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'Quero que através de mim esses fantasmas da minha geração falem', diz Marieta Severo

Por Ailma Teixeira

'Quero que através de mim esses fantasmas da minha geração falem', diz Marieta Severo
Foto: Leo Aversa / Divulgação
Embora retrate uma tragédia situada no cenário de guerra civil instaurado no Oriente Médio, a peça "Incêndios” é classificada como um “clássico contemporâneo” muito próximo da realidade social brasileira. “A gente tem 60 mil mortos – inclusive jovens, negros, pobres – por ano, isso é um número de guerra civil. A gente tem isso e isso não é declarado”, compara Marieta Severo, que interpreta a protagonista da trama, dirigida por Aderbal Freire-Filho. Juntos, os dois concederam uma entrevista coletiva à imprensa, na noite da última sexta-feira (15), na sede da Air Europa. “Pra mim, é muito fácil eu criar uma ponte de ligação com a minha geração, com a Nawal. Eu vivo com mulheres, eu cresci com mulheres, que foram presas, torturadas, inclusive eu dedico meu trabalho a Zuzu Angel (1921-1976) [estilista brasileira, mãe do militante político Stuart Angel Jones], que é uma mulher que eu conheci, que foi nossa amiga e que o seu filho Stuart foi torturado, morto pela ditadura e ela queria só resgatar o corpo dele pra poder enterrá-lo, então nós não estamos distantes. Eu me sinto contando essa história muito próxima da realidade brasileira”, avalia. Usando como exemplo uma fala da própria personagem durante a peça, Marieta declara: “Eu quero que através de mim esses fantasmas todos da minha geração falem”.


O secretário de Cultura, Jorge Portugal, com o diretor Aderbal-Freire Filho e a atriz Marieta Severo | Foto: Ailma Teixeira / Bahia Notícias

Aderbal ressalta que essa conexão parte do texto original do escritor franco-libanês Wajdi Mouawad, que já rendeu até longa-metragem indicado ao Oscar “Melhor Filme Estrangeiro” em 2011. “O teatro tem essa capacidade de falar de questões, de situações que são de todos os tempos, que tem essa universalidade. Como disse a Marieta, a peça se passa no Oriente Médio, na guerra civil, mas ao mesmo tempo ela tem uma ligação com o Ocidente porque a personagem fugiu pra um país que, supostamente, é o Canadá”, pontual o diretor. Com a guerra como plano de fundo da trama, Aderbal acredita que “Incêndios” joga luz sobre assuntos pouco pautados no país, como a situação dos refugiados. “Tem uma coisa curiosa porque, por exemplo, tem uma questão horrível hoje do ódio alimentado e que a peça fala, mas por outro lado, ela lembra de uma questão que, por causa de interesses, estamos muito fechados no Brasil e a gente não olha, que é a questão dos refugiados, das pessoas que procuram sociedades, que tem fugido pra Europa e tudo isso faz com que a peça, portanto, tenha essa atualidade nacional e internacional que a gente está olhando pouco pra ela”, destaca o diretor. Com curta temporada na cidade, a peça terá duas apresentações no Teatro Castro Alves, neste sábado (16), às 20h, e domingo (17), às 19h (leia mais aqui).