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Entrevista

Kannário fala do novo DVD, da identificação com o gueto, do processo movido pelo ex-empresário e das notícias sobre envolvimento com drogas

Por Rafael Albuquerque

Kannário fala do novo DVD, da identificação com o gueto, do processo movido pelo ex-empresário e das notícias sobre envolvimento com drogas
Fotos: Tiago Melo / Bahia Notícias

Prestes a gravar o primeiro DVD da carreira solo no Salvador Fest, o cantor Igor Kannário, intitulado "O Príncipe do Gueto", concedeu entrevista à Coluna Holofote e falou sobre as novidades desse novo momento da carreira. Sereno e um tanto diferente do Kannário polêmico da época de picuinhas com o cantor Chiclete Ferreira (Guetto É Guetto), o artista falou de sua identificação com a periferia, do processo que o ex-empresário moveu contra ele, das notícias que saem na imprensa sobre envolvimento com drogas e da amizade e parceria artística com o rapper Morango NovaEra. Confira abaixo a entrevista na íntegra:

Coluna Holofote: Fala um pouco de como está sendo essa sua nova fase artística depois da banda A Bronkka.
Igor Kannário:
Tá muito diferente. Agora são novos horizontes, uma nova era em termos de letra, arranjo e composição, mas a personalidade é a mesma. Ficou uma coisa nova. Trabalhar pra nós mesmos é tudo com muito mais amor, com mais novidade. Pra definir, posso dizer que é tudo novo.

CH: Os integrantes da banda te acompanharam nessa nova etapa?
IK:
Todos foram. O único que não se juntou foi o maestro Bahia, mas o restante veio comigo.

CH: Quando e como você foi intitulado príncipe do gueto?
IK:
Rapaz, foram as pessoas. Foi um lance que as pessoas diziam sempre. Chamaram de príncipe e eu comecei a falar que eu era Igor Kannário, o príncipe do gueto, porque no gueto também tem majestade, pessoas do bem. Foi o povo que me elegeu como príncipe do gueto e eu to aqui pra representar.

CH: Assim como no funk, no pagode a gente vê várias vertentes. Qual você segue?
IK:
Rapaz, a vertente do meu som é passar a história real do povo pobre, que é nossa identidade maior. É falar da periferia, chamar atenção das pessoas para nossa realidade.

CH: Você também compõe?
IK:
Sim. Muitas das coisas que eu canto eu já vivi e vivo até hoje.

CH: Quando vai compor ou definir repertório, você foca na periferia?
IK:
Como eu estou muito na rua eu presencio muito a realidade das pessoas. E muito disso sempre sai música. Eu componho através da realidade, de fatos verídicos. Não é uma coisa que a gente faz sem ver. É bom pra mim porque eu to sempre circulando. Eu me baseio naquilo que to vendo e crio uma história.

CH: Você canta músicas de quais artistas em seus shows?
IK:
Todos os artistas. Eu canto o que o povo gosta, o que o povo quer ouvir. Não sou eu que tenho que escolher. Rola pagode, arrocha, axé, tudo.

CH: Eu não percebo em suas músicas a questão da depreciação das mulheres. Mas eu quero sua opinião sobre as bandas que seguem por esse caminho.
IK:
Eu acho que cada um tem seu tipo de visão da música. Eu acho que o pagode não se engrandece fazendo esse tipo de música. Se a gente quer chegar em um patamar pra parar com discriminação e preconceito com o pagode, a gente tem que procurar se respeitar e fazer músicas que agradem a gregos e troianos. Eu acho que é isso que tá faltando. Isso refletiu em mim, pois hoje as pessoas procuram muito mais meus CDs porque sabem que tem música com conteúdo, com coisas boas pra passar para as pessoas. Somos formadores de opinião, espelho, e por isso temos que nos preocupar muito com o que vamos passar para o público.

CH: Você chegou a ter algum embate com a deputada Luiza Maia (PT)?
IK:
Não, até porque eu não faço esse tipo de música. Eu passo a realidade do meu povo, toco no coração das pessoas. Temos que levar alguma coisa que preste.

CH: Como você avalia o mercado do pagode baiano?
IK:
Tem uns que não seguem o caminho correto que é de fazer músicas à altura do povo. Os que fazem, fazem bem e tem uma legião que lota as casas de shows. Tem o lado marrom. Eu saí desse lado e graças a Deus estou chegando no outro lado, o lado branco.

CH: Como você lida com o assédio do público?
IK:
Ah, é normal porque eu sempre quis ser artista e isso faz parte de mim. Se precisar, eu tiro dez mil fotos, dou autógrafo. Eu queria ser artista. Quando não tem a gente acha ruim, quando tem a gente vai reclamar? Não pode.

CH: Há algumas semanas saiu na imprensa uma declaração polêmica de Robyssão afirmando que o público do pagode admira a vida do crime. Qual sua opinião sobre isso?
IK:
Não concordo com ele. A violência não está ligada ao pagode, pois não rola violência só em show de pagode. A massa do pagode é mais agressiva, mais dura, mais sofredora. Isso tudo provoca na pessoa uma parada psicológica. Amizades ruins, falta de emprego, isso às vezes causa a violência. Mas o crime não tem lugar, está em todos os lugares. Está na periferia, no bairro nobre, nos ricos e milionários. Tem violência também em show de axé e outros, mas por que falam do pagode?
 

CH: Você acha que rola um preconceito?
IK:
Muito, com certeza absoluta. E é por isso que estou aqui, para esclarecer.

CH: E você, Igor Kannário, sofreu muito preconceito?
IK:
Sofro até hoje. Porque só de ter a patente de favelado as pessoas já têm preconceito. A galera tem uma visão muito errada da favela. Não é como as pessoas acham que só tem gente ruim, só tem ladrão, só tem assassino.

CH: Como você lida com as notícias que saem na mídia te criticando, especulando sobre sua internação no ano passado e até falando sobre envolvimento com drogas?
IK:
Rapaz, isso é normal. Não tô nem aí. A minha mãe eu sei quem é e ela e meus fãs sabem quem eu sou. Eu lido muito bem. No começo, quando a gente não tá acostumado, a gente fica questionando, estressado. Mas depois percebemos que isso é normal na vida do artista, pois nem Jesus agradou a todos. A vida de artista é assim: uns falam bem e outros falam mal.

CH: Houve realmente o impedimento jurídico por causa de um processo de seu ex-empresário para que não realizasse shows depois que saiu da A Bronkka?
IK:
Houve sim, mas graças a Deus já foi resolvido judicialmente. Tudo que deveria ter sido feito já foi feito. Eu to livre, mas isso realmente aconteceu.

CH: Mas, como foi para você ficar longe dos palcos enquanto a situação ainda estava na Justiça?
IK:
Foi bom. Eu tive tempo pra pensar em toda a minha vida e no que eu ia fazer dali pra frente. Acho que pra isso que Deus me deu essa pausa, pra eu pensar nas coisas, voltar com novidades pra a galera.

CH: Conta as novidades que você está preparando para a gravação do seu DVD solo no Salvador Fest neste domingo.
IK:
Nesse DVD a gente vai contar um pouco de toda nossa história, desde a época em que eu cantava em outras bandas. Então, a gente pegou músicas de antes até a atualidade. O nome do DVD é ‘Minha História’ e será dividido em quatro partes. Tem as músicas antigas, as sobre discriminação, a parte do sentimento e a novidade, que já é dessa nova fase.

CH: Foi proposital a escolha do Salvador Fest para gravar o DVD?
IK:
A gente tem o Salvador Fest como a reunião de toda a legião do gueto. Como a gente tem uma identificação muito grande com a periferia, a gente resolveu unir o útil ao agradável. O Salvador Fest reúne todo mundo e o cantor do povo vai estar lá.
 

CH: Você vai ter algum convidado nesse DVD?
IK:
Vai ter uma pessoa especial que é um cara muito humilde, que eu conheci na periferia de Salvador, em Periperi, que é Morango Nova Era. É um grande amigo que entrou em minha vida meio que por acidente e criamos uma grande amizade. Ele apareceu em minha vida em um momento em que eu precisava muito. Ele veio trazendo a música Príncipe do Gueto contando toda minha história. Ele nem me conhecia e fez toda a música pensando em mim. No show, a gente vai regravar essa música com uma nova roupagem. Também vamos fazer uma surpresa com uma música nova que eu não posso falar. Ele vai participar duas vezes, uma no começo e uma no final. O show está previsto para 17h e tomara que esteja lotado. Eu estou muito feliz, estamos ensaiando bastante. Teremos cenário legal, iluminação, show pirotécnico. A galera vai curtir bastante.

CH: Pra finalizar, deixa um recado para os leitores do Bahia Notícias e fala dos projetos para esse segundo semestre de 2013.
IK:
Então, eu deixo um abraço do Kannário pra vocês. Espero voltar aqui várias vezes. Aliás, pode me chamar que eu venho toda hora (risos). Em agosto teremos nossos ensaios no Cais Dourado. O nome vai ser ‘A Sexta do Príncipe’ e na primeira edição, no dia 9, teremos como convidadas as bandas Samba Comunidade, Marrom Society, Banda OK, meu amigo Robyssão e EdCity. Tem também o DVD que vai ser lançado logo porque a gente vai trabalhar duro nele para as coisas acontecerem logo. Teremos a segunda edição da paz na Liberdade, onde a gente reúne quase 30 mil pessoas numa avenida lá no bairro.