é de 2 a 3 casos em cada 10 mil mulheres. Se a paciente for obesa, ou seja, se o Índice de Massa Corporal (IMC) dela for maior do que 30, o risco de trombose pode ser multiplicado por 4 vezes, ou seja, 8 a 12 casos por cada 10 mil mulheres. Se a paciente for fumante, o risco de trombose aumenta entre 6 a 8 vezes. Uma coisa muito importante e pouco divulgada é o risco de trombose durante o período da gravidez, que é de 6 a 8 vezes maior; no último mês da gravidez e logo após o parto esse risco chega a ser de 20 a 80 vezes maior. Já quando a paciente apenas utiliza a pílula, sem os outros riscos acima, a depender da pílula que ela usa, os números duplicam ou triplicam, ou seja, entre 6 a 9 casos em 10 mil mulheres. O risco irá aumentar se ela tiver alguns fatores de risco, que são os que eu já falei, juntamente com a pílula. 
 
Qual é a cautela que o médico deve ter para prescrever o remédio? Tendo em vista o risco que ele pode causar, não seria mais eficiente se testes de trombose fossem feitos antes da prescrição? 
O médico deverá fazer uma anamnese buscando saber o histórico familiar da pessoa e se existem fatores de risco para a paciente: se ela fuma, se ela é obesa, se tem hipertensão, se é diabética, portadoras de enxaqueca, entre outros procedimentos. O fato de um exame de rastreamento para trombose não mostrar alterações não significa que o risco não existe. E isso poderia desencadear uma falsa sensação de segurança na paciente. Muitas vezes nem as pessoas que já tiveram quadro familiar de trombose não apresentam alterações no exame de trombofilia. O importante é você fazer um bom histórico pessoal e familiar e uma boa anamnese dessa paciente.
 
Qual o procedimento realizado para pacientes que já tiveram trombose na família?
Com pacientes que já tem o histórico familiar ou que até mesmo já desenvolveram trombose, ou prescrevemos outros métodos anticoncepcionais, ou prescrevemos anticoncepcionais“não-combinados”, sem hormônio, como o Diu de cobre.