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'Se espelhem em mim', diz Maria Adna, primeira presidente de tribunal cadeirante

Por Cláudia Cardozo

'Se espelhem em mim', diz Maria Adna, primeira presidente de tribunal cadeirante
Maria Adna, presidente do TRT-BA | Foto: Bahia Notícias
“Pela primeira vez na Justiça do Trabalho do Brasil, toma posse, talvez de todos os tribunais do país, como presidente uma mulher cadeirante. A sociedade ganhou”, afirmou a desembargadora Maria Adna Aguiar, nova presidente do Tribunal Regional do Trabalho da Bahia (TRT-BA), durante seu discurso de posse, na noite desta quinta-feira (5). Aos dois anos, Maria Adna foi acometida pela pólio. A doença não a limitou em buscar seus sonhos, e, agora, alcançar o mais alto posto da Justiça do Trabalho na Bahia. Ela mesma reconhece que se tornar presidente do TRT-BA é um símbolo e representação para tantas outras pessoas que se encontram na mesma situação. “Chamo a todos que tenham filho, alguém em casa com alguma dificuldade, que se espelhem em mim. Eu cheguei a uma instância tão importante, de tanta responsabilidade, como é o TRT”, disse para a imprensa.  Maria Adna considera importante destacar o fato de ser cadeirante, e, através de sua trajetória de escolaridade, de concursos, de buscar ocupar espaços públicos com o apoio de sua família. “Nesse momento, me sinto na responsabilidade de contribuir para que a acessibilidade seja disponibilizada para o conjunto das pessoas que tenham alguma dificuldade”, disse ao Bahia Notícias. A nova presidente do TRT diz que a acessibilidade aos prédios públicos, como do Judiciário, é importante. “Eu vejo que não tem rampas. Você viu que aqui na Reitoria o elevador sempre tem problema. No Supremo Tribunal Federal também tem problema. Todos os prédios públicos tem uma dificuldade. Você vê nos toaletes que não tem acesso. Muitas das vezes é o deposito de vassouras, de baldes. A gente tem que ter um certo olhar mais detalhado para isso”, sinaliza. Militante dos direitos humanos, Maria Adna diz que o tribunal do trabalho, por si só, já trabalha com questões sociais. Ela diz que agora, depois de levantar bandeiras, o tribunal vai incorporar essas questões, e dar maior visibilidade a causas como o combate ao trabalho infanto-juvenil e trabalho escravo. Sobre os desafios dos próximos dois anos, Adna declarou que será o de estabelecer um diálogo interno com servidores, magistrados, advogados e a sociedade, para que se possa criar uma “nova estrutura de Justiça do Trabalho e novas premissas para atender aos anseios de todos”. Ela será responsável por gerenciar as atividades de 88 varas trabalhistas no estado, mas reconhece que o número de unidades é insuficiente para atender a demanda laboral.  “Essas 88 varas não são suficientes para atender a quarta população do Brasil e o quinto maior estado em extensão territorial. Nós temos quatro jurisdições que são menores do que o Rio de Janeiro. 44 são do interior não tem condição de atender o acesso à justiça, que tão é importante, para que os que não podem, não tem transporte”, pontua. Para dar maior celeridade aos julgamentos, ela defende uma modernização em práticas já adotadas no tribunal, como a conciliação e mutirões de execução com acordos “que respeite o direito dos trabalhadores e a capacidade do empresário de honrar o compromisso deles”. Ela recebe o tribunal totalmente digitalizado, com 100% das varas funcionando com o Processo Judicial Eletrônico (PJE). Apesar de saber de todos os benefícios e vantagens do sistema, diz que tem uma “certa resistência” em largar a cultura do papel.  “Eu acho muito importante a digitalização dos processos, porque facilita o acesso, é um avanço muito grande. Agora, a cultura do papel eu tenho uma certa  resistência, porque eu acho que ela é necessária ainda, dá uma segurança. Eu me atenho muito a questão da segurança. Mas em contrapartida, temos que pensar nas questões ambientais, nas arvores, em toda essa dimensão e também no servidor que não se adapta a esse processo eletrônico. O papel não pode ser esquecido. Sou amante do papel”, declarou. Ao final de seu discurso de posse, a magistrada convocou seus colegas a fazer uma gestão harmoniosa, “com a paz necessária, respeitando os mutuamente”. Agradeceu aos pares por superarem o preconceito e a elegerem, quebrando assim, “paradigmas históricos”. “Que essa posse, com apoio e escolha dos meus colegas, tenha um simbolismo, que todo aquele que tem uma dificuldade, seja qual for, saiba que pode sim, vencer os obstáculos. Seja os internos, que ninguém percebe, ou aqueles que a vida no seu curso nos impõe”, falou. Por fim, falou da discriminação sofrida, de dizer não ao comodismo no Brasil de 50 anos atrás, ao deixar o colo da mãe e do pai, e buscar o conhecimento, pois só através dele conseguiriam “ser livre, independente e ter autonomia”.