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Marca Bahia Notícias Holofote

Entrevista

‘Mesmo quando fui para Rapina, nunca deixei de ser Falcão da Guig’, diz cantor sobre retorno

Por Lucas Cunha | Rafael Albuquerque

‘Mesmo quando fui para Rapina, nunca deixei de ser Falcão da Guig’, diz cantor sobre retorno
Fotos: Renata Farias
O cantor Falcão reassumiu os vocais da Guig Ghetto em novembro de 2013 e se prepara para gravar o novo DVD da banda dentro Festival Swinga Aracaju, na capital sergipana, no próximo dia 18 de outubro. Em entrevista ao Bahia Notícias, o artista falou sobre as influências musicais, a comparação com Xanddy e revelou quem considera a grande promessa do pagode baiano. Falcão também comenta as modas da ostentação e do pagode com letras apelativas. Não deixe de ler a entrevista na Coluna Holofote!
 

Fotos: Renata Farias | Bahia Notícias

Bahia Notícias: Como é que está sendo esse período de divulgação e de muitos ensaios?
Falcão: É, tem ensaio pra caramba. Tem umas quatro semanas estamos ensaiando compulsivamente. A gente começa a noite e só termina praticamente de madrugada. Mas tá tudo direitinho, graças a Deus.
 
BN: Depois do seu retorno para a Guig, vocês lançaram disco. O que o DVD traz de novo?
Falcão: Lançamos o primeiro CD, gravado em estúdio, e temos também um segundo, em um show ao vivo. Mas esse agora vai ser um DVD. Não é um DVD de carreira, com gravadora. Mas vai ser um trabalho bacana, com umas 20 músicas nossas. Vai ser um DVD não somente autoral, mas de repertório. Mais voltado para o verão, época em que a gente faz bastante show. Os ensaios estão sendo intermináveis porque estamos montando um show novo para o DVD, com balé, show pirotécnico etc. Isso tudo decidimos um pouco em cima da hora. Mas está tudo bem encaminhado, sendo ensaiado direitinho. Tem tudo pra dar certo.
 
BN: Você já tinha gravado algum DVD pela banda?
Falcão: A gente tinha gravado um CD em 2004 e outro 2007; em 2008 gravamos um DVD pela Sony. Mas esse novo será independente.
 
BN: E como será o repertório do DVD?
Falcão: Serão umas oito músicas novas, além dos hits antigos em pot-pourri. Vamos regravar uma música que eu gravei na banda Rapina chamada “Você é meu mundo”, que teve mais de um milhão de acessos no Youtube. Também vamos fazer uma música “Primeiro Beijo”, que  já tinha sido gravada por mim na Guig, com uma roupagem só voz e violão. Vai ser gravado no Swinga Aracajú, um festival de pagode de muito sucesso lá. É como se fosse o Salvador Fest no início, quando era só pagode. O lugar é bacana e para um grande público, cerca de 30 mil pessoas. Vai trazer uma coisa que às vezes não temos acesso que são fãs de outras bandas que vão se apresentar no festival.
BN: Como você avalia o pagode baiano atualmente? Ainda há a preocupação por sua parte de fazer música sem apelação?
 Falcão: Quando nós começamos com a Guig em 2003, a gente tinha o intuito de fazer música sem duplo sentido, até porque naquele momento aquilo nem era forte. A gente tocava pra todas as classes e todos os gêneros. Por conta do nosso repertório diferenciado, a gente toca em diversos eventos que outras bandas não tocariam. Eu só quero que as pessoas ouçam nosso som, não tenho pretensão de ser melhor que ninguém, de levantar bandeiras. Alguns gostam, outros não gostam. Mas o que eu bato pé na banda é que a gente não pode ficar seguindo modas. Se é pra tocar mais tem que fazer algo que não é de nossa verdade, prefiro não fazer.
 
BN: Falando em moda, como você vê o tema ostentação, que está dominando em algumas vertentes da música brasileira?
Falcão: A ostentação é um lance antigo e muito trabalhado pelo rap americano. Eu não faria, pois não é minha linha, não é minha pegada. Eu estaria mentindo para meu público se eu fizesse. Eu tenho uma relação bem bacana com Neto LX, que está no movimento forte da ostentação. Mas quem ouve a Guig às vezes até fala que não tem apelação, ostentação. Fazemos o som do nosso jeito, com nossas referências. Eu voltei para a banda receoso de que as pessoas não entendessem o nosso som como sempre foi entendido. Mas vi que as pessoas curtem o que a gente faz. A gente não faz nada pra agradar, para estar no mercado. A gente faz música porque gosta. O mais importante é fazer a música que nos agrada e agrada as pessoas que nos curtem e nos seguem.
 
BN: Como se deu esse retorno para a Guig Ghetto?
Falcão: Engraçado, mesmo quando eu fui para a Rapina eu nunca deixei de ser o Falcão da Guig nos lugares que eu chegava.
 
BN: A saída não foi por conta de problemas com empresários?
Falcão: Nada, nada. Eu saí da Guig pra conhecer músicos novos, abordar o pagode de outra forma. A Guig era eu e meus sócios, mas abri mão da sociedade. Não houve briga, mas sim um choque de ideias. Essa minha saída foi muito importante pra mim em todos os sentidos. Aprendi muito e descobri que pessoas que estavam próximas depois da saída se afastaram. Esse meu retorno foi muito maduro. Quando os sócios me chamaram para voltar, eu senti aquilo como natural, como valorização do profissional. A Rapina já estava passando por um lance estranho que as pessoas não anunciavam o show da banda em si, mas sim de Rapina e Falcão ou Falcão ex-Guig Ghetto. Havia essa tendência, apesar de eu nunca ter tido o interesse de fazer carreira solo. Aliás, muita gente até me disse que meu erro foi não ter saído e usado o nome Falcão. Enfim, quando eles me procuraram a gente sentou e acertou tudo. Às vezes eu percebo que três anos passaram e nada mudou. Voltei e tá tudo igual, isso é bacana.
 
BN: Queria que você falasse como é sua relação com os artistas do pagode e do axé? Você é mais do time de Ivete ou Claudia Leitte?
Falcão: Eu estudei com Claudinha no Integral e tenho amizade com as duas. Não éramos da mesma sala, mas éramos contemporâneos. E Ivete sempre foi uma referência total. Sou muito amigo de Denny, da Timbalada, e Saulo é um cara que respeito bastante. O mais próximo é Denny, que é meu amigo pessoal. Fiz até o arrastão de Ivete ano passado, no Carnaval. Ivete sempre me recebeu muito bem.
 
BN: E da turma do pagode, com quem você tem melhor relação?
Falcão: Tenho relação boa com todos. Como não sou muito de festa e de sair é complicado ter relação diária com a galera. Mas tenho relação boa com Xanddy, Tony, Beto, com todos. Sou um cara muito tranquilo. Quem me acompanha sabe que minha vida é casa, show e estúdio.

 
BN: Você ainda é influenciado por Xanddy, que foi uma de suas referências no início da carreira?
Falcão: A minha primeira influência do pagode, que eu sou muito fã, é Beto Jamaica. Acompanhei muito o Tchan. Acho fantástica a forma de ele conduzir o show. E Xanddy foi uma revolução, um cara que chamava atenção. Tem Tony Salles, que conheço desde a época do Poder Dang. Todos eles me influenciaram bastante, mas sempre existiu a comparação pela proximidade que eu tinha com Xanddy e com a galera do Harmonia. Aí achavam que eu era primo ou irmão de Xanddy. E quando eu dizia que não era, as pessoas achavam que eu estava negando a amizade. Não era isso. Sou amigo do cara, admiro ele como artista e como pessoa. Sabe se portar como profissional. Mas acho que a Guig já tem uma cara, se estabeleceu de uma forma que o que a gente faz já é natural.
 
BN: E dessa galera nova do pagode, quem você considera ser a grande promessa?
Falcão: Por mais polêmico e diferente do que eu sou, eu gosto muito do (Igor) Kannário, do estilo dele. A levada da banda dele é boa. Uma coisa boa que a Rapina me trouxe foi esse lance de conhecer outras coisas. Na época da Guig a gente era meio fechado, estávamos em uma zona de conforto e eu não ouvia tudo. Na Rapina eu trabalhei essa parte. Os músicos me trouxeram outras influências, entre elas Kannário, Fantasmão com Tierry, e comecei a perceber as outras bandas. Gosto muito do Tierry também, o Chiclete do Guetto é Guetto. Mas acho que Kannário se destaca. Falta algumas coisas, mas acho que ele é um dos artistas mais promissores.
 
BN: Vocês pretendem fazer um show de lançamento do DVD em Salvador?
Falcão: É importante a gente fazer esse lançamento. Deve ser em meados de novembro. Não tem nada fechado, mas deve rolar. O povo tem um ciúme enorme porque estamos gravando em Aracaju. Estamos fazendo em parceria com meu amigo Téo Santana, lá de Aracaju. Mas Salvador é nosso berço e terá essa movimentação para o show aqui.
 
BN: Já tem algo fechado para o Carnaval?
Falcão: Ainda nada. Uma de nossas metas é fazer o Carnaval de Salvador, até porque esse ano íamos fazer, mas houve um problema de horários. Mas já fechamos alguns shows fora. Quero fazer um ou dois dias aqui em Salvador, porque sempre gostei do Carnaval daqui, não só como cantor, mas como folião.
 
BN: Como você percebe a aceitação do pagode, ela realmente deixou de ser considerada música do gueto e atinge as classes mais altas?
Falcão: É mais fácil hoje. O Tchan quebrou paradigmas na época do (ensaio do) Espanhol. Hoje está mais tranquilo. Hoje a internet é uma realidade que ajuda muito, mas que em 2003, por exemplo, não era forte. Se na época da música “Pressão” já houvesse a internet forte como é hoje, seria muito mais sucesso. Hoje você pode gravar um vídeo à noite e amanhã ter um milhão de acessos. Hoje o pagode está inserido em festas VIP. Temos o Guig Lounge, por exemplo, e alguns contratantes compraram a ideia e estamos fazendo em várias capitais do nordeste.
 
BN: Você acha que o nordeste aceita mais o pagode baiano do que o sudeste?
Falcão: Acho que o nordeste aceita mais, pois até hoje o forró tem muita influência do pagode. Tem Wesley Safadão e um artista chamado Gabriel Diniz, que não tá muito conhecido aqui, mas que faz mais de 30 shows por mês. Eles têm influência grande do pagode. No sudeste também tem as casas específicas, mas a música tem que ser muito bem trabalhada pra entrar lá.
 
BN: Vi em seu Twitter alguns comentários pró Aécio e contra o PT. Você acha que Aécio é o quem melhor representa o gueto?
Falcão: Eu tenho prestado muita atenção nas coisas. Uns se deixam levar por ideais e outros se deixam levar por algo que pode se beneficiar. Mas eu acompanho política como todo mundo, pela TV. O Brasil tá passando por um processo de mudança. Não faço campanha pra Aécio, mas tem o lance de você perceber que a mudança tem que ser feita. Podia ser Aécio ou Marina, que também estava forte. O importante é avaliar o que pode e o que não pode ser feito para os próximos anos.