Usamos cookies para personalizar e melhorar sua experiência em nosso site e aprimorar a oferta de anúncios para você. Visite nossa Política de Cookies para saber mais. Ao clicar em "aceitar" você concorda com o uso que fazemos dos cookies

Marca Bahia Notícias
Você está em:
/
Notícia
/
Geral

Notícia

Entrega simbólica de mandatos cassados é marcada por emoção e exaltação à democracia

Por Fernanda Aragão

Entrega simbólica de mandatos cassados é marcada por emoção e exaltação à democracia
Fotos: Manu Dias/GovBA
Os 50 anos do Golpe Militar de 1964, completados nesta segunda-feira (31), foram lembrados com uma homenagem na Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA). Políticos, entre eles o governador do Estado, Jaques Wagner, e o presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Nilo (PDT) – que conduziu a celebração –, além de estudantes e representantes de setores da sociedade civil acompanharam a entrega simbólica dos mandatos de 13 deputados baianos que foram cassados durante a ditadura. Dos quatro ainda vivos, três estiveram presentes: o médico Luiz Leal, o petroleiro Wilton Valença e o advogado Marcelo Duarte. “A gente sentiu sempre a falta disso. [...] Hoje, se restaura tudo que aconteceu de ruim naquele período”, disse Leal pouco antes do início da homenagem. No discurso de agradecimento, sua filha, Magali Leal, fez uma crítica às recentes manifestações a favor do retorno à ditadura. “Tem me arrepiado ver nessas redes sociais mensagens a respeito da volta daquela época. Felizmente, também existem pessoas lutando contra”, afirmou. 
 

 
O filho de Marcelo Duarte, o secretário da Administração Penitenciária e Ressocialização (Seap), Nestor Duarte, se emocionou ao agradecer a honraria. “Na escola, sempre me perguntavam: Seu pai está preso? Ele roubou alguma coisa? [..] Nunca vou esquecer uma frase que ele dizia: ‘Vencer sem orgulho, perder sem desespero’", contou com a voz embargada. Sebastião Nery não pôde comparecer por problemas de saúde e foi representado por sua irmã, a freira Maria de Fátima Nery. Já Wilton Valença, fez questão de tomar a palavra e chorou ao agradecer a homenagem e lembrar da mãe e dos amigos de luta. Os falecidos foram representados por familiares, como a filha de Ênio Mendes, Raquel Mendes de Carvalho, que contou a história de seu pai, o qual, ao ser citado, foi aplaudido de pé pela plateia.
 
 
Antes da entrega dos títulos, o deputado Marcelino Galo (PT), presidente da Comissão Especial da Verdade na Bahia, exibiu trechos de depoimentos sobre a repressão militar e chorou ao falar da importância do momento. “Fui um dos jovens da luta dos anos 70, assim como Wagner. [...] Minha participação no movimento estudantil foi decisiva para eu estar aqui hoje, cumprindo este papel”, declarou, entre pausas de emoção. Galo ainda saudou os estudantes que participavam da celebração. Entre eles, os da Escola Estadual Carlos Marighela, que recebeu este nome no dia 14 de fevereiro em homenagem ao político, poeta e guerrilheiro baiano que combateu o regime ditatorial. “Além de ser uma experiência cívica, em nível histórico, isso não tem precedentes”, disse a diretora da instituição, professora Aldair Dantas, que acompanhava os jovens do primeiro ao terceiro ano.
 

Quem também exaltou a participação dos estudantes foi o governador Jaques Wagner que, durante seu discurso, disse parecer estar em uma classe, não em um auditório. “Estamos em uma sala de aula. É importante que essa garotada tenha essa aula de história”, afirmou. Wagner ainda lembrou que os últimos 29 anos são o maior período democrático experimentado pelo país, mas ressaltou que “a democracia brasileira é uma planta que precisa muito ser regada”. Ele complementou com a afirmação de que a devolução simbólica foi importante, não como forma de revidar o que foi feito ou por “repulsa”, mas para fortalecer o regime democrático. O discurso do governador foi interrompido por duas vezes. Primeiro, Wagner elogiava a iniciativa da escola estadual em solicitar a alteração do nome do colégio de Emílio Garrastazu Médici para Carlos Mariguella quando um homem gritou da plateia: “Precisa mudar o nome do aeroporto”. No momento, o governador respondeu que já existia um projeto de lei com a solicitação e criticou: “Nenhum cidadão pode ser considerado maior do que a saga do 2 de Julho”. Depois, um grupo de militantes estendeu uma faixa com o desenho do rosto de Marighella e se posicionou no meio do auditório. “Carlos Marighela, presente, presente, sempre, sempre. Viva o povo Brasileiro”, aclamaram e foram seguidos pelo público com aplausos. A cerimônia que começou às 9h40 terminou por volta das 12h desta segunda.