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Organizador do Pós-Lida, James Martins critica preconceito e comenta escolha de Igor Kannário

Por Rafael Albuquerque

Organizador do Pós-Lida, James Martins critica preconceito e comenta escolha de Igor Kannário
O que era para ser apenas mais uma edição do Pós-Lida, recital de poesia e literatura que acontece nesta quinta-feira (24), no sebo Porto dos Livros, às 19h30, se tornou um grande burburinho em Salvador. Isso porque o convidado especial desta edição é o cantor Igor Kannário, que recentemente concedeu entrevista ao Bahia Notícias (leia aqui). Um dos organizadores do Pós-Lida e responsável pelo convite ao polêmico artista, James Martins afirma ser fã do trabalho de Kannário e vê nele qualidade musical indiscutível. O fato é que a escolha do "príncipe do gueto" para participar do Pós-Lida dividiu a opinião do público e por isso o BN conversou com o responsável pelo reboliço cultural.
 

 
“Escolhi o Igor Kannário, entre tantos outros pagodeiros, porque, como eu venho dizendo, ele é a personalidade mais genuinamente rock'n'roll da música baiana atual. Mas, também, porque ele é um dos mais carismáticos e criativos”, argumenta James. Com relação à reação dos colegas que também organizam o evento, ele explicou: “A reação da equipe que realiza o Pós-Lida comigo foi tranquila. Elas já sabem que, na minha opinião, as maiores fontes de criatividade bruta que existem hoje em nossa música são o pagode e o arrocha. E que eu, mais cedo ou mais tarde, incluiria essas informações em nosso cardápio de referências que, diga-se, é bastante sofisticado: já tivemos do maestro italiano Aldo brizzi ao cineasta Edgard Navarro, passando por Augusto de Campos – o maior poeta vivo do mundo. Agora, algumas outras pessoas estranharam o convite. Acharam até que fosse 'pegadinha', como se pode ver no Facebook”. Sobre a rejeição ao nome do cantor, James cravou: “Isso é o tipo de preconceito típico dos ignorantes. Ignorância gera arrogância e a nossa suposta intelectualidade é ignorante e arrogante da boina às sandálias de couro. Por isso mesmo, vivemos um período tão pobre culturalmente”.
 

Como revelou ao Bahia Notícias, James não fez o convite por fazer ou simplesmente para causar esse alvoroço. O objetivo é muito mais profundo: “Meu intuito, com esse convite, é promover uma discussão mais rica a respeito do que é cultura sofisticada e cultura baixaria em Salvador. Com isso, desejo também aproximar a classe-média letrada do populacho 'vidaloka': mostrar que precisamos nos integrar, nos retroalimentar, aprender e ensinar. Todo grande resultado artístico produzido entre nós saiu dessa tensão. E me parece evidente que, em seu aparente barbarismo, Igor Kannário e sua legião de seguidores têm valiosas lições para dar à turminha que se considera o suprassumo intelectual da cidade. Se compararmos a história do pagodão com a do rock'n'roll, acharemos diversos pontos em comum. A diferença é que o rock (que também só falava em carros, mulheres, drogas e danças), em certo momento interessou a artistas intelectualizados, como Bob Dylan, e daí deu sua guinada. Aqui, estamos esperando que surjam pessoas espertas o suficiente para perceber e interagir com a imensa riqueza que os pagodeiros estão produzindo faz tempo”. Ainda sobre o que considera preconceito, James Martins critica o que considera a visão deturpada e preconceituosa de parte da sociedade. “Com Igor Kannário no Pós-Lida, eu já dei o pontapé inicial no degelo. E quem não 'guenta', que fique polindo cadáveres em bibliotecas mofadas ou rodas-de-samba decadentes enquanto a caravana passa”, finalizou.