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Entrevista

Lançando DVD, Danniel Vieira fala sobre início da carreira, carnaval e música baiana

Por Aymée Francine

Lançando DVD, Danniel Vieira fala sobre início da carreira, carnaval e música baiana
Foto: Luiz Fernando Teixeira / Bahia Notícias
Após quase nove anos de carreira, Danniel Vieira só tem coisas a comemorar. O artista acaba de assinar contrato com a FS Bahia, filial estadual da FS Produções Artísticas, empresa do sertanejo Sorocaba, que agencia a carreira de grandes nomes como Lucas Lucco, Marcos e Belluti, Loubet e Thaeme e Thiago. Esses últimos, aliás, estão sendo esperados para o lançamento do DVD de Danniel, que será feito no dia 7 de abril, em local a ser escolhido. "Estamos dependendo de confirmar uma atração pra escolher o lugar", disse ele ao Bahia Notícias, fazendo mistério. O gordinho, como ele mesmo se auto-apelida, esteve na redação do BN e abriu o jogo sobre o início de sua carreira - quando foi "expulso pelo axé", e sobre os problemas que o ritmo enfrenta atualmente diante do furacão sertanejo. O baiano também contou sobre como foi seu carnaval cheio de emoções e futuros projetos, que incluem uma música com a forrozeira Solange e a confirmação de seu retorno ao Forró do PiuPiu.
 
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Você está trabalhando com sertanejo na Bahia há oito anos, né? Como foi começar a tocar sertanejo numa época em que o axé era dominante?
Ah, me chamavam de maluco né? O povo me esculhambava. Na verdade, é assim, eu virei gordinho, de uns 12 anos pra cá. Então, naquele momento eu não era gordinho, eu estava gordinho. E assim, existia uma chacota comigo, eu cantava axé antes, sem me enquadrar muito no estereótipo de cantor de axé, aquela coisa. Aí desisti e fui fazer voz e violão. Fazendo isso, comecei a cantar sertanejo aos pouquinhos e descobri que o momento que explodia do meu 'voz e violão' era quando eu cantava sertanejo. E as coisas mais antigas, até. Ai, eu falei: ‘vou tocar sertanejo’. E o povo? ‘Ave Maria, endoidou. Daqui a pouco vai virar MC Vieira, vai virar DJ’. Eu ouvi todo tipo de piada. Mas aí, Victor e Leo vieram com um trabalho muito bacana, um DVD todo estourado. E eu acho que o gatilho do sertanejo na Bahia pra deixar de ser coisa brega e passar a ser uma coisa bacana, foi depois de Victor e Leo. Eles vieram com uma sequencia de músicas muito bacanas, aquelas ‘Fotos’, ‘Vida Boa’, ‘Tem que ser Você’... E aí, essas músicas começaram a entrar na cabeça da galerinha. Aí Luan Santana veio com Meteoro. Então, as pessoas começaram a enxergar o sertanejo de uma maneira mais bacana e eu já estava incluído naquilo ali. Assim, eu enfrento ainda hoje preconceito por tocar Sertanejo na Bahia, não vou citar nomes, mas em grupos de Whatsapp, em situações... Eu vejo que o mercado do Axé ainda tem uma coisa engasgada. Como se eu fosse um traidor, mais ou menos por aí. Mas na verdade, quem não me quis foi o axé, né? Ele que me expulsou, me expulsaram.
 
O sertanejo te conquistou, então?
Sem dúvida, me conquistou pelo coração e me mostrou que eu podia fazer o que eu fazia no Axé com o sertanejo também. Eu falo de amor e consigo botar o povo pra dançar ao mesmo tempo. Isso que é bacana, sabe? Eu consigo atingir o coração, colocando a pessoa pra dançar. Eu acho que isso é um diferencial, assim como as letras que falam do cotidiano, enfim.
 

 
Hoje, que ‘o jogo virou’, você enxerga que bandas novas de sertanejo tem mais espaço para conquistar o mercado?
Bem, primeiro eu queria falar que eu não participo de jogo nenhum, sabe? Eu não tenho nenhum tipo de rixa com o axé, me coloco totalmente a favor do axé, porque eu sou axé também. Defendo a bandeira da música baiana. Assim como a gente tem o forró de Adelmário Coelho, o rock do Cascadura, Scambo. O reggae baiano, com o Mosiah (que tá voltando), a Diamba. E você também tem o sertanejo da Bahia. Eu sempre tento jogar por esse lado, tudo é música baiana. Me associo sempre a pessoas que estão na música baiana, porque eu acho que o grande problema do Axé é não estar produzindo neste momento. Poucas pessoas estão produzindo coisas bacanas e que tenham uma linguagem moderna. Ivete continua sendo Ivete. Durval deu uma repaginada, a gente vai gravar uma música juntos agora, inclusive, muito bacana. O Chiclete com Banana, com a saída de Bell, tá se reinventando. A Banda Eva vem fazendo um trabalho maravilhoso com Felipe. A Duas Medidas pra mim é o grande ícone do axé hoje, com quem trabalha com axé hoje. As formiguinhas do axé, hoje, são Duas Medidas, Banda Eva e Babado Novo. São as três bandas que de fato fazem axé o ano inteiro, que tocam em Salvador e que fazem com que as pessoas lembrem que o axé é de Salvador. Então assim, a culpa é de quem? É do sertanejo que tá tocando, ou do axé que não tá produzindo? Eu faço a minha parte, não tô tentando tomar o lugar de ninguém ou o espaço. Quero ter um espaço pra mim, sem tomar o espaço de ninguém. Só quero fazer o meu, entende? Então, assim, eu acho muito legal, amo, o trabalho da Duas Medidas. Pra mim, hoje, quando se fala em axé em Salvador, eu falo em Duas Medidas. São meus amigos, vi o trabalho deles começar, eles produzem axé em Salvador e tocam Axé em Salvador. Isso que tá faltando, sabe? Acho que se tivessem dez Duas Medidas na Bahia, a história tava diferente. Banda Eva e Babado tocam pouco aqui, precisam tocar mais. Essa é minha leitura como fã.  Agora, de dentro da música, como cantor, eu acho que tá faltando o axé se preocupar com Salvador, com Bahia. Porque é daqui que as coisas vão para o Brasil. O sertanejo, se você parar pra pensar, veio beber da fonte da Bahia, das micaretas, do trio elétrico, da percussão. Tem um monte de percussionista e baterista baiano tocando com todos sertanejos que você imaginar. Então, as músicas e compositores também são baianos. Eu cito aqui cinco compositores que fazem quase metade dos sucessos de todo o Brasil. Primeiro, meu grande amigo, Cássio Sampaio – que fez Balada do GL. Felipe Escandurras, Tierry, Magno Santana e Bruno Calimã. Com esses cinco compositores aí, a música tá fazendo sucesso no Brasil. E é tudo da Bahia? A música vem da Bahia. Eles poderiam voltar a compor pro Axé também né? Como Tierry fez aquela música pra Claudinha [Cartório]. Então, assim, vamo trabalhar, vamo produzir. Eu sou baiano, se a música da Bahia tá ruim, é ruim pra mim também. As pessoas respeitam muito o baiano lá fora. Eu chego lá fora e digo que sou cantor da Bahia e as pessoas me respeito sem nem terem ideia do que eu canto. O respeito é muito grande. Acho que o sertanejo é a música do Brasil hoje. Mas assim, o interior do Brasil é muito maior do que a orla do Brasil. O axé ficou famoso tocando na orla. Mas no interior sempre tocou sertanejo, então foi um processo natural. Se você entrar no interior da Bahia, é sertanejo. Não tem pra onde correr, é a música típica das regiões, o sotaque, tudo.
 

 
A ‘Sexta do Gordinho’ existe há quantos anos? Porque você acredita que conseguiu realizar um evento de sucesso contínuo como esse? 
Primeiro ano foi sábado, dia 18 de julho de 2012. Vamos completar quatro anos agora. Então, eu acho que é um aparato de coisas. Começando pelo bairro: o Rio Vermelho, que é boêmio e tem uma tradição de festa. Depois, você vem com a casa: requintada, climatizada, com restaurante gostoso, atendimento bacana, som bom. Depois o sertanejo: era novidade, conquistou a galera aos poucos. E eu tenho a minha parcela de contribuição como artista é olhar nos olhos, cantar olhando pras pessoas, ver se ela tá gostando ou não tá gostando. Tenho 3h de show, isso me proporciona receber amigos e convidados que fiquem à vontade, ter um repertório mais amplo, repetir músicas que a galera peça, muitas coisas bacanas. Esse formato de show eu não me lembro de outros lugares fazerem antes da gente começar a fazer. E eu comecei a fazer e se tornou uma coisa bacana e outros lugares, outros artistas, outras festas começaram a fazer também. Porque viram que o formato de festa funciona. O bar ganha mais, a casa fica satisfeita, o público, que é cliente final, chega, janta, conversa... Eu começo o show 1h da manhã, vou até 4h. O cara curte a noite toda, fez de tudo, e quando ele vai embora ele pensa: ‘meu deus, sexta-feira que vem eu vou voltar’. Isso que é o mais precioso, esse: ‘semana que vem eu volto’. Muita gente fala, ‘poxa, mas você vai ficar tocando toda semana no Zen?’ ‘Cansa, não sei o que’.  Mas se o público quer? Se nosso e-mail chove? No Facebook, é mensagem o tempo inteiro. Toda semana tem a lista de reserva com uma semana de antecedência, o tempo inteiro. Vende os lounges, tem 200 nomes na lista já na segunda-feira. Então, qual a minha função? Não é levar alegria pras pessoas? Não é cantar pro meu público? E outra coisa, tem o detalhe, o palco tem um palco de altura. Isso permite que eu abrace as pessoas, que eu converse, tire foto. É quase um show das pessoas junto comigo. E eu tô ali pra isso mesmo, tenho muito em mim. Tenho a tranquilidade de saber que eu me dou. Faço tudo que posso pra no meu show ali, eu saber que tô agradando meu público.
 
Você vai lançar o tão aguardado DVD, que foi gravado no fim de 2014. Porque acabou demorando tanto o lançamento?
Na verdade é o seguinte. O DVD são 18 canções autorais, gravado no verão de Salvador, o nome do DVD é ‘Danniel Vieira, o sertanejo com a cara da Bahia’, porque realmente ele tem a cara da Bahia. Foi gravado no terminal náutico, de costas pro Mercado Modelo. Então, a demora do DVD é porque a gente tentou esperar a hora certa pra lançar o trabalho. Tem hora certa né? Que o público tá mais favorável, que conhece mais o trabalho, estávamos planejando a hora certa de dar o ‘tiro do canhão’. Essa música nova mesmo, de trabalho, ela vai estar no DVD só com o clipe. Que acabamos de terminar de gravar e, pra ela fazer parte, a gente teve que fazer isso e ela sair como o extra. Mas ele tá atual, tá ótimo.

 
Suas músicas autorais são muito conhecidas regionalmente. Desde as mais antigas, como ‘Louca’ até as mais recentes, como ‘Quatro motivos’. Já surgiram propostas de outros artistas para gravar suas canções? O que você pensa disso?
Eu nunca me propus a colocar música na prateleira. Nunc ame propus a fazer isso. Já me procuraram, né? “Quatro motivos”, principalmente. Que já encheu os olhos de lagrimas e felicidade de muitos artistas no Brasil. Atualmente, eu até enviei quatro motivos pra uma dupla que eu gosto muito, são meus amigos, tenho um apreço. Eles gostaram e tal, mas nenhuma procura efetiva em dizer ‘quero’. ‘Louca’ pra mim, realmente, é a música mais forte que eu tenho, né? Forte pela letra, pelo refrão, pela animação, pela mão pra cima ali no início... Acho que ela é a mais forte. E nunca tive uma procura certeira: ‘olha, quero gravar, como é?’. Se tivesse, eu não sei o que eu faria. Nesse momento, eu não sei. De repente, se fosse uma música gravada comigo, que isso agregasse pra minha carreira. Porque são músicas feitas pra minha carreira, não são músicas feitas para outro artista. Elas têm aminha cara, o meu jeitinho de cantar. Eu sou compositor, quero que minha música seja tocada. Então, eu não negaria não, mas acho que teria que ser algo que agregasse a minha carreira também.
 
Eu nunca trabalhei música em rádio. ‘Louca’ foi trabalhada em uma rádio e ‘E aí?’ em duas. Pela primeira vez eu tô trabalhando uma música assim. Isso me chama atenção pro destaque do Zen, da coisa do CD no carro. As pessoas me conhecem por causa disso, da internet. Isso é importante.
 
Quais as novidades de Danniel para 2016?
Então, a música nova. “Um sabonete de motel”. Que vocês sutilmente elogiaram o meu trabalho, da forma de vocês. Eu entendo perfeitamente e adoro o formato. Eu juro que gosto, sinto falta de vocês me citarem como o ‘Tiozão Marceneiro’. Porque eu sou estudante de engenharia civil, né? Nunca consegui me formar. Então toda vez que me citavam assim eu me acabava de rir. E, pra mim, é um elogio, é a forma de vocês. Foi minha forma de chamar atenção pra música, que de fato é uma história polêmica, que conta a história de um amigo meu que pegou o carro e a mulher achou um sabonete de motel, e no clipe vocês vão tentar entender se foi baratinho do cara ou se foi um amigo dele mesmo, como ele diz. Essa música é uma música diferente, onde eu tô navegando por um mar nunca antes navegado, meio brega, é de Cassio Sampaio e quem me apresentou foi Gabriel Levi, que é meu produtor musical também e eu ouvi ela na voz de Guto Cézar, que é outro cantor sertanejo aqui de Salvador, meu amigão também. Eu tô apostando tudo nela, porque ela tem a cara do povão. O povo gosta de cantar isso. A gente tá tendo um retrato muito bacana delas nas rádios, pelo número de pedidos e tal. Vem outra música também depois dela, logo depois do lançamento do DVD, chamada “Engole o Choro”, com Solange Almeida (com fé em Deus). Aí tem o DVD, que tá programado para o dia 7 de abril, uma quinta-feira. Estamos programando as participações e vamos soltar a festa. Thaeme e Thiago estão confirmados. Aí depois vem o São João, né? Mais um ano no Forró do Piu-Piu, mais um ano no Forró Bode (Euclides da Cunha), na Praça da Amargosa, na Praça de Cruz das Almas, na Praça de Irecê, de São Francisco do Conde, Brejões, Iaçu, Tucano. É o mês todo fazendo quase que dois shows por dia. Ano passado teve dia que fiz quatro shows.

 
Pela primeira vez você puxou o arrastão, neste carnaval. É diferente de puxar um trio bem na folia? O que você achou?
Foi o terceiro ano da pipoca do gordinho esse ano. Ano passado eu puxei o Bloco Yes, na quinta-feira, foi uma experiência maravilhosa, muito bacana. Realizei o sonho de puxar um trio, tocando sertanejo, na Bahia. Diferente, né? Então, as pessoas abraçaram a ideia e foi muito bacana. Esse ano, tínhamos dois dias da pipoca do gordinho, ela dobrou. Um dia foi pipoca doce, o outro de pipoca salgada. A salgada foi na sexta-feira, que o trio que íamos, chamado Freeway, de Cézar Trípode, era pra estar no porto da Barra às 17h. Ele se atrasou na checagem dele com a prefeitura e só chegou lá 2h40 e eu me recusei a sair. Por quê? Porque eu tenho o cachê dos músicos pra pagar, pra receber depois, eu tenho iluminação eu tenho LED, tenho alimentação e bebidas, tenho convidados. Tenho tudo que eu faço como investimento de marketing para aparecer e mostrar minha música pro povo. Eu saindo 3h da manhã, ia pegar quem na rua? Valeria a pena? Falei, ‘prefiro não sair’. Aí, Deus sabe o que faz. Veio Isaac [Eddington], a Saltur, e o prefeito. ‘Faz o seguinte, saia no arrastão, na quarta-feira de cinzas. A prefeitura te dá o trio. Te dá todo apoio’. Aí veio aquele conflito interno: ‘Meu Deus. O Arrastão, o que eu faço?’. Um desafio muito grande, um medo de sair de ridículo. Porque eu não sei, de verdade, em que proporção a imagem de Danniel Vieira e o trabalho de Danniel Vieira estariam no arrastão. Eu sei o meu número no jogo do bicho, sendo bem sincero. Aí qual foi à estratégia: aceitamos e fomos chamar os amigos pra eles ajudarem a gente a florear e crescer o ‘Arrastão do Gordinho’. Aí no mesmo dia que a gente resolveu fazer, eu tava na TV, no Campo Grande e me bati com o pessoal do Ara Ketu, Linoi e Tonho Matéria. Falei ‘Poxa gente, vamo sair comigo, sou fã de vocês’, eles aceitaram. Aí depois falei com Tierry, meu amigo, ele aceitou na hora. Aí, quando eu penso que não, passa Kannário. ‘Velho, vamo lá ajudar seu amigo gordinho?’ Ele me disse ‘Velho, eu não sei se vou ter voz, mas seu amigo estará lá com você’. Aí liguei pra Ed City, a vó dele faleceu durante o carnaval.  Ed é meu amigão, eu já fui backing vocal dele já. Do fantasmão e Ed City. Tierry também, eu e ele éramos backing vocal do Fantasmão na época do “Kuduro”.  Na verdade, eu e Tierry nos conhecemos no 'Ídolos', fomos escorraçados de lá juntos (aquele programa porcaria, que a gente achava que ia pra algum lugar). Enfim, aí Ed não podia ir.
 
No mesmo dia, me bati com Tays, a Vingadora. Ela, eu conheci em dezembro de 2014, Neto Gasparzinho que me apresentou lá em Itabuna quando eu fui fazer show. Adorei ela, achei uma pessoa simples, conseguia dançar sensualmente sem ser vulgar, fiquei brother e trouxe ela pra Salvador em março de 2015. Eu lembro que falava pra ela que ela ia pipocar, ela é uma pessoa bacana. Aí ela tem um respeito e carinho muito grande, por eu ter até apostado nela, antes de qualquer coisa. Então ela nem pestanejou, me disse: ‘Eu vou’. Na hora eu até me arrepiei. Porque Ara Ketu, Tierry, Kannário e a Vingadora... Neto LX também disse que ia, mas só me confirmou no outro dia de manhã. Aí pronto.
 
Quando chegou no dia, eu no trio, vieram me dizer que Ivete não ia sair. Eu, no camarim, e me disseram: ‘Ivete tá doente, não vai sair’, eu me tremi todo. Pensei, ‘E agora?’. Os caras me dando força, peguei na mão de Deus, e fui. Ninguém tinha chegado ainda, eu fui sozinho mesmo. Quando eu subi que eu olhei, uns 500m atrás de mim vinha o arrastão da Limpurb. E como Ivete não saiu, o Farol da Barra tava entupido de gente. Aí eu pensei ‘se esse povo for atrás de mim, eu vou fazer bonito’. Quando eu comecei, veio todo mundo, aquele clima de praia, uma alegria, uma energia, o suor batendo, a pele ardendo. Foi uma festa muito bacana. A imprensa cobrindo, foi muito lindo. Quando chegamos no Espanhol, a Vingadora subiu no trio, fez a festa, o povo ficou doido. Quando chegou em Ondina, Kannário chegou. Aí, o arrastão que já tava pronto, derrubou tudo. Aí ele fez ‘quem não tirar a camisa é porque tá com sovaco fedendo’ e eu falei: ‘aonde’, fui lá e tirei também. A produção toda correu me mandando botar e eu nada. Sempre falei que fui gordinho, sou gordinho e cabou. Aí chegou no final, foi uma coisa muito épica pra mim, lancei a música ao vivo na televisão, Kannário me deu a maior moral o povo ficou gritando ‘Uh, é o gordinho’... Entrou pra minha história. Espero que ano que vem se repita toda essa alegria e felicidade. Eu não vou esquecer isso nunca.
 

 
A gente tem alguns artistas que são referencias em um ponto que você destacou em sua última entrevista no BN, que gostam de se destacar com o público especialmente por sua música e pela pessoa que eles são. Como, por exemplo, Jorge (da dupla com Mateus) e Xand (do Aviões do Forró). Você acha que as pessoas estão valorizando mais outros lados independente do corpo e exposição?
Eu acho, mais uma vez, que é culpa das redes sociais. A internet aproxima você do artista. As pessoas conhecem mais da vida do artista e começam a admirar o artista pelo que ele é e não pelo que ele tem ou representa. E também tem ao que o artista que se propõe, que faz com que o público conheça o trabalho dele e não se propõe a outras coisas. Eu não sou símbolo sexual, não pretendo ser. Não sou aquele cara que se destaca pela beleza e nem ao contrário, eu sou normal. No meio da multidão eu sou mais um. O que me identifica é o que eu canto, como eu canto. Sou a mesma pessoa com todo mundo. Tanto no pessoal quanto no profissional. Eu tenho a dignidade de dizer que eu sou a mesma pessoa. Acho que as pessoas entendem que isso é verdade e pegam pra elas.
 
Neste ano várias cantoras de sertanejo estão ganhando destaque com o público e mídia. Como você vê essa nova inserção, com uma mesma linguagem bem mais popular do que a que era utilizada por cantoras sertanejas antes?
Eu acho natural, como a música popular brasileira, os homens cantaram em sua totalidade, quase, e as mulheres começaram a cantar também. Eu acho que é justo e preciso que mulheres cantem sertanejo e tragam a pitada delas. Pra mim, Simone e Simaria elas conseguem trazer as mulheres para o público. Porque, por exemplo, eu como homem canto uma música falando como homem. E a mulher tem que transformar a música na cabeça dela pra cantar. E ao contrario não. Isso é representação.