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Entrevista

‘Aproveito minha visibilidade pra defender a mulherada’, diz Katê sobre cenário do pagode

Por Júnior Moreira

‘Aproveito minha visibilidade pra defender a mulherada’, diz Katê sobre cenário do pagode
Fotos: Luiz Fernando Teixeira / Bahia Notícias
A cantora Katê decidiu, há dois anos, sair da banda Voa Dois e investir na carreira solo. Um passo arriscado, mas cada vez mais comum no universo musical. São diversos exemplos de artistas optam por essa iniciativa. Uns conseguem êxito, outros nem tanto. Durante esse período, ela lançou trabalhos voltados para o pagode e se viu como inspiração para artistas femininas que buscam um espaço neste universo, ainda protagonizado por homens. “Gosto de quebrar essa barreira que existe, de que mulher não pode cantar pagode, a mulher pode tudo. Então, aproveito a minha visibilidade para levantar essa bandeira, pra defender a mulherada e ajudar tantas outras que amam o ritmo e desejam construir uma carreira no ritmo. Queria ver o pagode com um nível de letra que pudesse tocar em todos os lugares, sem nenhum tipo de preconceito”, confessa. Em entrevista ao Bahia Notícias, a artista contou sobre o seu mais novo CD, que será lançado no final de outubro, com participação de Claudia Leitte, Mc Catra, Tierry e Gabriel Diniz, além de falar sobre seu amor pelo esporte e a atual fase da carreira. Confira!

Agora no final de outubro, você lança mais um CD. Quais serão as participações?
Então, teremos muitas participações especialíssimas. Claudinha (Leite), Gabriel Diniz, Tierry e Mr. Catra. São todos amigos queridos e as músicas ainda são surpresa. Estamos em processo de gravação.

Como foram feitos os convites?
Já tinha gravado a música “E agora eu choro” com Tierry, adorei o resultado e decidi segurar para um próximo CD de carreira. O Gabriel Diniz também é um grande amigo. Tocamos juntos em João Pessoa e de lá pra cá, estamos trocando muitas figurinhas de música. Admiro e gosto muito do trabalho dele e, por isso, fiz o convite. Ele topou na hora. Já Claudinha é uma amiga de anos. Uma pessoa muito especial, que amo muito. Estamos sempre juntas e os fãs cobravam muito por algo nosso e agora terão. E Catra? Catra é o cara! Aguardem! 

Foi divulgado que você ainda pretende lançar clipe e DVD este ano. Procede a informação?
O DVD virá em breve, mas acredito que não mais esse ano por conta do tempo. Vamos gravar agora músicas inéditas, clipes e lançar o CD.Tudo esse ano. Depois focaremos no Carnaval e no DVD. 

 No início de 2016, você lançou a faixa "Pisou em mim", uma composição sua. Qual a análise que você faz depois desses meses? 
“Pisou em mim” foi uma canção que não cheguei a trabalhar de verdade. Toda repercussão foi de uma forma natural e espontânea. Tudo começou quando fomos convidados para participar do "Domingo Legal", do SBT, e fizemos o lançamento nacional lá. Em seguida, as bandas de forró começaram a tocá-la também e passei a receber pedidos de empresários para liberar para gravação, inclusive recebi o convite do amigo Alex Padang, para  gravar ela com o Cavaleiros do Forró, mas já tinha gravado solo e já estava divulgando ela. Faço uma análise muito positiva.

Seu lado compositora está mais aflorado. Sempre gostou de compor? Tem algum processo especifico?
Componho diversos estilos e aquelas que não gravo, faço questão de mostrar para outros artistas; para pessoas que admiro. Na verdade, quando comecei no Voa Dois, ainda estava no início da carreira e tudo ali era puro aprendizado. Fui vendo como me posicionar no palco; descobrindo formas de cantar e puxar o trio. Tudo era muito novo pra mim. Porém, com uns dois anos na banda, passei a compor, muito por influência dos meus amigos músicos. Entrei na onda deles e virou uma grande paixão. Às vezes, fico me perguntando: “Gosto mais de cantar ou de compor?”. Amo muito os dois. É algo muito presente no meu dia-a-dia. É engraçado, pois acontece da música surgir quando menos esperamos. Não tenho processo para compor, pode ser em qualquer lugar e/ou situação (risos). Entretanto, quem compõe sabe que existe um algo mais, uma ligação espiritual. Nem sempre as idéias e inspiração surge só da gente. Já aconteceu de eu fazer uma música, Pega a Visão, que gravei com Saulo, ela tem uma letra tão grande e foi escrita em 15 minutos, quase como uma psicografia. 


Você é muito ligada em esporte. De onde vem essa paixão?
Meu pai é atleta. Ele é um jogador de futebol que não deu certo (risos). Minha mãe foi da seleção baiana de handball e eu e meu irmão somos doentes por futebol. Crescemos com essa influência dos dois. Além disso, estudei em um colégio diplomata daqui de Salvador por muitos anos e fui da seleção de futebol, basquete e futsal. Porém, quando comecei no Voa Dois fiquei pensando: "Como é que vou jogar bola agora?". Foi um questionamento, pois jogava todos os dias. Lembro que fiz um baba da banda e o segurança chegou com tudo em mim e me machucou. Torci o pé e refleti: "Pô Katê, não vai ter condições. Vai ficar cancelando show toda hora por conta de pé machucado?". Por isso, parei. Hoje, faço um treino funcional com meu pai (Carlinhos Espinheira) e adoro lutar boxe.

E por isso fez uma homenagem ao medalhista Robson Conceição. Ficou feliz com o desempenho dele nos Jogos Olímpicos Rio 2016?Demais. Quando fiz "Pega a Visão" construí uma letra que fala de pessoas como Robson. Daqueles que saem do gueto em busca de sonhos. Apesar de não conhecer a fundo a história dele, tenho consciência do quão difícil foi e, como artista, gosto de incentivar. De dizer "pega visão e vai! Ninguém pode lutar por você, mas você vai vencer. A vitória é certa". Penso que o artista não é só subir no palco e falar "Tira o pé do chão". É importante quando a gente modifica a vida das pessoas positivamente. Quando fiz essa música, recebi muitas mensagens. Tanto de Daniel Alves, quanto de Xanddy (vocalista do Harmonia do Samba), além de fãs que tatuaram trechos da letra da canção. Recebi milhares de mensagens de jogadores e atores que se identificaram com a história. É uma música forte que gosto de finalizar meus shows para deixar essa mensagem positiva. Quando vi a vitória dele, mesmo depois de tantas dificuldades, pensei imediatamente nessa música e fiz a homenagem. Ele adorou e me agradeceu.

Desde o início de sua carreira solo, você passou a ser vista como cantora de pagode. Porém, nos seus shows há mistura do axé, funk e forró com o groove do pagode. Como você sente essa pressão de se definir musicalmente? 
Faço um show diverso e nele tem tudo que amo e que o povo quer ouvir e curtir. Faço axé, forró, sertanejo e até o baile funk da Katê nos meus shows. Mas sempre com uma pegada particular, com identidade. O meio da música hoje é essa mistura toda né! Esses dias Safadão começou o show com uma música dele e o ritmo da música é pagode. Eu amei! Ele é quase um cantor de Axé, sobe no trio e arrasa, nos palcos canta forró, arrocha, axé, sertanejo, faz o que o povo quer ouvir e todo mundo ama, e eu também sou assim. Já me chamaram de Safadão de Saia ahaha. Eu amo e faço música, sem me preocupar muito com o estilo. Pra mim, definir é limitar. Por que levanto a bandeira do pagode? Porque amo o ritmo do pagode, aquele balanço que quando toca ninguém fica parado, e ele está inserido em grande parte do meu show. Cresci ouvindo dizerem: mulher não canta pagode! Como não? Então com coragem e ousadia levantei essa bandeira. A mulher pode tudo, pode cantar e fazer o que quiser. Preconceito anda tão fora de moda. Aproveitei a minha visibilidade pra tentar quebrar essa barreira. Sei que com isso, estou ajudando muitas cantoras do gueto que querem construir suas carreiras, mas que vivem o pagode, amam e por preconceito não tem espaço. O pagode hoje é o nosso samba reggae dos anos 90, é o ritmo que vem do gueto, e que todo o Brasil toca. O forró toca pagode, o sertanejo toca as claves do pagode. Todo mundo ama o ritmo. Gostaria de ver o pagode com um nível de letra que pudesse ser tocado em todos os lugares. Que os músicos não tivessem a preocupação de ter um show embargado pela justiça por conta das letras. Espero que a Bahia e o pagode cresçam muito; que venham novos artistas com uma linguagem bacana e que façam sucesso em todo o Brasil.


Essa necessidade de enquadrar os artistas em um segmento te incomoda?
Na verdade, não me incomoda mais. Porém, já me incomodou, porque acho que não se limita a arte, e como disse: definir é limitar. Sou da Bahia e a gente é isso, sobe no trio e durante 7 horas cantamos de tudo. A Bahia me criou assim. Quem vai no show da Katê ou contrata o show sabe bem que é do jeito que o povo gosta. E isso aprendi com os nossos grandes artistas, a exemplo de Claudinha, Ivete e até nosso mestre Caetano, que volta e meia pega o violão e canta o pagodão!

Dois já se passaram desde que decidiu sair do "Voa Dois" e seguir em carreira solo. Chegou a se arrepender em algum momento?
De jeito nenhum. Minha vida tem sido um crescimento constante. Já gravei alguns Cds, um EP Dvd. Vejo outros artistas cantando minhas músicas, gravando em Cds promocionais. Estou muito feliz com o que venho construindo. O último CD que lançamos na internet teve 300 mil acessos em quatro dias. Tenho me revelado e crescido como compositora também, que é uma coisa que amo e agrega na minha carreira de cantora. Esses dias, vi na internet uma frase assim: "Nunca pare. Tem gente se espelhando em você". Volta e meia ouço isso de algum artista que está começando, ou que já está na carreira artística. Ouço que se espelham em mim, que se inspiram com a minha garra e por eu estar sempre construindo e lançando algo, seguindo firme e forte. Isso pra mim é felicidade, realização e certeza que estou no caminho certo. 

É comum ouvir pessoas afirmando que as vozes das cantoras baianas são parecidas. Muitos já disseram que a sua parece com a de Ivete e Daniela. Como busca diferenciar? 
Acho uma comparação muito normal, pois as pessoas buscam referências. Às vezes, ouço uma música no rádio e fico me perguntando quem está cantando. Tem a questão do mesmo sotaque também, que ajuda na semelhança. Quem nunca se confundiu ao ouvir uma música sertaneja ou de forró. Eu já confundi Safadão com Xandy do Aviões, Mateus e Kauan com Jorge e Matheus. Mas o importante é que não é intencional. Quem assiste meu show sabe que não tem nada a ver com a pegada de Ivete e Claudinha.Cada uma tem sua marca e identidade.