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Tonho Matéria e Linnoy avaliam nova formação do Ara Ketu: ‘ninguém pergunta sobre Tatau’

Por Renata Pizane

Tonho Matéria e Linnoy avaliam nova formação do Ara Ketu: ‘ninguém pergunta sobre Tatau’
Foto: Luana Ribeiro/Bahia Notícias
Com 35 anos de história, a banda Ara Ketu quer apostar no resgate de suas antigas tradições para deslanchar nesse verão. Com nova formação desde entrada do cantor Linnoy, que faz dupla com Tonho Matéria desde julho, o grupo voltou a fazer ensaios de verão em Salvador e promete novidades no Carnaval.

“No começo o Araketu fez ensaio na Rua Chile, Cruz Caída, no Trapiche, no Aeroclube em Periperi e agora será no Pelourinho. A ideia era fazer esses shows de dezembro a janeiro, mas como o período antes do Carnaval é mais curto, conseguimos fechar duas pautas, uma na última quinta-feira (7), que contou com a participação de Olodum e Sidney Magal, e outra no próximo dia 28 de janeiro. Vamos trabalhar o ensaio já pensando no Carnaval, com repertório envolvendo outros segmentos e músicas novas”.

Tradicional no Carnaval de Salvador, este ano o Bloco Ara Ketu resolveu abaixar as cordas e sair exclusivamente para o foliã pipoca, em dois dias de desfile na Avenida. “O Ara Ketu tem um legado fantástico, porque ele vem do povo e para o povo. Hoje ele se estabelece no Carnaval para o povo. Então isso é devolver ao povo essa gama musical do Ara Ketu em um ano de Carnaval. O bloco nosso será o do povo. Por isso, surgiu ideia do tema de falar da nova África, porque isso é uma nova África, é um diálogo. O Ara Ketu, acredito, será o maior bloco afro na avenida com o foliã pipoca”, avalia Tonho.


Foto: Luana Ribeiro/Bahia Notícias 

A decisão, como analisam os músicos, não tem relação com a possível crise no Axé Music, mas sim como uma reestruturação da entidade. “Tem folião que mesmo sabendo que o Ara Ketu não vai fazer o abadá, quer comprar. Nossa ideia foi não construir o abadá porque queremos dar um presente para o público. Vamos fazer 15 alas com músicos, capoeiristas, o pessoal do bando de Teatro Olodum, do Balé Folclórico, figuras que trabalham com blocos afros”, explica Tonho.

Linnoy entende que a situação não afeta apenas o mercado da música. “É um momento também que a gente não pode estar esbanjando, temos sinceridade em assumir isso. Não é uma crise do Axé, é algo generalizado. Então é bom que a gente recue para no próximo ano ter algo concretizado, assim como outros blocos fizeram ao sair pelo menos um dia para o foliã pipoca, sendo que no nosso caso foram os dois”, conclui.

Com o tema “Uma Nova África Livre”, a banda pretende fazer uma apresentação diferente nas ruas de Salvador. “Estamos estruturando um desfile com alas, uma formação para ser o Ara Ketu do seu começo. Isso acontece com a proposta de ter dois cantores, resgatar o que o Ara Ketu era, a sonoridade dos tambores que foi perdida com as transições e o bloco de rua”, explicam os músicos.

E vai ser durante a folia que Tonho e Linnoy vão mostrar a vertente autoral da nova formação do grupo, que está trabalhando quatro músicas inéditas: “Vou jogar”, “Voz da Multidão”, “Sorvete na Ribeira” e a composição da dupla “Prepara”. “Essa canção surgiu de uma brincadeira de estúdio. Antes de começar a gravar Linnoy sempre dizia: ‘Prepara’. Tonho disse: isso é a cara do Ara. Linnoy foi para casa e mandou uma melodia, aí comecei a escrever. Depois a gente fez “Cultura Vida” e “Ara Ketu de Novo na Boca do Povo”, conta Tonho, que voltou para o Ara Ketu após 30 anos.

Apesar do pouco tempo ao lado de Tonho, Linnoy entende a responsabilidade de estar à frente de uma banda tradicional de axé e quer superar a fama de pagodeiro, conquistada durante o período que comandou a banda “Os Sungas”. “Quando aconteceu o concurso para escolha do novo vocalista do Ara Ketu estava em um momento desgostoso com a música, trabalhava e tinha voltado a estudar administração. “Os Sungas” foi algo que me projetou para o país inteiro em 2004. Foi um momento muito bom, pelos ensinamentos e aprendizados. As pessoas me conheceram pela banda, por isso me rotularam como pagodeiro, como se o termo pagodeiro fosse pejorativo. Antes, eu era roqueiro, tocava bateria, em uma banda estilo hardcore. Não sou abitolado a nenhum estilo musical. Sempre tive a cabeça aberta para música”, explica.


Foto: Luana Ribeiro/Bahia Notícias

Os atuais líderes do Ara Ketu não se sentem intimidados com as lembranças dos outros cantores que já ocuparam o posto, como é o caso de Tatau, que após ter partido para carreira solo em 2008 voltou à banda cinco anos depois e permaneceu até 2015.
“Por incrível que pareça, todos os shows que a gente está fazendo não tem uma cobrança, nenhuma pessoa ou contratante que pergunta sobre Tatau, sem tirar o mérito dele, até porque é como um irmão pra mim”, revela Tonho. “Está sendo mágica nossa aceitação, onde a gente chega a audiência está subindo, pedem para tocar mais três músicas, a galera recebendo da melhor forma possível. Essa energia está quebrando tudo isso”, garante Linnoy. “Na verdade, estamos dando continuidade a esse belo trabalho que os vários outros vocalistas desempenharam no Ara Ketu”, conclui.

Mesmo sendo o mais novo no grupo, o cantor acredita que sua chegada ao Ara Ketu foi bem aceita pelo público. “Tatau voltou e saiu novamente, então as pessoas perceberam que é um relacionamento que não tem mais pra onde ir. Todos os lugares que a gente passou não houve questionamentos, fazemos apresentações para público de 30 a 40 mil”, afirma. E ele vai  além na observação. “Hoje eu digo a dona Vera que temos duas cabeças preparadas e abertas para representar a World Music que o Ara Ketu representa. Se está dando certo é porque a gente tem esse preparo para assumir esses 35 anos que o Ara Ketu tem de história, música e cultura, garante Linnoy.

Os músicos veem com bons olhos o fato de não fazerem muitas apresentações em Salvador ao longo ano. “O Ara Ketu é conhecido no Brasil todo, então pra gente é muito bacana viajar. A gente toca todo dia em Salvador em ensaio, não conseguimos pegar ‘liga’. É bom deixar o gostinho, fazer ensaio nesse período pré Carnaval. Tem espaço para todos os estilos de Salvador”, diz Tonho.