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Fazendo sexo, não política

Por Paulo Ghiraldelli

Fazendo sexo, não política
Foto: Reprodução
Viagra e KY são coisas de velhos, dizem algumas mulheres desinformadas ou informadas demais.
 
As desinformadas são ignorantes, as super informadas são as que sabem bem que Viagra e KY não têm nos velhos o preenchimento do chamado “grupo consumidor preferencial”. Velho faz menos sexo que jovem, por isso, tudo que é “para o sexo” é para pessoas de menos de 50 ou 60 anos. Todavia, não se pode lançar um produto no mercado, do tipo do Viagra ou KY, dizendo que se trata de algo “para todas as idades”. Isso destrói o comprador. Seria como vender preservativos classificados como roupa: “p”, “m” e “g”. Quem iria comprar as dos primeiros dois tamanhos? O mesmo seria começar o apartamento de motel por algo que não fosse o “executivo”. Há produtos que precisam enganar já em seus rótulos, mesmo que todos saibam que estão enganados. No caso do sexo, tudo é assim.
 
O sexo – já escrevi isso em A filosofia como crítica da cultura (Cortez) – é antes de tudo imaginação. E essa faculdade prima pela mentira. Desse modo, participar do mercado voltado para o sexo é criar rótulos que possam mentir de modo a não enganar. Há uma espécie aí de acordo similar ao da “sociedade de corte”, onde todos liam novelas e conversavam como se elas estivessem mesmo ocorrendo. A vida sexual hoje substitui essa capacidade de ludicidade e imaginativa da corte. É o aburguesamento do pensamento, da imaginação e, enfim, do lúdico. É o que sobrou, digamos assim.
 
 
O Viagra é para deixar o pau duro para o sexo contínuo e o KY é para o sexo anal. O Viagra não é para quem não tem ereção e o KY não é para a senhora que não tem mais a xoxota molhada. Podem ser usados por estes últimos? Claro! Mas o lucro seria zero se o público fosse só esse. Nossa sociedade é deserotizada e, por isso mesmo, altamente sexualizada. Nesse sentido, todo coito precisa de apetrechos. Bombardeio visual de dia, apetrechos à noite. Caso contrário, não funciona. Nossa sociedade insensível ganharia graus de rudeza que a tornariam inviável enquanto sociedade sem que houvesse, mesmo que empurrado, o sexo.
 
É só isso e nada mais. A tolice leva alguns filósofos a acreditar que podem cruzar esferas de atuação humana e misturar a política banal com questões sexuais. Não pode, não deve e é feio. Podemos falar em poder e sexo, como Foucault fez; podemos falar em educação como antecipação da natureza como Sade ensinou, e até temos o direito de alertar para a filosofia antes da alma que do corpo, como Sócrates fez com Alcibíades. Mas, querer achar que posições na Assembleia dos tempos da Revolução Francesa (direita e esquerda) determinam posições na cama é a maior bobagem que já escutei. Não existe sexo de esquerda ou de direita, em termos políticos. Nem existe o jovem de direita que não faz sexo versus o comedor da esquerda. Nem para parque de diversão Xangai essa divisão serve.
 
Nós deveríamos parar de vez de sermos tão tontos com o sexo. Deveríamos sair da pré-adolescência eterna gerada por arruaças homossexuais de colégios de padres.
 
Paulo Ghiraldelli, 56, filósofo, autor de A filosofia como crítica da cultura (Cortez)