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Mulher sai de São Paulo para encontrar filha na Bahia que não vê há 47 anos

Por Maria Garcia

Mulher sai de São Paulo para encontrar filha na Bahia que não vê há 47 anos
Fotos: Maria Garcia/ Bahia Notícias
Os brasileiros entraram e saíram, em 47 anos, de um período sombrio de ditadura e conquistaram o voto direto para presidente. O homem também conseguiu chegar à lua e as mulheres suíças passaram a votar. E é neste mesmo período de tempo que a aposentada Antônia Jesus da Silva, 66, tenta rever a sua filha desde que saiu do de Itacaré, sua terra natal, para trabalhar em São Paulo. Com passagem de volta para a capital paulista no dia 26 de janeiro, Antônia veio pela primeira vez a Salvador nesta quarta-feira (15) somente com vestígios do que seria, possivelmente, os próximos passos em busca de Valdenice Souza Clemente. Nas mãos, a mãe de uma filha desconhecida só tinha o nome do Fórum Ruy Barbosa – para onde ela foi recomendada a ir quando estivesse na capital baiana –, endereços dos homônimos de sua rebenta em Salvador e Feira de Santana, e uma carta escrita por ela em 1981 para sua irmã Nancy Souza Clemente, 44, que mora com Antônia – a última tentativa de contato da menina com a família de São Paulo. A aposentada chegou a enviar cartas e tentar localizar o endereço de remetente, mas não teve sucesso.


Último sinal da filha foi uma carta feita por ela em 1981
 
“Quando vejo na TV as pessoas em busca de familiares, eu espero que ela esteja me procurando”, revelou a aposentada ao Bahia Notícias. Antônia tinha 19 anos quando, ainda em Itacaré, viveu uma paixão avassaladora com o também conterrâneo Laudelino Souza Clemente, na época com 35 anos. Um tempo depois de passarem a viver juntos e terem a primeira filha, Laudelino disse à Antônia que se mudaria para uma fazenda ainda no sul do estado e, depois de um tempo, a levaria contigo. Ele não mais voltou, e deixou Antônia com uma criança de três anos e grávida de sete meses. Sem trabalho em Itacaré, a agora aposentada deixou sua primogênita com Maria Tibucio, mãe de sua antiga paixão, para tentar trabalho em São Paulo, onde conseguiu com serviços em casa de família. “Não tinha como ficar aqui. Itacaré naquela época não tinha trabalho. Até cheguei a trabalhar em Ilhéus, mas não conseguia emprego. Eu tinha vontade de fazer direito, mas aprendi a fazer torta”, relatou. 
 
 
Atualmente, Antônia Silva vive em São Paulo com o dinheiro da aposentadoria e das comidas que ela vende para as “madames”. Ela mora com a filha e a amiga, Silmara Santana, que também veio de Itacaré. Foi a comadre que encontrou o nome de Valdenice – registrada só com o nome do pai – no Fórum de Maraú, também do sul baiano. A nova informação foi o que motivou a aposentada a voltar a sua terra natal, no dia 31 de dezembro, com um suspiro de esperança de voltar a ver a sua filha. Antônia chegou a ir a Maraú para saber mais detalhes do nome registrado, mas os funcionários negaram o seu acesso à papelada de Valdenice. Um novo caminho a levou à fazenda onde seu ex-marido viveu. Ao chegar, vizinhos que ainda estão no local informaram-na que Laudelino já havia se mudado para Salvador e faleceu na capital. A informação a fez conhecer Salvador justamente no dia da lavagem do Senhor do Bonfim, nesta quinta-feira (15), oportunidade perfeita para pedir à santidade o momento que ela tanto espera. “Todo mundo diz que ‘mãe é quem cria’. Mas quem não cria também tem um sentimento de mãe, um sangue de mãe e uma alma de mãe. Agradeço a quem cuidou dela. Mas queria conversar com ela, abraçá-la e ter uma relação de amiga. Se ela não quiser nada, não tem mais o que fazer. Apenas quero vê-la”, emocionou-se. Quando questionada o que a levou a “abandonar” a filha, ela responde que “era boba, só tinha 21 anos”. Antônia foi uma das nordestinas que, em busca de uma melhor qualidade de vida aos seus familiares na década de 60, deixou o seu mundo para buscar oportunidades em São Paulo. Na época, achava que valia a pena. Agora, nem tanto. “Eu me arrependo pelo que fiz e não recomendo a ninguém que faça isso”, enfatizou a aposentada.