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Entrevista

'Se continuar, não vai ter mais a terra da alegria', diz Gil sobre crise na música baiana

Por Aymée Francine / Júlia Belas

'Se continuar, não vai ter mais a terra da alegria', diz Gil sobre crise na música baiana
Foto: Luana Ribeiro / Bahia Notícias
A cantora Gilmelândia voltou ao cenário musical no início de junho com o lançamento do seu EP “Tambor de Gil”. O disco traz cinco músicas inéditas e uma regravação do hit “Prefixo do Verão”. Gil, ex-vocalista da Banda Beijo, falou ao Bahia Notícias sobre o seu novo trabalho, opinou sobre o momento atual da música baiana e falou de sua relação com os outros artistas baianos. “Quando eu cheguei, as pessoas perguntavam quem era essa menina que vinha feito um furacão com um cocózinho na cabeça. Então eu procurei respeitá-los, principalmente a Netinho, que sempre me deu oportunidade”, revelou ela sobre o ex-companheiro de Banda Beijo. Leia a entrevista na íntegra.
 
Você está lançando um novo EP, o “Tambor de Gil”. Qual a história desse novo trabalho?
Estou feliz de mostrar o meu lado de compositora para o povo. Porque eu sempre gostei de fazer músicas, mas não lançava no mercado. Eram coisas alternativas. Vou falar logo do “tambor”. Cara de Cobra, que era o percussionista de Ivete, ele agora é o produtor musical, junto com Wilton Mendes. E aí, há muito tempo, desde que ele estava com Ivete, ele me encontrava e dizia: “poxa, um dia vou produzir uma coisa sua” e eu respondia: “será, Cara de Cobra? Você com esse corre-corre”. Aí ele saiu de Ivete, quis ser produtor e me chamou. Ele que deu esse nome, “Tambor de Gil”, porque é uma homenagem à percussão da Bahia, o nosso forte, o que balança a massa. Aí eu comecei a pesquisar mais um pouco sobre nossos ritmos e a fazer muitas matérias, como as de Carnaval. Visitei o Ilê, os Filhos de Gandhy, todos esses blocos, pra falar com propriedade quando eu estivesse ali transmitindo as coisas pela Band. Então eu descobri muitas coisas. Por exemplo, que o agogô foi retirado da percussão da Bahia, assim como outros instrumentos. Como é que se tira o agogô? É extinto? E aí foi quando surgiu o meu lado de compositora. Chamei Rubem Tavares, um compositor com várias canções de sucesso, para compor um ijexá, porque nunca mais ninguém fez um ijexá na Bahia. Ele aceitou e disse para fazer uma coisa bacana, moderna, buscando homenagear a nossa música. Até no toque da guitarra, do teclado, a gente fez uma misturada pra ficar contemporâneo. E aí surgiu essa música, que se chama ‘Meu Afro’, que é em homenagem aos blocos afro da Bahia, ao sorriso das negras, ao som. Ela é muito linda.
 
Mas, nesse disco, você também traz outros estilos...
Tem muito samba de roda, sons do Recôncavo que também foram esquecidos. Era engraçado porque a gente fazia as canções em casa, gravava e, automaticamente, já mandava para Cara de Cobra, que, junto com Wilton, já editava e produzia. E aí surgiu a música “Tambor de Gil”, que é um samba de roda. Outra coisa que eu pesquisei é um ritmo muito bacana da gente que é o groove arrastado. Em todos os estilos do mundo, nós temos as coisas que são maravilhosas, comerciais ou não. Umas que têm letras lindas, e outras que não. Então eu fui atrás do groove arrastado da Bahia, que é essa coisa que veio do Márcio Victor, junto com o Edcity quando estava no Fantasmão, e aí foi quando nós fizemos uma música chamada de “Te Dou”. É a história de um cara de uma comunidade que queria namorar uma menina, bem a história da gente mesmo, do povão. O problema é que ele só quer saber de ostentação, carrão, e ela quer realmente dar o amor dela pra ele. Aí fizemos essa canção e colocamos no groove arrastado. Colocamos também “Prefixo de Verão” no ritmo, que é a única música regravada no EP. E nós fizemos isso em homenagem à galera do groove arrastado. Se você observar, sobre o que nós falamos até agora? Sobre os ritmos da Bahia. Eu acho importantíssimo. Eu fui lá, pesquisar. Muitas pessoas me perguntam no Brasil inteiro sobre o que é a nossa música. Aí eu digo que ela tem o comprometimento de entreter. A gente quer entreter as pessoas, é entretenimento, nada mais do que isso. Não é música para a galera sentar e ficar pensando: “pô cara, a situação do país é essa mesma”. Não é. A nossa música começou dessa maneira, uma música para o povo brincar, se divertir. Não é nada de cabeça. É uma música de brincadeira mesmo, que as pessoas vão cantar e divertir. Pelo menos na época que eu peguei era assim, na época da Banda Beijo era aquela coisa de “levante a mão, entre no clima”, aquele axé aeróbico, que a gente falava que era como um balé. Eu achava aquilo muito interessante. Até hoje eu vou a alguns lugares, onde os artistas nem lá estão indo mais, como no Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, mas a nossa música continua sendo forte, porque todo mundo gosta de alegria. Quem não quer seu momento de diversão? Uns gostam de beber, outros de dançar, mas música é música e a alegria é sempre bem vinda. A alegria salva vidas. Eu sempre digo que um sorriso pode salvar alguém, e a nossa música salva mesmo.
 

"Tambor de Gil", EP de Gilmelândia | Foto: Reprodução / Instagram
 
E agora você tem a música "Paz e Amor (It's Gonna Be Good)", que é metade em português, metade em inglês. Por que a escolha dessa música?
Na realidade, eu não inventei nada. A música veio pronta. Tudo que é verdadeiro, todo mundo sente. Ricardo Aleluia e Fausto, que é técnico de som da WR, fizeram essa música. Ela tem mais ou menos 10 anos e eu não sabia disso. Eu sempre quis uma música que falasse de amor e esperança, sempre falava com todo mundo que encontrava, mas eu queria ritmo e nunca encontrava, aí deixei pra lá. De repente, essa música apareceu. Aí a gente resolveu chamar Edcity, que é um cara cheio de ritmo. Como eu não domino totalmente o inglês, até pelo fonema, contratei uma pessoa pra me ajudar com isso. Gravei umas cinco vezes pra sair perfeita. Eu quero mesmo, de repente ela pode invadir o mundo e levar uma mensagem de amor. Quando a música ficou pronta, eu me apaixonei. Porque ela era verdadeiramente aquilo que eu sempre quis durante muito tempo. Como eu faço mágica nos hospitais de criança com câncer, eu sempre ia e fazia festa com show, mas tem crianças que não podem sair do leito, e eu ficava triste pensando como visitar essas crianças que não podem vir. Então fiz um curso de mágica, e aí eu vou de leito em leito. Faço esse trabalho já há alguns anos, porque eu aprendi que com a mágica elas criam esperança. Elas acreditam. Fui pra São Paulo, chamei o meu diretor, que é um amigo, um cineasta chamado Piero Sbragia. Então eu disse que quero fazer um clipe de mágica com essa canção. E aí ele fez o roteiro e fui lá fazer essas mágicas no Viaduto do Chá, em São Paulo. Eu peguei rosas e distribuí, foi incrível. As pessoas não estavam esperando por aquilo. Teve um deles que nem quis a comida, só ficava olhando pra rosa, e senti que as pessoas, verdadeiramente, ainda gostam do amor. Digo que essa música é um presente dentro do EP.
 

Em toda a sua trajetória, nesses 17 anos de carreira, qual foi o maior aprendizado?
Uma coisa que eu comento muito com as pessoas, é que eu nunca tive vontade, nem sonho, de ser cantora, famosa. Eu cantava no quintal da minha casa, uma vizinha ouviu, um rapaz estava precisando de uma cantora, e aí eu fiquei 10 anos dentro do bar cantando. Quando eu entrei na Banda Beijo, eu era aquela menina de “cocó”, engraçada. Eu não queria saber de nada, eu só queria saber de brincar. Tudo meu era aquela bagunça, aquela gritaria. Todo mundo fazia uma coisa, eu fazia o oposto. Quando eu chegava nas redes de comunicação, todo mundo dizia “lá vem a maluquinha”. O que eu acho que mudou em mim, daquele tempo pra cá, e que eu gostei, é que como eu convivi com gente, entrei por vários lugares, eu comecei a perceber o que é que gente precisa. Que gente precisa de alegria, precisa de palavras de amor, de conforto, de aprendizado e esperança. Então eu peguei tudo que eu aprendi com minha mãe e com meu mestre, que eu digo que Jesus Cristo é o meu mestre, e disse: “a partir de agora, eu posso até levar a alegria pras pessoas, mas eu quero usar esses meios para ser usada”, entende? Para dar uma paz interior. Para não dar só uma alegria que é passageira. Eu quero dar essa alegria. Mas eu quero que no outro dia eu tenha feito uma mudança na sua vida. Isso que eu acho que mudei, e que foi bom pra mim. Hoje eu estava até pensando sobre isso. O melhor não foi prêmio, não foi fama. Foi isso. Eu ganhei um amadurecimento e, o mais importante, eu não quero nada em troca. Eu só quero fazer a diferença na vida de alguém pra ela se tornar melhor.
 

EP será lançado no próximo dia 21 | Foto: Luana Ribeiro / Bahia Notícias
 
No dia 21, você vai fazer o lançamento do seu EP no Teatro Eva Hertz. O que está preparando para o dia?
Eu vou cantar as músicas do EP, vou levar as pessoas que gostam, que me amam e querem ver o meu EP, fazer um showzinho pra eles, uma coisa bem íntima mesmo. As pessoas sempre me perguntam o que eu espero e eu não sei. Eu espero o que a vida vai me dar. A vida está aí, eu tenho meu presente, que é minha música, minha alegria, as coisas que eu aprendi durante esse tempo todo, que foi uma caminhada onde eu plantei. Quero ensinar o que eu puder a partir da minha experiência de vida. O bom é que eu estou ali cantando. Já me perguntaram, “Gil, qual a diferença entre quando você estava na Banda Beijo, no bar e em carreira solo?”. Para mim? Nenhuma. Só mudou o número de pessoas e visualizações. Porque hoje muitas pessoas me veem. No bar era aquele pouquinho. Hoje, as pessoas me conhecem na cidade, no país e em alguns lugares do mundo. Eu quero que as coisas venham pra mim, se for para me melhorar como ser humano. Se vier qualquer coisa no mundo que for mexer um pouquinho do que eu aprendi como ser humano, eu não quero. Minha oração é assim. Quando eu chego em qualquer lugar eu sempre levo minha turma. Eu falo em nome de todos os artistas da Bahia e agradeço por tudo, porque nós somos um movimento. Nós não somos sozinhos. Ninguém vai pra frente assim.
 
Na capa da revista “Alvo dos Famosos”, você disse que o Carnaval precisa de regras. De que tipo de regras você está falando?
É uma indústria. Falta muita coisa. Em primeiro lugar... Há muito tempo, o povo dizia que o nosso país é a casa da mãe Joana, todo mundo chega aqui e faz o que quer. Eu penso isso da nossa terra um pouco. Se você vai pro Amazonas, e eu estou dizendo isso não para ofender, mas para melhorar. Então, chegando lá, tem os dois bois e tem o Bumbódromo, onde as pessoas desfilam com a camisa que seria o abadá. Se você chegar lá, com o boi amarelo, você entra? Não entra jamais. Não entra. Lá, o boi é vermelho ou azul. Isso é cultura. É a cultura daquele povo. Falando daqui, somos uma festa democrática? Somos. Mas calma, peraí, freio aí. Você não pode tirar os artistas da terra, os blocos desses artistas pra colocar pessoas de fora. Porque um povo que não ama sua cultura, não a preserva, derruba a árvore e não planta outra, o que acontece com esse povo? Ele morre. É sem vida. Se você não ama o que é seu, morre. O que eu estou achando da nossa música e do nosso carnaval é isso. Por exemplo, você passou com seu trio, você é um artista, você tem que respeitar quem está lá trás. Você não pode chegar e ficar batendo papo. Até os artistas de fora que vem pra cá. Quem tá falando isso não é Gilmelândia, é o turista que vem pra cá. Porque eu rodei tudo fazendo entrevista. Já vi turista chegar pra mim e dizer: “poxa, Gil, vem forró, vem eletrônica, vem samba, e só depois vem Timbalada”. Não pode.  O cara veio pra cá ver a gente, nosso ritmo. Se tem um forró, um techno, tem que ser participação com a gente, que nem em Pernambuco. Tire um trio de frevo e coloque um de axé no carnaval de Recife. Estou falando isso porque eu fui atrás dessas pessoas, eu conversei com o pessoal do Galo da Madrugada, com os coordenadores, nas minhas matérias pela Record. Vi de perto.
 
Você acredita que uma lei, como a criada pelos forrozeiros para valorizar os artistas locais no São João, funcionaria para o Carnaval de Salvador?
Sim, com toda certeza. Primeiro lugar, eu não estou aqui pra ofender ninguém. Mesmo que eu fique fora no Carnaval, meu intuito é ver as pessoas falando bem da minha terra, da cultura da minha terra. Então, primeiro lugar: se você tem um bloco, você não pode administrar esse Carnaval. Tem que vir de fora, alguma coisa diferente. Não vai vestir camisa de ninguém. Tem que ser profissionalmente, o que é correto. Aí fica essa bagunça danada, os blocos afros também não têm seu espaço. Isso é nossa história. Não pense que o turista não vem pra cá ver os Filhos de Gandhy, o Ilê. Tem gente que vem pra cá estudar nossa percussão, nosso ritmo. Pagam caro pra isso. Imagine? Se o cara vem pra cá fazer uma pesquisa, ele chega aqui e cadê aquilo tudo que ele veio ver? Não tem mais. Isso é uma coisa que tem que se pensar. Tem que botar ordem na casa, está desorganizado.
 

Cantora acredita em reformulação do Carnaval | Foto: Luana Ribeiro / Bahia Notícias
 
Atualmente, o conselho que comanda o Carnaval é composto por pessoas que tem diversos negócios relacionados ao carnaval. Você acredita, então, que mudar esse fator é a chave?
Não dá, isso não existe. Tem que ser uma coisa de fora, nada a ver. Não é ético você ter um bloco, um camarote, ou sei lá qualquer coisa relacionada ao carnaval e estar dentro do conselho, da organização. De jeito nenhum. Claro que você sabe que nenhum lugar é totalmente certinho. Mas, pelo menos, não ficaria o que está aí. Eu acho um absurdo. Por exemplo, fui para São Paulo agora, para uma casa chamada Villa Mix. A organização toda é deles, dentro do sertanejo deles. Você lembra que a nossa música, a gente cantava e as pessoas faziam um balé? Eu cheguei lá e eles estavam fazendo isso. O que a gente fazia.  Não existe mais aqui. Outra coisa que eu queria falar, que é muito importante. Outro dia fui ali num show de Ninha, comemorando 70 anos de Cantina da Lua. 70 anos de tradição. Como é que não existe ajuda pra Cantina da Lua? O turista vem pra cá, a primeira coisa que ele pergunta é onde pode curtir um axé e você tem que dizer que ele não curte. Eu estou te falando isso tudo, porque tem um país inteiro cobrando isso que eu estou falando aqui. Não sei como funciona porque politicamente não tenho essa sabedoria, mas porque não juntam empresas, hotéis, governo, prefeitura e colocam Ninha, eu, Márcia Freire, Carla Visi, Olodum, Ilê, Daniela, Ivete, Claudinha, Bell, todo mundo tocando todos os dias em um lugar? Por que não? Eu fui para Fortaleza e fiquei impressionada. Tem um lugar lá que todos os dias tem show de humor. Por que você sabe que lá é a terra do humor? Porque eles vendem e abraçam isso.
 
Em que momento você acha que a gente se perdeu nessa defesa da nossa cultura para abraçar outras coisas?
Eu acho que isso tem a ver com tudo. Política, tudo. Não estou falando só na música não. Em uma cidade, em um estado, que o povo vem em busca da terra da alegria e cadê? Cadê a “terra do axé”?  Isso aí é uma parceria do governo, da prefeitura, com algumas empresas para fazer que essa terra fique melhor do que já foi um dia. Eu gosto muito de artes plásticas, tenho várias obras de arte na minha casa, e também acontece nessa área. Por que a gente vai ficar restrito e não dar oportunidades a outros artistas plásticos que estão por aí, ganhando R$ 50 por sua obra? Por que a gente não vai ter outro Carybé? Será que não vai ter uma força para essas pessoas que estão passando fome? Eu digo porque visito um a um e eles sentam comigo e têm uma história de vida para contar. Artista passando fome, gente. Não estou só falando da música não. Nunca se fez um musical aqui em Salvador com produtores daqui, fantásticos, da nossa terra. Por que não fazem um musical com a nossa cultura, patrocinado por uma grande empresa? Para você que está lendo, estou fazendo a pergunta daquilo que todos me perguntam. Quando vêm meus amigos de fora, ficam doidos para tirar foto no Pelourinho, no Mercado Modelo, e a gente fica orgulhoso de levar. E, de todas as matérias que eu fiz pelo Nordeste, aqui foi o lugar que eu sentei e chorei mesmo, porque tem que reformular, pensar no que vai fazer. Se a gente continuar do jeito que está, não tem “terra da alegria”, nem Carnaval, nem cartão postal teremos.
 
Muitas pessoas falam que, por ter um Carnaval com mais blocos de rua, o Rio de Janeiro vai começar a levar o público e os artistas daqui...
Aqui é a porta de entrada. Eu vou para lá cantar, porque precisa repensar, mas é aqui que a gente tem que ficar. Por crise, todo mundo passa. Imagine se todo brasileiro que tivesse um problema fosse embora? A gente tem que ficar, é uma questão de união. Vamos ficar todo mundo aqui, procurar patrocinador, porque eu não acho que enfraquece. Não é só um grupinho de seis, tem que ser todo mundo junto. Porque tem empresa para apoiar a cultura, mas tem que querer, ter uma frente de batalha. E vou lhe dizer, tem que falar sem revolta. Eu tenho outra história, tenho minha música, tenho minha vida feita. A única coisa que me dá tristeza é quando vejo minha terra assim. Nós somos uma potência mundial. Quando eu era uma menina, ia para a Terça da Bênção lá no Pelourinho e não cabia gente. Eu me lembro que, uma vez, estava todo mundo descendo a ladeira e parecia enxurrada de gente que tinha.
 

Gil acredita em união dos artistas | Foto: Luana Ribeiro / Bahia Notícias
 
E esse movimento de Furdunço, ou do Carnaval para a pipoca que levou milhares de pessoas ao Pelourinho no Carnaval, pode ser considerado um início?
Claro, tem público para tudo. É um pouquinho para cada, tudo está certo. O que está errado é que a gente tem que se unir, organizar, deixar o ego e a vaidade de lado para salvar esse negócio.
 
Você tem uma preferência por esse seu outro lado de apresentadora, de mostar lugares e contar histórias?
Meus fãs piram quando eu falo isso, mas essa é a minha grande paixão. Eu amo a música, foi um presente que Deus me deu, um dom, mas apresentar foi uma coisa que eu descobri. Isso, para mim, foi fantástico. Quando eu vou entrevistar, eu amo, descubro cada coisa e isso é fascinante. As pessoas me perguntam por que eu não faço um projeto para voltar para a televisão e eu digo que eu tenho a minha preparação. Eu me preparo todos os dias porque o bom profissional é assim, já que o mundo está sempre mudando e a gente não pode parar. Estou esperando o momento certo, a hora certa, e se vier, é para o bem, para me melhorar como pessoa. Se não, que fique lá. É massa, foi muito bom tudo o que eu fiz e faço até hoje. Se me chamam para fazer uma matéria, eu faço com muito prazer.
 
De 1998 até 2002, você estava na Banda Beijo. Depois desse sucesso todo, vieram vários outros projetos, mas não houve aquele “boom”. Por que você acha que isso aconteceu?
O mercado mudou, não é mais o mesmo. Gravadora, mesmo, não vende mais CD como antigamente. A primeira tiragem minha foi de quase quinhentas mil cópias e depois a coisa começou a mudar. Tem que ser valente, não desistir. É como um amigo meu disse: vá fazendo coisas, são suas, é a sua história. Estou fazendo. Já tenho muito tempo sem uma gravadora, agora estamos vendo para ver se rola de fazer um DVD. Se não, a gente vai correr atrás de outra coisa, de uma empresa para patrocinar, porque eu tenho muita história para contar e os meus fãs pedem muito. O mercado estava muito difícil quando eu comecei a minha carreira solo. Lembro que havia muita pirataria, que era terrível, e a gente no meio daquele tumulto. Mas aí, depois da tempestade vem a bonança, que foi o meu lado de apresentadora e que me colocou na frente e hoje sou apaixonada. Na vida, é assim, um passinho de cada vez. Não pode é ficar desesperado, senão fica com rugas demais, com cabelo branco logo. Se avexe não, que amanhã pode acontecer tudo, inclusive nada.
 

 
Na sua passagem pela Banda Beijo, havia uma ligação muito forte com Netinho, inclusive teve aquele beijo bem emblemático... Ele passou um tempo internado recentemente. Como anda a sua relação com ele?
 
Ele que me beijou, viu, gente? Olha, nunca houve problema com Netinho ou com nenhum outro artista. Imagine, quando eu cheguei, as pessoas perguntavam quem era essa menina que vinha feito um furacão com um cocózinho na cabeça. Então eu procurei respeitá-los, principalmente a Netinho, que sempre me deu oportunidade. A gente não era amigão do peito de estar um na casa do outro, mas ele me admirava muito e eu era fã dele. A minha separação com ele foi porque ele saiu da sociedade com Misael [Tavares] e, quando ele foi, eu fui também porque meu empresário queria outras coisas. Ele me pediu isso, disse que precisava ir e queria viver outras coisas. Nos afastamos um pouco e começamos a falar mais por telefone, quando nos encontrávamos em festas, mas quando ele teve a doença, procurei a produtora dele e ela disse que era história, que não era verdade. Ele não queria que ninguém fosse ver e eu respeito. Minha mãe teve um AVC, está acamada, e eu respeito o momento. Amo ele, ele me ama, a gente não teve briga nunca. Minha história toda foi com Misael, porque ele queria política, filhos e não queria administrar mais a carreira de ninguém. Mas ele não me colocou em outra empresa, foi deixando ali, aí eu fiquei sem gravadora. Como eu sou cantora, não empresária, então não é a minha praia. Eu respeito e sofri muito quando ele ficou assim porque é uma pessoa muito esforçada. A gente nunca foi de ser família, de ficar um na casa do outro. Ele tinha uma festa, eu ia, ele ia para algumas coisas de minha mãe, mas era mais profissional mesmo. Não quero jamais uma mácula, que tenha dor, fico quieta.
 
E você tem alguma relação com o pessoal que está agora com a Banda Beijo?
Eu conheço o menino, o Guga [Fernandes], que está cantando agora. Conheço de ouvir cantar e torço muito por eles. Isso aqui da gente não é um só, é um movimento. Se um está forte, o outro também fica forte. Lá fora, por mais que eles digam que é axé, tem o groove arrastado, tem o arrocha... É tudo que vem da Bahia. Mas nessa coisa de samba-reggae, do galope, ninguém veio cada um com uma música para concorrer. Às vezes você chega na rádio e dizem que não tem mais espaço porque está completo. Muito produto, até depois desses realities, produtos novos surgindo o tempo todo. Até os contratantes. Esse país é muito rico de talento, mas torço por tudo e por todos, e torço pelo meu país. Todo mundo da mesma espécie, a gente é irmã.

Gil, foi publicado em alguns veículos que você estaria adotando uma criança. Isso é verdade?
É um sonho antigo. Tenho muita vontade. Existe uma criança, no Amazonas, que eu conheço e tenho muita vontade de adotá-la, mas não existe nada concretizado. É um sonho para o futuro.