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Crise impacta a Justiça do Trabalho e leva a casos 'desagradantes', avalia desembargador

Por Cláudia Cardozo

Crise impacta a Justiça do Trabalho e leva a casos 'desagradantes', avalia desembargador
Valtércio de Oliveira | Foto: Cláudia Cardozo/ Bahia Notícias
A crise que assola o país afeta o trabalhador diretamente. Essa é a concepção do ex-presidente do Tribunal Regional do Trabalho da Bahia (TRT-BA), desembargador Valtércio de Oliveira. Ele avaliou que a crise financeira que atinge o Brasil terá impactos diretos na Justiça do Trabalho, pois funcionários recorrerão aos tribunais para ter acesso aos seus direitos trabalhistas. “Todas essas ações vem para a Justiça do Trabalho. Até agosto, haviam sido dispensados no Brasil inteiro 550 mil trabalhadores da construção civil. Os shoppings estão vazios. O seguro-desemprego auxilia o trabalhador por dois, três, quatro meses, mas depois, ele vai fazer o que? Essa crise é muito preocupante. A crise, em minha opinião, perdeu o rumo. É preciso que os nossos governantes não sejam tão céleres para gastar o dinheiro público. Esse dinheiro quando é gasto com ações para o desenvolvimento do país é válido, mas o pior é quando sai no ralo da corrupção.  O emprego é que traz dignidade para o trabalhador”, avaliou o desembargador. Oliveira diz que um funcionário é o mais afetado, pois o único patrimônio que ele tem para manter sua família é a sua força de trabalho. “Se essa força-trabalho não está sendo contratada para que ganhe um salário e se mantenha, quem sofre automaticamente é ele e a família”, disse. Para exemplificar, ele conta que esteve na Enseada do Paraguaçu, em São Roque. “Eu fiquei impressionado com o projeto, que era grandioso. Eu fui à época com o presidente da Fieb, fomos visitar, com as empresas, projetos que tinham sete mil empregos diretos, sem computar os empregos indiretos. A comunidade pujante. Gente que recebeu uma indenização da Justiça, que recebeu FGTS, que economizou alguma coisa, que abriu salão de beleza, abriu mercadinho, que abriu pousada, restaurante. Quando esses sete mil trabalhadores foram dispensados, o comércio desapareceu. O impacto disso na sociedade é muito grande”, ponderou o desembargador. “Se a justiça do Trabalho não cumpre com seu dever de forma célere, as pessoas deixam de receber aquilo que tem direito, e, muitas vezes, faz com que uma filha vá se prostituir com 12 anos de idade para levar comida para casa. Isso é degradante”, comenta. Ele também diz que a crise pode aumentar os índices de trabalho infantil e trabalho escravo. “O pai está em casa desempregado, então ele manda o menino dele vender alguma coisa, uma bala, doce, queijo em uma praia. A criança que era para estar na escola, está trabalhando. Vender um produto na rua é trabalho. Agora, imagina a criança que tem que ir para o canavial, no corte cana, com facão, com sol a pino? Imagina os empresários inescrupulosos que se aproveitam da situação e dizem ‘olha, nós temos emprego aqui’, enchem um caminhão de gente e chegam lá, veem que é trabalho escravo. A pessoa trabalha e não tem nem alimento e nem espaço para dormir. Dorme debaixo de lona, ao relento. Isso é preocupante. Eu acho que nós devemos sempre aprender com a história. Nossos governantes precisam ler um pouco mais”, finaliza.