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Entrevista

“Não é um empecilho”, diz Zé Neto sobre possível candidatura de Pablo Roberto à prefeitura de Feira - 18/09/2023

Por Thiago Teixeira

 “Não é um empecilho”, diz Zé Neto sobre possível candidatura de Pablo Roberto à prefeitura de Feira - 18/09/2023
Foto: Priscila Melo / Bahia Notícias

O deputado federal Zé Neto (PT) acredita que a possibilidade de candidatura do deputado estadual Pablo Roberto (PSDB) à prefeitura de Feira de Santana em 2024 não é uma ameaça já que “se ele sair, afeta mais o lado de lá que o nosso”.

 

A declaração foi dada durante entrevista ao Bahia Notícias. Na ocasião, Zé Neto destacou que “pesquisas internas” indicam que, caso Pablo Roberto de fato confirme sua candidatura - se configurando assim como uma terceira via e fazendo oposição ao próprio Zé Neto e a Zé Ronaldo (União) -, não afeta muito os resultados finais da campanha,  já que é um voto considerado diferente.

 

“É mais complicado para o lado de lá do que para a gente. A gente não tá vendo isso nem como um empecilho, mas também nem como nada que seja um fator determinante no que vai acontecer na eleição de Feira. Nas pesquisas, uma parte do que ele representa é novidade e esse voto de novidade, da insatisfação, volta pra gente. E outra parte do que ele tem é voto da máquina, membros da prefeitura que estão ligados ao ex-prefeito e aí volta pro lado de lá. Não afeta muito os resultados finais da campanha,  pelo menos agora. Para gente não tem maiores consequências não. A turma de lá se preocupa mais do que nós. Nós achamos que o voto dele é um voto diferente do nosso”, afirmou Zé Neto.

 

Durante a entrevista, o deputado disse que, no entanto, existe sim uma possibilidade de diálogo com Pablo Roberto, uma vez que o deputado estadual pelo PSDB já foi eleito vereador em Feira de Santana, quando era do PT, entre 2012 e 2016.

 

“Não há nenhuma impossibilidade de conversar com ele. A gente que tá nesse processo político e financeiro, vai conversar com todo mundo pra saber o que cada um pensa. Mas ele aqui é mais independente. Vamos aguardar o tempo das coisas. É como eu lhe disse, não há nenhuma impossibilidade [de diálogo], mas também ainda não teve nenhuma sentada com ele para dialogar sobre o assunto”, destacou o petista.

 

O candidato do PT ao executivo feirense ainda falou sobre as articulações que o governador Jerônimo Rodrigues (PT) tem feito em Feira, destacou o seu papel como vice-presidente da Região Nordeste na Frente Parlamentar de Comércio e Serviços, discutiu sobre a Reforma Tributária pendente de aprovação no Senado e destacou as tensões entre o Nordeste com eixo Sul e Sudeste após declarações do governador de Minas Gerais, Romeu Zema. Confira a entrevista completa: 

 

Na última segunda-feira (11), a Frente Parlamentar de Comércio e Serviços trouxe à tona um debate sobre a Reforma Tributária e a Agenda Econômica no âmbito do Congresso Nacional. Como ocorreu o debate?

É muito importante trazer pra cá um debate que eu não vou sossegar enquanto não vê-lo cerrado e não ver votada a reforma tributária que está no Senado. Acho que não vai sair a reforma que nós queremos, a ideal. Não dá pra discutir agora a propriedade e nem discutir renda. Mas eu não tenho nenhuma dúvida que era fundamental a gente encerrar essa etapa de discussão da reforma tributária sobre consumo. E tivemos a oportunidade de trazer para Bahia um debate junto com a Frente Parlamentar do Comércio e Serviço, que tem como presidente, inclusive, o senador Efraim Filho, paraibano, que é também presidente do Grupo de Trabalho do Senado. Então foi uma oportunidade de nós trazermos aqui o setor produtivo da Bahia para opinar dentro dessa lógica da nossa contribuição e ficar pertinho desse debate. Inclusive, eu estive no Senado e conversei com o Otto [Alencar] e com o Jaques Wagner sobre o assunto. Eu espero que a gente possa estar contribuindo para que logo, logo o Senado volte, a previsão é que seja em outubro, e a gente retome lá para Câmara, porque devem mudar o texto. Daí, até o fim de novembro, começo de dezembro, possamos entregar ao Brasil o texto definitivo da reforma tributária.

 

Recentemente tem se falado sobre uma possível tensão entre Sudeste e Nordeste com relação à reforma tributária, inclusive após o comentário de Romeu Zema sobre a criação de uma aliança para defender interesses do Sul e do Sudeste. Na sua visão essa tensão existe? Quais os impactos dela para aprovação da reforma?

Olha, na verdade, tiveram algumas situações que o próprio governador [Romeu Zema] me parece que, desinformado, entrou meio solto,  principalmente no que diz respeito ao regime automobilístico. Ele acabou se alinhando lá [em Minas Gerais], no começo, a São Paulo e Rio, que queriam suspender o regime automobilístico, encerrando, inclusive, o regime, com a exclusão do artigo 19  do texto, o que prejudicaria a Bahia, o Norte, o Nordeste, o Centro-Oeste. Quando a gente fala em regime automobilístico é, no geral, a montadora e todas as cadeias que prestam serviço a essas montadoras. E ele deu uma declaração, inicialmente era nesse sentido. Mas me parece que hoje está tudo mais pacificado, até porque Minas também será um dos prejudicados, se houver a continuidade do que foi, infelizmente, revertido lá no plenário da Câmara, a pedido do Estado de São Paulo em relação a essa questão do regime automobilístico. Acho que não dá para pensar o Brasil separado. A reforma tributária vem para exatamente a gente dar um passo decisivo na melhoria do sistema tributário brasileiro, que infelizmente está no rol dos países que não têm o IVA [Imposto de Valor Agregado]. Dos 194 países do mundo, 173 têm o IVA,  os demais não têm. O Brasil está num time que não é bom, não moderniza, não melhora, não enxuga  e não avança.

 

Atualmente o texto da reforma prevê que o IPVA vai passar a ser cobrado de jatinhos, iates e lanchas, que atualmente não pagam tributo. Além disso, vai haver um imposto progressivo sobre heranças. Em resumo, a população mais rica vai passar a pagar mais imposto. Qual sua opinião sobre essas mudanças?

Olha, nesse primeiro momento esse tema ainda não é abordado de forma frontal, porque a gente está falando primeiro no consumo e ampliando para todo mundo o pagamento de impostos. E essa questão que se colocou sobre o patrimônio, ainda não está inclusa, mas no que diz respeito a algumas situações relacionadas a quem tinha  por exemplo lanchas e isso tudo para ser resolvido de forma mais minuciosa na lei ordinária de regulamentação. A gente espera que o Senado possa entregar um texto que não tire essa margem de arrumação de algumas situações que são  extremamente inacreditáveis como você pagar sobre o seu carro popular e alguém que tem um patrimônio muito elevado não pagar. Enfim, essa situação com relação ainda não chegamos lá acho que tem que ser uma coisa de cada tempo que a questão da renda e das propriedades ainda não foi tratada. Há sim um debate sobre essa necessidade. Mas, como eu te digo, não dá para embolar agora o meio de campo e trazer para a reforma tributária que está tratando mais efetivamente do consumo os outros elementos que politicamente talvez não ajude a gente a resolver passo a passo. O primeiro passo que tem que ser dado é o do consumo. Os outros terão o tempo certo.

 

A Frente Parlamentar de Comércio e Serviços é composta, em sua maioria, por deputados de direita e do chamada “centrão”. Como você, que tem uma ideologia diferente dos seus colegas, atua na articulação política, sobretudo em defesa do Nordeste e para se aproximar da região?

Não dá pra você pegar um tema econômico que tem fatores que são muito técnicos, que são muito ‘preto no branco’, realidades que precisam ser tratadas longe da ideologia e trazer ela. Tem coisa que é ideológica, tem coisa que não é ideológica. A política de importação não é ideológica. O que [Jair] Bolsonaro fez no Brasil escancarou. Saiu o e-commerce, por exemplo, que você tinha 4.100 autorizações em 10 anos, começou em 2009. Agora em 2019, quando ele mudou, em pouco tempo você chega a quase 25 mil autorizações de importações de produtos que são produzidos no Brasil sem estar em fação. Então, aí você pergunta: isso é ideológico? Não, isso é prejudicial. O e-commerce agora é prejudicial a todos os setores, ao comércio e ao serviço, se não tiver uma regra regulamentadora. Esses temas, reforma tributária, por exemplo, Bolsonaro era presidente e eu era a favor da reforma tributária. Eu continuo a favor, agora que sou aliado ao governo. Então o que eu acho que tem que a gente trazer pra política,  com mais serenidade e maturidade, é que gestão, economia, arrecadação e a visão de estruturação social que precisa desses recursos, que precisa de fomento, que precisa de orçamento, ela tem que ser tratada com mais serenidade e é o que eu tenho feito lá. Muita coisa que eu consegui, inclusive, reverter no campo mais à esquerda, foram coisas que muitas vezes a informação não chegava redonda e vinha mais pra disputa ideológica e de governo do que as necessidades do Estado brasileiro. Então, na minha visão, certos temas têm que estar longe das disputas ideológicas. Eu convidei o Rui [Costa] pra ir almoçar conosco lá na Frente de Comércio e Serviço, que eu sou vice-presidente lá e sou da de Empreendedorismo também. Foram quase três horas de debate. Grande parte do que a gente tratou não passa na disputa ideológica, passa na necessidade do Brasil estruturar a sua arrecadação, estruturar a sua política econômica, estruturar a sua política fiscal. Eu acho que aí é que entra necessidade da gente fazer a gestão da política longe de certas disputas. Pra mim, se colocar a ideologia  acima do tom, a gente acaba de um lado ou do outro, ou da extrema esquerda ou da extrema direita, prejudicando o país, e o país não merece mais isso. A gente tá passando num momento muito difícil, principalmente no que diz respeito a política tributária. A gente precisa de um marco regulatório. Esse tema tem que ser tratado com tranquilidade e equilíbrio.

 

O senhor tinha falado no início da nossa conversa que acredita que a reforma tributária não vai ser aprovada da maneira como o senhor  esperava. Quais são os pontos de discordância que o senhor encontra hoje no texto?

Não é nem de discordância, eu diria muito mais de perspectiva do que a gente precisaria para o Brasil. Nós precisaríamos de uma reforma tributária justa, solidária, como a gente vinha defendendo lá atrás, mas que ela também encaixasse o tema  patrimonial, o tema salarial, os temas todos que dizem respeito ao que já existe no mundo com relação a tributos. A gente vive ainda uma tributação muito regressiva. O pobre paga praticamente o mesmo imposto que o rico paga. No mundo inteiro, essa política, nos países de ricos, principalmente na Europa e nos Estados Unidos, o que acontece? Há uma política progressiva. Quem ganha mais, paga mais. Quem ganha menos, paga menos. Aqui no Brasil é diferente. É regressiva. Quem ganha mais paga menos e quem ganha menos, paga mais. Mas, para você atacar tudo ao mesmo tempo, você não tem ambiente político, não tem base política para isso e não tem amadurecimento na sociedade dessas temáticas para terem tratadas todas de vez, principalmente no Congresso, uma correlação de forças. E quando a gente mexe numa situação como propriedade, como patrimônio, como imposto sobre ganhos, a situação não é tão simples. Então, eu digo assim, se não temos a reforma ideal, é como na vida. Você tem que dar os passos que você precisa dar. Você não pode estar nem parado, nem sendo engolido pelo que está à sua frente. Então, eu acho que a gente não tem a reforma ideal, mas também é a reforma que nós precisamos ter no momento que estamos vivendo no Brasil. Eu acho que a gente vai sair. Se você perguntar se o arcabouço fiscal foi o ideal, não, não foi. Mas está muito bom para o que a gente tinha.

 

Deputado, saindo até um pouquinho de Brasília, e lá em Feira de Santana? Jerônimo já iniciou o diálogo político com os partidos, mas ainda não engrenou. Ele já indicou como é que ele pretende cuidar da articulação lá?

Isso é uma situação que ele tem que ter muito cuidado porque, na verdade, sempre a gente tinha disputa no PT para ser candidato. Novamente agora o PT decidiu  mais uma vez indicar meu nome por unanimidade. É bom, porque vocês sabem que no PT pra você construir unanimidade com antecedência não é fácil. E é correto, porque nós somos partido da democracia interna. O fato de ‘Zé Neto’ ser o candidato pela unanimidade do PT, ele é o candidato da base? Não necessariamente. Então o que Jerônimo tá fazendo, e eu concordo, acho que tem que ser dessa forma, é não impor nada. É abrir diálogo com as outras forças que compõem a base. Agora é óbvio que a gente tem um time pra isso. Acho que esse time tá chegando e ele já tá se movimentando agora  junto com o Conselho Político para que a gente possa entrar em campo de forma  mais efetiva. Então, pra mim, tá tudo em paz. A gente tá tocando nossa vida. Sou pré-candidato do PT. Deverão ter outros pré-candidatos da base. Estamos conversando para que a gente possa vir com a melhor estratégia, tanto em Feira, como em Salvador, como nas outras cidades.

 

E esse cenário de divisão no MDB com o atual prefeito de Feira, Colbert, apoiando o outro lado, como é que o senhor enxerga isso? Pretende tentar forçar essa "divisão" da legenda para conseguir o apoio? 

Essa conversa com o Lúcio [Vieira Lima] é uma conversa geral na Bahia. Com o Lúcio, com o Geddel [Vieira Lima] e com o MDB. Sinceramente, eu acho que a gente tem que estar atento ao tempo e continuar conversando. E como eu disse, tá chegando, tá apertando, começou, o processo começou a  ficar mais afunilado. Isso é do jogo da política, do tecido  da política, da engrenagem  da política, do xadrez da política. E agora nessa reta de setembro a outubro, eu acho que a gente vai afunilar mais e as coisas  começam a ser decididas agora e as conversas que o Jerônimo tinha  se comprometido a estar fazendo vão avançando no sentido de, daqui até novembro, já tá tudo resolvido. Pelo menos com grande parte dessas candidaturas decididas.

 

E Pablo Roberto? O deputado estadual é filiado ao PSDB, que andou namorando com o governo, mas nada de conclusivo. Será que pode conseguir angariar o apoio, já que é um antigo filiado do PT?

Não há nenhuma impossibilidade de conversar com ele. A gente que tá nesse processo político e financeiro, vai conversar com todo mundo pra saber o que cada um pensa. Mas ele aqui é mais independente. Me parece que, em termos de PSDB da Bahia, PSDB, apesar de ter apoiado aqui no Estado, na maioria das cidades tem apoiado a nossa oposição. Em termos nacionais, a cena para uma possível conversa em algumas cidades do Brasil e na Bahia não é diferente. Vamos aguardar o tempo das coisas. É como eu lhe disse, não há nenhuma impossibilidade [de diálogo], mas também ainda não teve nenhuma sentada com ele para dialogar sobre o assunto.  Acho que o que vai desenrolar essas outras conversas, são as conversas inicialmente com os partidos que fazem parte da nossa base.

 

Mas existe a possibilidade do Pablo Roberto sair como uma possível terceira força. Como é que o senhor enxerga essa possível candidatura?

Eu acho que se ele sair, afeta mais o lado de lá que o nosso. A gente tem pesquisas internas, tem qualitativas e mostram que, se ele sair candidato,  afeta mais a situação dele. É mais complicado para o lado de lá do que para a gente. A gente não tá vendo isso nem como um empecilho, mas também nem como nada que seja um fator determinante no que vai acontecer na eleição de Feira. Nas pesquisas, uma parte do que ele representa é novidade e esse voto de novidade, da insatisfação, volta pra gente. E outra parte do que ele tem é voto da máquina, membros da prefeitura que estão ligados ao ex-prefeito e aí volta pro lado de lá. Mas tem esse equilíbrio na presença ou na saída dele. Não afeta muito os resultados finais da campanha,  pelo menos agora. Para gente não tem  maiores consequências não. A turma de lá se preocupa mais do que nós. Nós achamos que o voto dele é um voto diferente do nosso. Alguma situação ali de votos que pessoas que votam nele porque acham alguma novidade na política, que são as pessoas que querem mudança. Esses votos também podem voltar  pra gente. Mas isso é tudo muito relativo. Tá muito distante. Ainda pode ter uma base  mais sólida sobre essas avaliações.