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Entrevista

Antônio Elinaldo, prefeito de Camaçari

Por Francis Juliano / Ana Cely Lopes / Fernando Duarte

Antônio Elinaldo, prefeito de Camaçari
Fotos: Tiago Dias / Bahia Notícias
O prefeito de Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador (RMS), Antônio Elinaldo (DEM), diz que não afastará uma secretária de governo, tornada ré em uma ação do Ministério Público Federal (MPF-BA). Para Elinaldo, a acusada é de sua confiança e o fato é mais “um factoide” gerado pela oposição. Em entrevista ao Bahia Notícias, o gestor declarou que o maior problema que tem de lidar – passados já quatro meses de gestão – é a herança deixada pelos adversários, que deixaram a cidade, segundo maior economia do estado, “acabada”. Ainda na entrevista, o prefeito é questionado sobre nomeações e contratações de empresas de aliados, que também causaram polêmicas. Elinaldo também fala sobre a esperança de a economia do país reagir, beneficiando a cidade, e volta a culpar o PT, responsável pelas últimas administrações. “Camaçari foi pautada durante 12 anos pela corrupção, pelo roubo. Desviaram dinheiro do trem, desviaram dinheiro da obra do rio, que foi R$ 240 milhões, desviaram mais R$ 70 milhões da obra sanitária do município. E está aí o município no caos. Usaram o dinheiro público para financiar o seu projeto familiar e de um partido só. Isso acabou Camaçari,” atacou. Veja a entrevista na íntegra abaixo:
 
 
Como o senhor encontrou as contas da prefeitura assim que assumiu?
Encontramos totalmente acabada. Tinha R$ 80 milhões de dívidas, o município parado, sem poder de arrecadação. Estamos agora com quatro meses de governo, organizando a máquina e, especialmente, as finanças. Não se faz nada se as finanças não estiverem organizadas. Por isso, estamos levando isso muito a sério para organizar outros setores. Porque para a educação e outros setores avançarem, é preciso que a economia do município esteja forte. Camaçari sofre com a questão econômica mais do que as outras cidades da região metropolitana. Eu falo isso constantemente. Camaçari tem o polo automotivo e o petroquímico. É tida como a cidade da oportunidade. Por isso, vários trabalhadores vieram para Camaçari. Só que hoje em dia, muitas empresas demitiram trabalhadores e isso vem causando um déficit de desemprego enorme. Com isso, cai a receita, mas os trabalhadores demitidos continuam no município, usando serviço social, usando a nossa educação, a nossa saúde, dando despesa ao município e não contribuindo. Isso vem causando muitos problemas, mas eu tenho certeza que quando a economia reagir, vai haver um avanço muito rápido na economia do município. 
 
Uma reportagem da Folha de São Paulo mostrou a contratação sem licitação pela prefeitura de Camaçari da Naturalle Tratamento de Resíduos (lembre aqui). Esta empresa tem como sócios Vitor e Rodrigo Loureiro Souto, filhos de Paulo Souto, aliado e colaborador da campanha do senhor em 2016? Por que esta empresa e não outra?
Nós encontramos a cidade sem contrato para limpeza urbana. A cidade estava suja. Esse caso tem mais politica do que seriedade. Tinha que se fazer um contrato e não dava tempo para fazer licitação. Abrimos concorrência na época, várias empresas participaram. Nós diminuímos o valor. Na época, se gastava R$ 6,8 milhões. Acabamos gastamos R$ 1 milhão a menos por mês.  Depois disso, a cidade ficou limpa, o trabalho melhorou. 
 
O senhor é criticado por ter nomeado parentes de funcionários de alto escalão da prefeitura. Exemplos de Isis Lobo, nomeada no Instituto de Seguridade do Servidor Municipal (ISSM), filha do secretário de governo, Helder Almeida. Também tem a filha do vice-prefeito, Tude, Márcia Tude, que é secretária de cultura. Não havia outros nomes melhores para essas funções?
Ísis, filha de Helder, coincidentemente é uma advogada que já me ajuda há muito tempo. É uma pessoa da minha confiança. Essa questão que se fala de empregar parentes tem uma diferença muito grande. Em Camaçari, os últimos prefeitos empregavam seus parentes. Se eu tenho uma secretária do primeiro escalão e eu tenho necessidade para o segundo, terceiro e quatro escalão, eu não tenho nenhum impedimento sobre isso. Não posso e nem devo é empregar pessoas da minha própria família. Mas isso é coisa criada, factoide que criam.
 
 
Com uma possível aprovação da reforma trabalhista, aumentando o poder de pressão do patronato, o senhor teme que os empregos na cidade possam ficar mais precarizados? 
Eu tenho dito que, depois de mais de 120 dias de governo, nós enfrentamos um adversário lá em Camaçari que não é bom de construção, mas sim de destruição. O PT para construir é complicado, mas para destruir, eles são bons. Tudo o que está acontecendo no país e em Camaçari é o resultado do governo do PT. Foram 12 anos do PT que deixaram a cidade acabada. Com segurança acabada, desemprego, educação acabada, esse é o espelho do país. Agora, quem assumiu tem que correr para melhorar esses serviços. Hoje, está difícil atrair empresas para o Brasil. Todo dia tem fato novo de corrupção, da Lava Jato, da Petrobras, e isso também aumentou nos governo Lula e Dilma. Mas nós estamos organizando a cidade. Escolhemos o secretário de Indústria e Comércio [Sérgio Vilalva, ex-diretor de Desenvolvimento Econômico da gestão ACM Neto, em Salvador] que é bem relacionado a nível nacional e internacional para atrair emprego para Camaçari, mas depende do país. Se o país reagir, Camaçari vai reagir também.  
 
Em relação ao orçamento do Município, o segundo maior do estado [cerca de R$ 1,2 bi anual em 2016], a população pode esperar um maior investimento em educação e saúde a partir de agora?
A educação e a saúde, naturalmente, o município tem de investir, com 15% para saúde e 25% para educação. Esses índices são obrigatórios. O que a gente tem que fazer é organizar as finanças para arrecadar mais e investir. Por isso, a gente tem que estar concentrado nesses assuntos. Mas lá, a gente está enfrentando esses movimentos baixos. Lá 12 estudantes [que ocuparam a Câmara contra o aumento de passagem de ônibus] conseguiram deixar a Câmara de Vereadores uma semana sem sessão. Já pensou se isso virar moda? Daqui a pouco, 12 trabalhadores de qualquer segmento vão e paralisam a Câmara. 
 
Camaçari, apesar do polo industrial, com grande arrecadação, ainda mantém uma desigualdade social significativa. Como distribuir melhor a renda e diminuir essa desigualdade?
Eu tenho 45 anos de idade, e moro todos esses anos em Camaçari. A cidade foi muito usada por aqueles que só se aproveitaram, que tiraram proveito dela. Neste momento, o município não está arrecadando como antes. Em 2016, foram arrecadados quase R$ 1,2 bilhão. Este ano, a nossa previsão é de arrecadar R$ 1 bilhão. Quer dizer, aumentou água, luz, custeio, e a gente tem que se virar com esse orçamento. Eu acho que o olhar dos que passaram por lá foi equivocado. Claro que a gente tem que dar habitação. Eles propagam que deram 25 mil habitações em Camaçari e não conseguiram acabar com o déficit habitacional na cidade. Hoje, se eu tivesse 10%, ou seja 2,5 mil casas, eu acabava com esse déficit. Porque distribuíram de forma incorreta, dando a apadrinhados, favorecendo alguns amigos, e as pessoas que tinham necessidade não tiveram esse benefício.
 
 
O senhor, quando vereador de oposição, criticou o projeto Cidade Saber, considerado referência pela então gestão Ademar Delgado. Como está o projeto agora, e qual a perspectiva a médio e longo prazo?
A Cidade Saber foi e vai voltar a ser um projeto importante na nossa cidade. No início, fez um bom trabalho, o que se gastava era viável. Só que com o tempo, começaram a fazer dela um objeto de trampolim político para militantes do PT. Tinha uma ONG, a Raimundo Pinheiro, que cerca de 300 funcionários não faziam nada. Eram apadrinhados políticos que faziam o trabalho político para o PT. Isso quebrou a Cidade do Saber. Hoje, não está do jeito que pensamos, mas já está bem melhor do que quando encontramos. Pretendemos fazer uma gestão direta com a prefeitura. Com o orçamento que iria para a tal ONG, a gente vai fazer diretamente com a secretaria de Educação, de Cultura e Esportes, criando uma coordenação na Secretaria de Educação. Eu tenho certeza que já no final deste ano, a gente vai prestar um serviço melhor e com pelo menos 50% do que era gasto antes.
 
Uma das suas secretárias, Josilene Cardim Barbosa, virou ré [junto com o ex-prefeito de Candeias Sargento Francisco], no final de abril por decisão de um juiz federal que acatou uma ação do MPF-BA [Ministério Público Federal]. Na época, Josilene Barbosa atuava pela prefeitura de Candeias em uma acusação de desvios de verbas na saúde (veja aqui). O senhor pensa em afastá-la por conta do caso?
Olha, Josilene é minha secretária e é uma pessoa bastante honesta. Antes de ela ser contratada, nós tivemos várias conversas e ela fez questão de esclarecer tudo isso. Ela é vítima dessas politicagens. Por motivo nenhum, vou demitir Josilene. Hoje, é uma das principais secretárias do Município, vem somando, e é uma das que mais trabalham. E não tem nada que prove algo contra ela. Só factoide, só questões que eles [oposição, PT] trabalham para atrapalhar a gestão. 
 
 
O senhor tem uma origem humilde. Como tornar isso uma vantagem do ponto de vista administrativo, e não uma desvantagem, já que os adversários podem usar isso contra o senhor?
Lá em Camaçari, eles trocam a pessoa simples como boba, ou como aquela que não tem inteligência para resolver as coisas. Acho que os adversários pecaram em menosprezar o seu concorrente. Na campanha, eu sofri bastante com essa questão de preconceito. Primeiro, diziam que eu não tinha condições técnica e psicológica de assumir uma campanha de deputado estadual. Eu assumi a campanha e fui o deputado mais votado da cidade, primeiro suplente, quase assumo a assembleia. Veio a campanha de prefeito, e ocorreu esse mesmo preconceito. Eu, pelo contrário, sempre respeito meu adversário. Agora, como gestor, eles, o tempo todo, criam factoide, dizendo “Helder manda na prefeitura”, “Tude manda na prefeitura”, “Neto manda na prefeitura”. A população votou para Elinaldo mandar, para ser prefeito, ela quer o resultado. Essa questão de ser simples nem ajuda nem atrapalha. Agora, para finalizar, dando até um conselho aos meus adversários. Fazer como faço, porque eu respeito eles. Meu adversário, mesmo como gestor, em especial o deputado Luiz Caetano, sempre foi um fracasso, mas para destruir, eu dou nota dez para ele. Destruiu a cidade e continua trabalhando para destruir. A gente está com uma equipe bem-intencionada, que quer que a cidade avance e volte ao que era antes, mas ele continua trabalhando contra, fazendo oposição. Eu acho que o maior cabo eleitoral na campanha foi esse preconceito. Camaçari foi pautada durante 12 anos pela corrupção, pelo roubo. Desviaram dinheiro do trem, desviaram dinheiro da obra do rio, que foi R$ 240 milhões, desviaram mais R$ 70 milhões da obra sanitária do Município. E está aí o município no caos. Usaram o dinheiro público para financiar o seu projeto familiar e de um partido só. Isso acabou Camaçari.