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Entrevista

Tuca Fernandes fala sobre namoro com atriz, amizade com Bell e chance de voltar ao Jammil

Por Evilásio Júnior, Lucas Cunha e Renata Farias | Fotos: Júlia Belas

Tuca Fernandes fala sobre namoro com atriz, amizade com Bell e chance de voltar ao Jammil
Tuca Fernandes completa em 2014 três anos de sua carreira solo. Algo impensável para o ex-vocalista do Jammil algum tempo atrás. “Se você me perguntasse quatro anos atrás: ‘Você acha que um dia vai fazer carreira solo?’ Eu diria para você: 'impossível'”, disse o cantor, em entrevista para o Bahia Notícias. Tuca não mostra arrependimento em sua decisão e mantém uma extensa lista de shows e projetos pelo Brasil. Esta semana, o cantor termina de gravar o clipe de “Lindo Filme”, música do seu último EP lançado no início do ano. A gravação do vídeo, inclusive, proporcionou a chance de um reencontro na vida do artista, que assumiu estar namorando com a atriz Hedla Lopes, par romântico de Tuca no clipe. “Parece que a música foi escrita para nossa história. A gente já viveu uma onda, nada tão sério antes. Pode ter começado uma história séria agora, que não foi uma coisa pensada”, reconheceu. O cantor ainda fala do início de sua carreira musical, quando tinha a banda de rock Diário Oficial, suas amizades com astros do axé, como o "vizinho" Bell Marques e o "amigo de surf" Durval Lelys, além de sua relação com o ex-amigo e companheiro no Jammil, Manno Góes.
 

Tuca Fernandes em entrevista na redação do Bahia Notícias

Bahia Notícias: Na última entrevista que você deu ao BN, em 2012, você estava no início de sua carreira solo, após a saída do Jammil. Queria então que você falasse como tem sido este período apenas como “Tuca Fernandes”...
 
Tuca Fernandes: É tudo um processo evolutivo, um aprendizado. Eu venho tocando desde o barzinho, comecei a tocar violão muito cedo. Até já dividi barzinho com Daniela Mercury. Eu tocava no Bar da Ladeira. Ela, grávida, tocava de 21 às 23h. Não esqueço da cena: ela toda de branco, linda, com aquele vozeirão. Fui cedo pra ver. Era fã pra caramba dela, desde a Companhia Clic. Eu tocava de 23 à 1h no mesmo lugar, então fui lá assistir. Também já fui ver Netinho cantar no Canteiros, em um barzinho com Jorge Zarath, então eu sou dessa escola. Depois, montei uma banda de rock, que eu gostava muito, mas não parei com o barzinho. Eu tinha uma banda de rock, o Diário Oficial, que tinha uma expressão bacana no cenário da Bahia. Mas nunca saímos daqui. Tudo foi muito legal e eu fui crescendo com tudo isso como músico e pessoa. Paralelo ao Diário Oficial tinha o barzinho. Quando eu comecei a tomar conta de uma boate, tive a ideia de montar o Jheremmias Não Bate Corner. Naquela época, final de 1993, não era essa coisa que é hoje, que muita banda toca em boate e em bar. Naquela época, ninguém tocava em boate e até o dono estranhou. A gente só via isso em filme. E eu adorava. Conseguimos um som com um amigo nosso, Nicolau, o mesmo Nicolau da música de Bell Marques. Tinha uma construção do lado que tinha uns madeirites. Quando a construção fechava, a gente pegava os madeirites, botava em cima dos engradados de cerveja. Quando acabava o show e todo mundo saía da boate, a gente pegava os madeirites e colocava no lugar de novo. Uma coisa bem amadora e no suor mesmo. A banda começou a ter uma repercussão, a coisa foi crescendo. Netinho viu, gravou os primeiros discos do Jheremias, que depois mudou pra Jammil. Fiquei 14 anos à frente do Jammil, percorri esse Brasil quase todo. Tive dois momentos fantásticos no Jammil, de grande expressão nacional: quando começamos com "Ê, saudade" e, logo depois, quando fizemos uma regravação do Nenhum de Nós, com a música do David Bowie, "Starman" ("Astronauta de Mármore"), que bombou. Foram os dois momentos de maior expressão. Depois disso, caiu um pouco e voltamos em 2006, que foi quando estourou "Praieiro". Esses momentos estão na minha carreira e é bacana lembrar. Eu fiz um show em Maceió que fiquei impressionado. Eles cantavam tudo da minha carreira solo, pediam aquelas que são lado B e começaram a pedir coisas do Jammil também, umas músicas que eu não costumo tocar sempre. Isso tá muito forte ainda na minha carreira e eu acho bacana porque foi uma coisa que eu construí junto com meus parceiros. Nós lutamos muito para ter esse reconhecimento do grande público do Brasil. Dessa forma, você chega na história da carreira solo. O balanço que eu faço me deixa feliz por tudo que eu conquistei e como eu cresci como músico e também como gestor da história. Eu faço carreira solo, mas também ouço muito meus empresários, os meninos da banda... Quando comecei a carreira solo, pedi que a formação da banda ficasse ainda mais perto de mim. Os caras vieram todos (do Jammil) comigo. Eu acho que é preciso saber ouvir, nunca dei ordens. Eu gosto de ouvir e ouço também críticas de fãs na internet. Às vezes, as pessoas até falam "você saiu e, logo depois, veio uma avalanche de outras carreiras solo".
 
BN: Como você tem observado essas mudanças na cena baiana, com gente como Bell Marques e Durval Lelys saindo em carreira solo?
 
TF: Eu nunca pensei em fazer carreira solo, acho que estaria traindo aquele momento que eu tava vivendo, porque gosto de ser intenso. Quando estava no Jammil, era aquilo ali. Lógico que é preciso pensar no futuro e fazer um planejamento, mas é o planejamento da banda. Aconteceu que separou e comecei a pensar em como levaria à frente essa história que eu começaria a construir. Decidimos continuar trabalhando sem estresse e fazendo música, que é o principal pra mim. Além de fazer as músicas, comecei a sentar e ter mais ingerência na história, na direção, pensar mais em tudo. Acredito que está acontecendo o mesmo com eles. Eu acompanho Bell e o que ele fala em matérias diz muito isso de pegar mais ainda pra perto de você, mais do que na banda. A minha essência como artista continua a mesma. Eu sempre busquei puxar um lado pop, rock e eletrônico para o Jammil, para deixar a minha cara. As pessoas elogiaram muito uma versão que fiz de "Gangnam Style" com "Mas Que Nada", de Jorge Ben Jor. Não acreditaram naquilo e várias pessoas falaram que era bacana. Eu gosto muito de misturar com o eletrônico e continuei, mas você tem que estar sempre crescendo, evoluindo, pensando no que pode fazer cada vez mais e dentro da sua história, porque não pode perder a sua essência. Paralelo a isso, eu tenho outras coisas. Estou fazendo um projeto chamado "#segundasinviolões, que tô fazendo em casa e é uma coisa que eu adoro. Eu sempre fiz aquilo ali, mas comecei a disponibilizar pra o público ver, agora em 2014. Eu tinha gravado um vídeo tocando umas cinco ou seis músicas em uma segunda-feira, porque é o relax do fim de semana, quando eu posso tocar outras coisas numa roupagem mais violão, mais tranquila. Eu gosto muito de fazer isso. Então Cris [Ribeiro, produtora] filmou, colocou lá e a galera curtiu. Mas o som era o da câmera e eu sou muito chato com isso de som. Decidi fazer uma música por semana e arranjar, porque ali era só voz e violão. Eu tenho um estúdio em casa que não dá pra gravar bateria, mas violão, guitarra, baixo... Comecei com Cazuza, "O Nosso Amor A Gente Inventa" foi a primeira música, porque sou fã dele. Coloquei uma de B.J. Thomas, "Rock and Roll Lullaby", que tem até uma citação na música do Durval e muita gente não sabia da original. Fiz a do Aviici e tô colocando "Nada Por Mim", de Herbert (Vianna) e Paulinha Toller. Cada vez mais tô incrementando com baixo, solo de guitarra... O arranjo é meu, porque comecei a querer não tocar simplesmente no violão. E eu gosto de fazer isso em casa. Até já comentaram: "muito obrigado por abrir a porta da sua casa pra gente ver um pedacinho seu". Também gostaram bastante porque isso foi exclusivo da minha fanpage. Eu gosto de estar em contato com a música o tempo todo. E fazer um outro lado dessa história só vem a enriquecer, somar à minha carreira.



 

BN: Há a ideia de fazer um projeto com essas músicas um pouco diferentes do que você faz normalmente?

TF: Começaram a falar para fazer um CD. Eu vi um artista, acho que americano, fazendo um show em casa. Pra estar em contato com meu público, eu adoro. Começou a surtir efeito, começou a aparecer, é próprio do artista querer mostrar mais, sem dúvida. Não vou ser hipócrita e dizer que isso não acontece. Vou esperar criar mais um corpo. Eu fiz quatro, o quinto tá entrando agora e, quando tiver uns 10 ou 13, eu tô pensando em fazer uma primeira temporada. Eu tenho uma coisa com (o número) 13, sou filho de Santo Antônio. Vou começar a colocar músicas inéditas minhas. Ainda não pediram isso, mas já tô pensando. Eu tô começando a compor já pra isso. Uma galera pediu pra gravar "Paraíso", que é uma música minha daquela parte acústica do DVD "Praieiro". Ainda tá no embrião, mas claro que eu vou querer, quem sabe, fazer um disco, um show. Até o pessoal da banda já tá interessado. Vai ser uma coisa enxuta mesmo, fiel ao que tá ali. Guitarra, violão, baixo, pra ficar bem fiel.
 
BN: O Jheremias era uma banda que surgiu com composições próprias. Como você observa isso na nova música baiana? Você acha que falta uma coisa mais autoral? Será que muitos artistas não já aparecerem dentro de um esquema muito fechado com empresários decidindo por eles?

TF: Eu acho que, às vezes, o que acontece aqui é pular etapas. O que eu sinto é que a galera tem que ralar como a gente ralou. Era eu e Manno com o caderno espiral embaixo do braço. A gente entrava nas sedes perguntando se não queriam comprar o Jheremias. Algum tempo depois, começamos a crescer e a gente se perguntou o que ia fazer. A gente tinha dois carros: um Voyage 83 e um Fiat 82. Vendemos o Fiat, que era o mais velho, porque a gente precisava comprar um baixo bom pra Manno. Ficou um carro só pra nós dois e o Voyage tinha uma mala, quando ainda tinha lastro, porque depois caiu e ficou igual ao carro dos Flinstones (risos). A gente coloca as coisas e chamava as meninas pra serem as roadies. Era a namorada, a amiga da namorada. Hoje se perdeu um pouco essa essência. Netinho foi pioneiro, em 1993, quando viu a gente tocando. O tecladista conseguiu um show pra gente fazer na Faculdade de Arquitetura e Netinho disse que ia lá ver. Ele acabou se atrasando em uma entrevista e, quando chegou, mandou começar tudo de novo. Aquele show foi feito única e exclusivamente para mostrar a ele, porque não tinha cachê, a gente que montou o palco... A situação atual é a evolução do mercado, não é saudosismo. Não é culpa dos meninos, nem dos empresários. O cara já cresce com produção e produtor colado nele o dia inteiro, então pula uma etapa em que a gente ralou pra caramba. Saulo é um cara da nova geração, mas eu também lembro dele ralando na Chica Fé. Eu lembro também de Claudinha (Leitte) ralando na Nata do Samba, como Daniela na Companhia Clic, o Asa quando ainda era Pinel, mas teve o mesmo problema que a gente com o nome e mudou pra Asa de Águia, o Chiclete, que era antes a banda Scorpion. Eu fui ver o Scorpion tocando na Ribeira e lembro de Bell ralando, colocando coisa no carro. E lembro que a porta não fechava, tinha que amarrar uma corda e entrar pelo carona. Eu ficava na frente vendo o show para pegar os acordes e aprender. Então a gente passou por tudo isso, mas não quer dizer que tá errado hoje. E tem uma coisa que é muito importante: se você olhar as pessoas que seguiram, sempre tem uma coisa autoral. Ivete, mesmo, tem algumas músicas que são de autoria dela, como "Carro Velho", que fez com Ninha. 
 
BN: Qual foi o problema do Jheremias e Netinho, ainda tem algum tipo de briga judicial?

TF: Não, eu sou amigo de Netinho hoje. Lógico que essas coisas foram delicadas no momento, quando a gente tava no Jheremias. Vimos que "Milla" tava começando a crescer, tomou uma proporção que a gente não entendia. A gente foi fazer um show em Belo Horizonte em 1995, que foi o ano de estouro do Skank. A gente gravou Milla em 1994. Quando a gente chegou no aeroporto de Belo Horizonte, tinha um bocado de faixa e não dava pra ler, porque tava longe. Eu falei pra Beto: "O Skank tá chegando aí. Não tá nesse voo, mas deve chegar logo, porque olha o tanto de faixa". Quando a gente chegou perto tinha "Ô, Milla, mil e uma noites de amor com você", "Venha, Jheremias". A gente não tinha ideia do que tava acontecendo e acho que nem Netinho. O nosso bloco tava bombado. Era sexta Jheremias, sábado e domingo Netinho. Nosso dia tava bombado. Nessa época, surgiu até uma concessionária de carros com o nome "Milla", em homenagem à música. A música foi crescendo e Netinho disse que ia gravar. Ele sempre teve mais força na gravadora e no Brasil. A gente falou pra ele gravar, mas dizer que a música era nossa, que a gente iria no vácuo. Não rolou e ficamos na nossa. Quando a gente gravou "Pra Te Ter Aqui", no disco de 1996, a música pipocou em Fortaleza, a rádio daqui viu, pegou a música e bateu primeiro lugar. Ele disse que ia gravar também. A gente não aceitou, saiu da PolyGram e foi pra EMI. Foi quando veio "Ê, Saudade".
 

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BN: Falando de coisas novas, seu novo EP saiu no início desse ano, com seis músicas. Como está a repercussão do EP e a gravação do segundo clipe?

TF: A gente tem uma previsão de encerrar o clipe essa semana, porque tem algumas externas e o tempo não tá ajudando. Estamos gravando em um resort, em Itacimirim, muito bacana. Gravamos lá e outra parte vai ser em um heliponto. Falando de composição na minha carreira solo, tem uns meninos como o Igor Liberato, tem uma parceria dele e de Peu Del Rey no meu EP. É uma galera nova compondo. A própria minha música "Pirei no Seu Amor", é de Tiago Castro e Joe Fraga, que são meninos novos também. Isso é bacana, porque eles estão começando uma história. Quando eu saí pra carreira solo, passei a apostar muito nas minhas composições. O meu primeiro disco solo tem várias músicas minhas e várias parcerias. Esse EP também tem músicas minhas com Edu Casanova e Tenison Del Rey. Tem "Desapego", que é minha, do Edu [Casanova] e do Tierry [Coringa], do Fantasmão, que fez a música "Dançando" (de Ivete). Eu tô junto com essa moçada bacana com esse lance de composição. Tem também a música "Loucuras de Verão", que é de outro menino que tá começando, o Guga Fernandes, que foi chamado agora pra ser vocalista da Banda Beijo. A música é dele e de Oséas [Marques]. Tem também a música que eu fiz pra o Harém. A próxima música de trabalho é "Lindo Filme", que é de Nogueira [Reudes Nogueira] e Pits [André Pits]. É bom lembrar que essa música foi eleita pelos fãs, em uma enquete na internet, sobre qual devia se fazer um clipe. A gente tá gravando com Zunk Ramos e ele pegou o espírito da coisa com a captação de imagens, o texto... Tá ficando muito bacana.
 
BN: Esse EP foi totalmente disponibilizado na internet. Foi uma tentativa de atingir o público de outra forma?

TF: Com certeza. Você tem que utilizar as ferramentas e a internet é uma ferramenta muito forte para as pessoas conhecerem o seu trabalho. O Coldplay lançou agora um disco (Ghost Stories), por exemplo, e disponibilizou (no iTunes). Não tem jeito, você tem que disponibilizar mesmo. Antigamente, quando você era autor das músicas, ganhava muito na execução e na vendagem, além do show, que hoje dá muito mais dinheiro.
 
BN: Falando do seu lado empresário, você ficou com o bloco Balada nessa divisão após sua saída do Jammil. Como vai ficar para 2015? Você vai permanecer no bloco Harém e no Balada?

TF: Esse ano, eu queria focar mais no meu bloco, o Balada. Cada dia mais, tá se mostrando que o bloco tem uma identidade com a banda. Antes eram muitos blocos e agora deu uma enxugada. E isso não é só na música. Existe uma crise, uma desaceleração em massa e a primeira coisa que o cara começa a enxugar é o entretenimento. Eu acho que diversão não pode ser supérfluo. Pra encarar o dia a dia, você tem que ter diversão, mas é natural. Como o número de blocos diminuiu muito e a oferta de camarotes cresceu, as grandes bandas começaram a tocar também nos camarotes. Eu toquei no Skol. Esse ano teve um produto chamado "Balada dobrado", que você vai no percurso e, quando encerra, você vai pra o camarote e amanhece o dia lá. Já é o segundo ano que a gente fez isso e foi bombado. Também fui convidado pra tocar no camarote Harém. Outra coisa que vem crescendo muito é o carnaval fora, durante o carnaval. Eu fiz um show surreal em Ouro Preto, no meio dos morros, com mais de 20 mil pessoas. Eu toquei também pra mais de 10 mil pessoas em Três Rios, no Rio de Janeiro. É cansativo, porque o carnaval daqui exige muito. Não só no percurso, mas cabeça, a entrega. A gente brinca que é a copa do mundo. O jogo é 90 minutos do mesmo jeito, mas a preparação que fazem para a copa do mundo é outra, então existe essa responsabilidade no carnaval.
 
BN: Você falou de Minas Gerais, onde você e o Jammil construíram uma base de fãs. Como foi que isso começou e como tem sido essa transição para carreira solo em Minas, para conseguir criar seu público lá fora do Jammil?

TF: O bacana é você não conseguir mensurar tudo na música, não tem uma resposta imediata para algumas perguntas, por exemplo, como se faz um sucesso. O grande barato é fazer a música com sua alma. A partir daí, é merecimento, uma conspiração do universo. Meu espírito é kardecista, eu acredito muito nessa coisa de energia, que existe muito mais coisa ao redor da gente do que a gente enxerga. O lance do Jammil foi esse. A gente fazia show lá como em todos os lugares, com uma entrega. Um exemplo que eu dou é quando eu perdi meu “filho”, meu bulldog francês, numa quinta, e tinha um show importantíssimo, no sábado, em Brasília. Foi muito difícil fazer aquele show, mas eu subi e fiz. Tem que ter entrega. Então a galera de Belo Horizonte abraçou a gente e foi uma surpresa muito grande. Na época do Axé Brasil de 2011, havia um burburinho pelo Twitter que tava rolando alguma coisa. Eu fui fazer o show e teve uma parte que peguei o violão, o pedestal, fui andando e falei: “Eu queria esclarecer uma coisa pra vocês”. Quando eu falei isso, a galera começou a gritar “olê, olê, olá, Tuca, Tuca”. Foi quando eu anunciei que tava saindo do Jammil. É aquela coisa que não tem como você dizer que esperava. Lidar com o ao vivo é mágico, a música é mágica. Claro que eu sabia que ia ter uma dificuldade maior, porque muita gente achava que meu nome era Jammil. Um cara até perguntou no meu Twitter como o Jammil podia sair do Jammil (risos).
 
BN: Havia a expectativa da gravação de um DVD para o final do semestre. Como estão os planos pra isso?

TF: Final do semestre é Copa, então embolou tudo. A gente tá avaliando essa história de gravar um DVD ou se seria melhor gravar vários clipes, porque tem que pensar até que ponto vale a pena gravar um DVD. Eu não lembro quando coloquei um DVD pra ver todo. A gente fez o cilpe “Loucuras de Verão” e tá vendo que o resultado foi muito bom. Imaginamos que “Lindo Filme” vai ser melhor ainda, então a gente abortou essa história de DVD momentaneamente e vamos ver o que fazemos depois da Copa.
 
BN: Você falou do clipe “Lindo Filme” e saiu uma informação que você estaria namorando com a atriz Hedla Lopes, da TV Globo, que está no clipe. Procede a informação?

TF: Procede, sim. Foi uma grata surpresa. A gente já se conhece há algum tempo, tem uma amizade muito forte e já nos relacionamos algumas vezes, mas nunca foi nada sério. Foi uma grata surpresa ela vir fazer a peça com Kadu Moliterno, “Os Divorciados”, e outra de seis anos de sucesso, que é “Os homens querem casar e as mulheres querem sexo”. Foi uma coincidência fantástica. Eu fui pra peça, a gente se reencontrou, tem menos de um mês. Como a gente se conhece há um tempão, eu a convidei pra gravar o clipe, ela aceitou na hora e foi ótimo. Parece que a música foi escrita pra nossa história. A gente já viveu uma onda, nada tão sério antes. Pode ter começado uma história séria agora, que não foi uma coisa pensada. A gente tava há um tempo sem se falar e se reencontrou. A química durante o clipe ajudou muito, essa cumplicidade. Ela é uma super atriz, mas quando tem química, transparece no olhar. A gente tá junto e vamos ver no que vai dar. Tem mais de dez anos que a gente se conhece, é uma menina super talentosa. Foi deixando acontecer que a gente acabou ficando junto.
 

Tuca ao lado da atriz Hedla Lopes: antiga 'amizade' que deu em romance
 
BN: Você começou na música no rock’n’roll, com a banda Diário Oficial. Você ainda pensa em fazer um projeto nessa linha do rock?

TF: O projeto rock’n’roll é aquela história. A gente não pode falar ‘não vou nunca fazer’, mas tenho outros projetos paralelos como o TFRF, mais eletrônico, e outra história minha no violão. O Beto (Espínola, ex-Jammil, hoje na banda de Tuca) é meu parceiro desde a época do rock. O Diário Oficial, se eu conseguisse achar os caras... O grande lance é achar os caras. A banda éramos eu no vocal e guitarra, Beto na guitarra, Ricardo Fasani, que foi baixista da Patchanka, e o baterista era Alessandro Acioli. A gente já se falou sobre isso. Quem sabe? Se rolasse, tinha que ser dessa forma. 
 
BN: E com Manno Goés, você tem falado? 

TF: Quanto a minha história e de Manno, eu não sei. A gente nunca mais se falou. A gente já vinha há dois anos sem se falar antes que eu saísse do Jammil. 
 
BN: O tempo curou as diferenças entre você e ele?

TF: O tempo cura. A gente não se fala. Fomos amigos por muitos anos. Eu odeio guardar rancor. Não tenho problema nenhum. Encontrei ele na rua, a gente se falou, mas não há uma ligação, uma amizade. Ficou só no “Oi, tudo bem”.
 
BN: Acha possível algum dia voltar ao Jammil?

TF: Hoje em dia, é muito difícil. Se você me perguntasse quatro anos atrás: “Você acha que um dia vai fazer carreira solo?”. Eu diria para você: “impossível”. Por maior que fosse o desgaste.
 
BN: Você sempre muda de opinião? Porque você falou que jamais o Diário Oficial viraria uma banda de axé...

TF: (Risos) Pois é. Mas não virou! Não foi o Diário Oficial! Tem uma reportagem que Hagamenon (Brito, crítico musical) botou no jornal... Essa é punk. Eu sempre fui fã de carnaval e tinha aquela coisa na época que as bandas de rock eram contra o axé. Não existe isso. Durval (Lelys) surfava comigo. Ele me convidou para sair no bloco Crocodilo, eu não vou dizer: ‘não vou porque não sou do axé’? Aí tem uma foto minha abraçado com minha namorada na época, curtindo para caramba o bloco, aí Hagamenon colocou: “Vocalista do rock’n’roll curte axé”. Por causa disso tudo, eu fiquei com receio do que a galera do rock’n’roll, que é radical, quando eu virei Jheremias, ia achar. Mas eu comecei a trazer o rock para galera. Pra minha grata surpresa, os meninos daquela banda do Bruno Masi, a Superfly, eles me convidaram para cantar com eles no Rock’n’rio (casa extinta que ficava no Aeroclube). Tava lotado. Me bateu o saci. Como a galera do rock ia nos receber? Já tinha músicas minhas no rádio tocando. Quando eu subi no palco, fui ovacionado. Aquilo foi demais para mim. Os caras dizendo: “Você pode fazer isso porque você vem do rock e não nunca esqueceu suas raízes”. Sabiam da minha história. Durval é meu amigo desde o Pinel, quando ainda estava montando o Asa. A gente surfava junto, dava canja com ele. Não tinha porque a galera entrar nessa de “traidor do movimento”. Então aquele show com o Superfly foi uma grata surpresa, um alívio. Ali eu vi que era respeitado pela galera do rock’n’roll. Eu queria que eles entendessem isso, que eu sou o representante deles dentro do movimento da música baiana. Aí vem o Luiz Caldas, no DVD (do Jammil) em 2006, dizendo que eu sou a vertente rock’n’roll da música baiana.  Se o ‘pai do axé’ falou isso, eu fico feliz. Minha música tem percussão na minha banda. Eu adoro o que eu faço, jamais faria algo que não sentisse na alma. Pelo dinheiro, exclusivamente, não faria, muito pelo contrário. Já recebi proposta de fazer outras ondas e não quis. Tive proposta de seguir com a banda de rock em São Paulo, mas não fui. Eu adoro isso aqui (Salvador), mesmo com todos os defeitos que temos. Minha família está aqui, meus amigos. Eu não fui também por isso. Gosto de fazer a coisa que eu sinto. Um cara escreveu no Face, recentemente, me parabenizando pelo meu projeto acústico, dizendo que tinha o meu DNA. Eu não conseguiria colocar meu DNA em nada se não fosse verdadeiro.
 

Música da Diário Oficial, banda de rock de Tuca antes da fama no axé

BN: Para terminar, quem é hoje em dia o seu ‘Manno’ do peito?

TF: Eu tenho vários ‘manos do peito’ (risos). Os meninos da banda são meus ‘manos’ do peito. Eu vou devolver a brincadeira, eu tenho um novo mano do peito, que é o meu baixista Milton Pellegrini. Ele é um exímio músico, um cara de uma alma bacana, é o único diferente na banda (dos tempos do Jammil). E tenho amigos também: o Bell Marques é um deles, que eu conheci depois da fama. Ele mora perto de mim. Às vezes, a gente tá correndo na rua e se encontra. Conversamos sobre música, carreira solo; a própria Ivete também, eu conheço Ivete desde pivetinha. Eu tocando voz e violão no Barra Pizza, e tinha ‘essa menina’ que ficava me olhando cantar. Me disseram que ela cantava e chamei ela pra cantar. Ela respondeu, com uma voz grossa, ‘não, canto não’. Lembro que tocamos aquela “A noite vai ser boa” (Noite do Prazer), da banda Brilho. Até já comentei isso com ela em cima do trio, uma vez. A própria Claudia Leitte também. O Bell foi o único que conheci depois da fama. Mas Claudinha, Ivete, Netinho, conheci todos antes. 
 
BN: Você tem escutado o que o Jammil tem feito depois de sua saída?

TF: Sim, eu ouço tudo. Gosto do caminho que o Levi (Lima, novo vocalista da banda) tem seguido. Acho que a praia dele é naquela linha de “Colorir Papel”.
 
BN: E você canta “Colorir Papel” nos seus shows?

TF: Aí também é demais (risos)! Temos que separar as coisas, senão as pessoas podem se confundir ainda mais. Teve mesmo um show que fiz, que um cara depois me disse: “Adorei seu show, mas faltou ‘Colorir Papel’”. Mas eu gosto dele. Já encontrei com Levi e disse: ‘jogue duro”. Sei que um lance difícil de construir, ainda mais pegando algo que já tem uma história, mas eu desejo toda sorte para ele.