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Monte Santo: Justiça retira crianças da família e entrega para adoção

Monte Santo: Justiça retira crianças da família e entrega para adoção
Caso é apontado como tráfico de crianças | Foto: Reprodução/ TV Globo
Um caso curioso foi denunciado na noite deste domingo (14) pelo programa Fantástico, da Rede Globo. A reportagem afirma que a Justiça determinou a retirada de cinco filhos de uma família pobre e que entregou as crianças para adoção em tempo recorde, sem que os pais pudessem apresentar defesa. A retirada da guarda das crianças começou no dia 13 de maio de 2011. De acordo com a vizinhança e pessoas da escolinha da cidade, as crianças eram bem tratadas. Os pais das crianças, Silvânia Maria da Silva e Gerôncio de Brito Souza, atualmente separados, disseram que o nascimento dos filhos sempre foi motivo de festa. “Todos os filhos meus que nasceram foi festa. Festa, caixa de foguete, galinha, carne assada, calabresa, tudo”, lembra o pai, que trabalha como lavrador. A mãe, dona de casa, lembra que o pai dava atenção, e quando matriculou as crianças na escola, o marido buscava as crianças e comparecia as reuniões escolares. A informação foi confirmada pela vizinha Catarina da Mota Silva, que disse que o pai cuidava bem dos meninos, dando banho e passando perfume. Os avós maternos e paternos também ajudavam na criação das crianças.

A primeira criança a ser levada pelos oficiais de Justiça de Monte Santo foi a caçula, única menina dos cinco filhos, que na época tinha 2 meses de idade. Duas semanas depois, a Justiça novamente voltou a casa de Silvânia para levar os outros quatro meninos. A mãe afirma que quando o carro, com dois policiais e uma escrivã chegou, pensou que devolveriam a menina. Ela disse que os meninos, em prantos, pediam para escondê-los e não deixar que eles os levassem. Silvânia ainda disse que os policiais ameaçaram prendê-los, caso tentasse impedir a retirada das crianças, e “que era ordem do juiz”.

As crianças foram entregues para quatro casais de São Paulo, com muita rapidez, no fórum de Monte Santo. Segundo a reportagem, as famílias paulistas chegaram em um dia, foram ouvidas pelo juiz, e no dia seguinte, levaram as crianças. Os pais e a promotoria da Justiça não participaram da audiência, e que, por lei, o processo nem pode ser aberto sem a presença deles. A guarda provisória foi assinada pelo juiz Vítor Manoel Xavier Bizerra. A decisão do magistrado foi baseada em relatórios contraditórios. Segundo o Conselho Tutelar, ao visitar a casa de Silvânia, não foram encontradas irregularidades. Porém, a assistente social da prefeitura de Monte Santo registrou que os meninos faltavam às aulas. Segundo a diretora da escola, os meninos nunca faltaram as aulas, e os pais buscam as crianças todos os dias. A diretora ainda disse que as crianças não apresentavam sinais de mal trato e nem de mau comportamento. A intermediação das adoções foi feita por Carmem Topschall, que mora em Pojuca, região metropolitana de Salvador. Ela negou ter sido intermediária na adoção e que trabalhe conseguindo crianças pobres para casais que tem intenção de adotar. Porém, admitiu que ajudou as famílias de São Paulo no processo de adoção. Ela tem três filhos adotados.

Por tentar saber o paradeiro dos filhos, Gerôncio foi preso por desacato as conselheiras. Ficou detido por três semanas e para ser solto, os pais dele venderam a casa para pagar fiança no valor de R$ 5 mil. A família hoje vive de favor. A mãe conta que não teve mais noticias dos filhos. A reportagem do programa tentou conversar com os casais que detém a guarda provisória das crianças, mas não conseguiu. A advogada que representa, Lenora Steffen Panzetti,os casais afirmou que o processo foi legal. Mas segundo o atual juiz de Monte Santo, Luiz Roberto Cappio, que encontrou uma série de irregularidades nos processos, diz que “não houve determinação de estágio de convivência” e que os pais biológicos não foram ouvidos. Cappio ainda disse que esse é mais um dos muitos casos que acontece no sertão da Bahia e que isso pode ser encarado como formação de quadrilha para traficar crianças pobres, de forma planejada e profissional. O juiz finalizou sinalizando que pode determinar o retorno das crianças, caso entenda que isso possa ser o melhor para elas. A advogada questiona se determinar o retorno delas aos pais será o melhor, já que tiveram que se adaptar a uma nova vida, e que já passaram pelo “trauma da vida que elas levavam”.