Colombiano denunciou 'superfaturamento' com plano de saúde antes de morrer, diz testemunha
Por Niassa Jamena/Cláudia Cardozo
Adilson Araújo presta depoimento | Foto: Niassa Jamena/ BN
A primeira audiência de instrução do processo que julga a morte dos dirigentes sindicais Paulo Colombiano e Catarina Galindo começou na manhã desta quarta-feira (23). A primeira testemunha de acusação a depor sobre o caso foi o presidente da Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB), Adilson Araújo. Ele afirmou que, no sábado anterior ao crime, esteve com Colombiano, que havia lhe falado sobre o superfaturamento do contrato do plano de saúde da Mastermed, do qual sairiam altas somas de dinheiro. “Ele dizia que a situação era grave e que não tinha mais como esconder”, depôs Araújo, ao responder aos questionamentos da promotora de Justiça Armênia Cristina Santos, primeira pessoa a interrogá-lo. A promotora perguntou se os desvios de dinheiro se referiam ao plano de saúde ou se era para outra coisa, com destino incerto. Adilson Araújo disse que não sabia responder a pergunta, mas que as planilhas das contas do Sindicato dos Rodoviários da Bahia apontavam que o sindicato depositava entre R$ 200 mil a R$ 800 mil para o plano de saúde, além de 30% a 40% a mais de comissão do que normalmente é pago no mercado. Adilson ainda relatou que Colombiano havia falado com ele que já tinha comunicado a Claudomiro Ferreira Santana e Cássio Ferreira Santana, donos da Mastermed, que queria fazer uma correção do contrato. De acordo com Adilson, Colombiano teria ameaçado quebrar o convênio com a Mastermed, caso o problema não fosse resolvido. Colombiano ainda teria relatado ao presidente da CTB ter sido coagido por Claudomiro que, em reuniões, chegava a colocar uma arma em cima da mesa. Adilson disse ainda que conhecia Paulo Colombiano há mais de 20 anos e que, dos réus, só conheceu Edilson Duarte de Araújo, após a morte do dirigente sindical, em uma festa. Edilson era músico da banda Legião do Samba. Adilson ainda relatou que Colombiano havia denunciado o superfaturamento para Geraldo Galindo, irmão de Catarina Galindo, sua esposa, que também foi assassinada. A denúncia foi feita durante uma assembleia do sindicato e em alguns documentos.
De acordo com o juiz da 2ª Vara do Tribunal do Júri, Paulo Sérgio, foram convocadas oito testemunhas para prestar depoimento nesta primeira audiência. Cada réu arrolou oito testemunhas. Ainda estão previstas a realização de mais três ou quatro audiências de instrução e ainda não há previsão de data para a realização do Tribunal do Júri. De acordo com o magistrado, os réus respondem ao processo em liberdade porque não representam ameaça às testemunhas, não fizeram nada de errado no período e têm residência fixa. Logo no início da manhã, foi realizado um protesto na frente do Fórum Criminal de Sussuarana e o auditório estava repleto de sindicalistas com camisas escritas “Queremos Justiça”. O sindicalista Geraldo Galindo, irmão de Catarina Galindo, em entrevista ao Bahia Notícias, afirmou que não cria expectativas na fase atual do processo.“Nós não temos a ilusão de que a partir da primeira audiência as coisas serão resolvidas, que serão resolvidas a curto prazo. Existem brechas legais que os advogados utilizam para procrastinar o processo. Mas vejo como positiva a realização desta primeira audiência, na medida em que se tenha desdobramentos que levem à condenação dos mandantes dos executores do crime”, estimou. Geraldo Galindo ainda diz que não tem “nenhuma dúvida de que o motivo do crime foi o fato de Paulo Colombiano ter sugerido a revisão do contrato com a Mastermed". "Três dias antes de ser executado, ele me disse que, por conta disso, ele teria recebido ameaças”, revelou.