‘Libera, nêga’: Antecipação de salários é benesse para políticos no poder
Por Fernando Duarte
Servidores públicos não deveriam se deixar enganar. Há algum tempo nos respectivos postos, entendem que os humores dos governantes, seus empregadores sob uma ótica bem simplista, são determinantes para que recebam benesses trabalhistas. Na última semana, uma enxurrada de gestores públicos divulgou a antecipação dos salários de junho ou até mesmo de uma parcela do 13º salário. Na disputa entre Rui Costa e ACM Neto, para citar dois desses gestores, houve uma batalha para ver quem “liberava mais”. O governador anunciou parte do salário de junho e o prefeito de Salvador, em provocação, anunciou a integralidade para os servidores. Ambos apenas explicitaram a estratégia de marketing que funciona bem para quem está no poder. Ao “antecipar” o pagamento dos vencimentos dos servidores à época dos festejos juninos, uma tradição nordestina, governadores e prefeitos tentam conquistar a simpatia frente aos prestadores de serviços públicos. Em tempos em que o reajuste zero ou apenas a compensação da inflação têm sido quase uma regra para o funcionalismo público, qualquer carinho é bem-vindo. A liberação de salários antes do tempo é tratada como uma benesse do gestor, preocupado com o lazer e a diversão daqueles que fazem a máquina pública girar. Porém beneficia muito mais quem está no poder do que quem recebe os proventos antecipadamente – afinal, as contas de julho vão chegar com ou sem antecipação dos salários. Parafraseando MC Beijinho, os governantes ouvem o “me libera, nêga” para deixar os servidores os amarem. A sorte é que os servidores não se deixam enganar. Este comentário foi veiculado na RBN Digital às 7h, com reprise às 12h30.