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Entrevista

Dan Miranda diz não temer que Filhos de Jorge tenha apenas um sucesso e comenta polêmica sobre Ziriguidum

Por Marcela Gelinski

Dan Miranda diz não temer que Filhos de Jorge tenha apenas um sucesso e comenta polêmica sobre Ziriguidum
Fotos: Marcela Gelinski e Luis Ganem/ Bahia Notícias
Dan Miranda ainda está mancando. Não se recuperou 100% da cirurgia que fez nas proximidades do Carnaval. Mas o problema físico não tira seu deleite com o sucesso da música Ziriguidum. Eleita a música mais cantada da folia, o frontman da Filhos de Jorge só tem a agradecer ao público pelo apoio. Sem deixar a fama tomar conta de sua vida, ele continua morando na Cidade Baixa e não pretende se mudar tão cedo. “Tenho tudo que preciso aqui”, assegurou, em entrevista ao Bahia Notícias. Ele conta com o crescimento de shows da banda que lidera fora da Bahia. Ele diz não ter medo de ser de um grupo "de uma música só". “Fazemos tudo com carinho. Sucesso é consequência”, afirmou. Dan fala ainda da polêmica da possibilidade de Ziriguidum perder o Troféu Castro Alves, que será entregue no dia 2 de abril, por ser considerada uma paródia e não uma versão de uma música de Benin.



Bahia Notícias - Em 2012, vocês se apresentaram no Prêmio Multishow de Música Brasileira, que é um evento grandioso. Até aquele momento, a banda era mais local e não tinha tanta projeção nacional. Como vocês encararam a oportunidade de mostrar seu trabalho para o Brasil?

Dan Miranda - Eu sempre tive muito os pés no chão com relação à minha carreira, ao trabalho e tudo. E a gente ficou meio que surpreso com a indicação, porque foi [feita por] Ivete [Sangalo]. Perguntaram para ela se tinha alguma banda aqui em Salvador que queria indicar, uma potencial revelação, e ela indicou a gente. Foi uma surpresa grande. Ficamos muito felizes com a indicação, mas não deixamos de ter os pés no chão. Ajudou bastante a questão da carreira, porque a partir daí a banda começou a crescer mais, sendo mais procurada e apareceu ainda mais. 

BN - Já surgiram propostas para tocar em outros lugares do Brasil? Como é que o público de fora da Bahia recebe a banda?

DM - Eu sempre acreditei que tudo acontece na hora certa. A gente pode ver isso até na natureza mesmo. Se quiser chupar uma manga no inverno, fica difícil. Tem que esperar o verão chegar, tem que esperar o fruto ficar maduro. Então, eu acho que as coisas com a Filhos de Jorge sempre aconteceram assim, gradativamente. A gente nunca teve pressa para fazer as coisas. Fizemos sempre com o coração, com amor. Ziriguidum veio em uma hora oportuna, entrou de última hora no CD. Na verdade, foi uma música que meu compositor tinha escutado fora e disse que a gente poderia tirar alguma coisa do ritmo para integrar as nossas canções no futuro. Acabou surgindo a ideia de fazer uma versão da música, ficou do jeito que ficou e deu uma grande força no Carnaval. A música veio forte, junto com outras canções também de outros grandes artistas. E graças a Deus deu tudo certo, o povo assimilou a nossa música da melhor forma possível, todo mundo fez o Ziriguidum, todo mundo cantou, fez o passo com a gente. Então, melhorou bastante, sim. A música deu uma grande ajuda. A banda já vinha em uma fase boa e hoje mais ainda por conta da música.

BN - Ziriguidum é uma versão quase idêntica da música africana Yiri Yiri Boum, mas vocês só divulgaram isso após usuários da internet levantarem a polêmica de que a música poderia ser um plágio. Vocês não esperavam que a música original fosse descoberta?

DM - Não, na verdade, nós sabíamos que era uma versão e divulgamos isso no CD quando colocamos a música. Tinha lá na capa “versão de Gileno e Gilmar Gomes”, no vídeo do You Tube tem lá uma nota de rodapé dizendo que é uma versão. Mas acho que como todo sucesso cria uma polêmica, cada um tem sua opinião, mas a gente sempre teve consciência disso. Nós colocamos a música no CD sabendo e fizemos questão desde o início de divulgar isso.


BN - Chegou-se a levantar a polêmica de que ela não seria uma versão e sim uma paródia da Yiri Yiri Boum e não poderia ter concorrido ao prêmio Castro Alves. O corpo de jurados chegou a avaliar a situação. Como vocês veem a possibilidade de perder o prêmio?

DM - Eu acho que todo prêmio é importante, é um reconhecimento do trabalho. Mas acho que o Ziriguidum já é conhecido pelo povo, que é o mais importante. A questão de ter sido considerada como paródia, para a gente não incomoda muito, porque o objetivo é atingir o público. Se a gente ganhar ou não esse troféu, embora os jurados tenham essa opinião, a gente vai continuar trabalhando. O Ziriguidum não vai deixar de ser sucesso, todo mundo vai continuar fazendo, cantando, e a gente vai continuar trabalhando também.

BN - A canção é antiga e tem um estilo meio de salsa. Como surgiu a ideia de utilizar esta música como base para o Ziriguidum?

DM - A gente ouvindo a música que Gilmar (compositor) mandou e percebemos que tinha uma batida legal, a percussão, o contra-baixo. Passamos a prestar mais atenção aos detalhes da música e vimos que dava pra fazer uma versão. A música é boa, é de domínio público, todo mundo canta. O pessoal aqui no Brasil não conhecia tanto. Ai surgiu a ideia de fazer e ficou desse jeito.

BN - O estilo da música é diferente do estilo do Ziriguidum. Vocês pretendem utilizar esse ritmo em outras canções da banda?

DM - Podemos usar também. Na verdade, o ritmo dos Filhos de Jorge é uma mistura mesmo de salsa, de cumbia, de rumba, tem um pouco de samba. A gente sempre faz questão de colocar esses elementos e acho que a gente pode usar sim. Não apenas o Ziriguidum, mas outras músicas também. Inclusive, a gente tem outras canções. Tem uma nova que já vai começar a trabalhar daqui a um tempo, estamos escolhendo ainda qual vai ser. A Filhos de Jorge não segue um único ritmo, fazemos vários ritmos, sempre com a mesma batida. E o Ziriguidum foi assim. Pegamos uma música cubana, colocamos a pegada e a batida dos Filhos de Jorge.


BN - A Filhos de Jorge pretende desencavar outros sucessos de países latinos ou africanos para transformar em versão? Há alguma em mente?

DM - Se surgir a oportunidade de alguma canção que tenha realmente a cara da banda, que a gente possa colocar também um pouco do ritmo de Filhos de Jorge, tanto na batida e fazer uma versão, não vejo por que não.

BN - Perto do Carnaval, várias contratempos aconteceram com Dan. Primeiro o pé engessado, depois ficou rouco. Você acha que essa “zica” tem a ver com inveja com o sucesso de vocês?

DM - Acho que não. A questão do meu pé machucado foi um tempo atrás, bem antes do Carnaval. E foi por questão de saúde mesmo, porque eu fiquei postergando por mais de um ano por conta da agenda da banda. Então, se tinha alguém com inveja, querendo que eu me prejudicasse, mesmo com o pé machucado, a gente fez ainda mais shows, até do que no ano anterior. Então foi mais uma prescrição médica mesmo. Se eu não fizesse, poderia prejudicar o Carnaval. Com relação à rouquidão, eu enfrentei um determinado problema já nos últimos dias de festa por conta do medicamento que eu estava usando para o pé e isso foi avisado. Mas eu fiz uma nebulização, um exercício e acabou melhorando.

BN - Ziriguidum já era um sucesso mesmo antes do Carnaval. Em entrevista anterior aqui para o Bahia Notícias, vocês até declaram que acreditavam na possibilidade dela se tornar a música da folia. Como você receberam a notícia de que Ziriguidum foi a campeã?

DM - Eu meio que me assustei. Em várias etapas do Carnaval, onde quer que a gente passasse, eu fazia participação, com Ivete, que é madrinha da banda, com Tomate, com Solange Almeida, Saulo Fernandes, Tuca, Claudia Leite. Nós contamos bastante com o apoio dos artistas. O público já falava comigo fazendo o passinho de dança da música. Essa reciprocidade é que faz com que a gente vá sentindo a força da música no Carnaval. A gente estava bastante confiante.

BN - O que vai mudar na rotina da banda a partir de agora? Os ensaios no Mercado Modelo continuam? O que vocês pretendem trazer de inovador para as próximas edições?

DM - Os ensaios do Mercado Modelo continuam. Acabando o verão, a gente vai começar a trabalhar fora, pois já tínhamos começado, mas agora, por conta do Carnaval, da campanha, da música, vamos ficar um pouco mais tempo fora. Vamos cuidar um pouco do sucesso do Ziriguidum, mas já pensando no futuro. Já estamos escolhendo qual vai ser a próxima música. E graças a Deus, Filhos de Jorge não é uma banda de uma música só. Temos que garantir que vamos ganhar outros prêmios. Não vamos ficar só no Ziriguidum.


BN - Já tem algum novo projeto em andamento? Alguma música de autoria de vocês, que o público pode esperar?

DM - A gente está pensando em fazer a gravação do DVD ainda este ano, não temos a data certa. Vai contar com várias participações, confirmada já a própria Ivete Sangalo, a Solange Almeida e Xand, do Aviões do Forró. Estamos vendo outros artistas baianos para participar também, inclusive artistas de fora. Não podemos dizer ainda quem são, mas vai ter gente do sertanejo participando. Vai ser muito legal. Vai ser um DVD recheado de novidades. Vai ter o Ziriguidum também e as próximas músicas de trabalho.

BN - Já sabe onde vai ser a gravação?

DM - A gente pretende fazer aqui em Salvador mesmo. Isso eu tenho certeza. Não temos ao certo ainda o local, mas vai ser aqui e com essas participações aí.

BN - Ano passado, uma das músicas que mais bombava no verão foi Inventando “Moda”, de Magary Lord. A própria música do Carnaval, “Circulou”, foi interpretada por Eva, mas é de autoria de Magary. Depois disso, ele ficou sumido dos eventos musicais e principalmente do cenário nacional. Vocês têm medo de que Ziriguidum tenha sido um sucesso repentino ou o conhecido “15 minutos de fama”?

DM - Eu acho que cada artista tem o seu momento. O sol nasce todos os dias para todo mundo, brilha para todo mundo. Ele é um querido. A música “Circulou” até hoje é um sucesso enorme, qualquer lugar que a gente passe, as pessoas ainda cantam. Eu não sei, na verdade, quais os caminhos que ele e os produtores pensaram ou estão trilhando...

BN - Mas isso te preocupa?

DM - Não. Assim, a gente sempre teve a preocupação de fazer música com carinho. Nunca tivemos a ideia de fazer música para ter sucesso. A gente sempre quis fazer música para agradar o povo. Nós gostamos de fazer música e nossa vida é isso. Eu estudei administração e nunca cheguei a me formar, porque a música estava sempre ali. Me formei em Perfuração de Petróleo, trabalhei muito tempo na área. Mas a música sempre me acompanhou muito. Então o fato de a gente fazer as coisas com amor e querendo que as coisas deem certo. Mostrar para o nosso público, pro Brasil inteiro e quem sabe para o mundo, que é o nosso objetivo. Isso é que sempre nos incentivou a fazer as coisas com amor. Então, a gente nunca tem medo de dar errado. Pode até dar, mas dá com a gente com os pés no chão, sabendo que pode dar certo ou errado. A Terra tem o movimento de rotação e translação. Uma hora a gente está em cima, outra no meio, depois está embaixo. E sempre com essa consciência de respeitar os colegas, respeitando primeiramente o nosso público, que é quem faz com que qualquer trabalho seja melhor. Então, a gente nunca teve esse medo, não.

BN - Você, enquanto músico, teria uma ideia de por que isso aconteceu com Magary Lord?

DM – Na verdade, a questão do que aconteceu, eu não sei. A gente tem pouco contato. Artista tem disso, se encontra mais tocando. Eu me encontrei com ele no Carnaval, ele inclusive cantou nossa música, mandou o microfone pra mim no trio independente. Cantamos juntos, brincamos. Ele falou muito do Ziriguidum. Então, era algo que eu não estava sabendo, que ele não estava tocando muito aqui. Mas acredito que esteja tocando fora, em vários lugares. Ele é mega talentoso, tem um trabalho bom. A música dele é legal, todo mundo gosta. Tem aquela questão do Ziriguidum também, que mescla a coreografia com a letra. É aquela música que atinge todo mundo. E eu acredito que ele esteja bem. Embora não do jeito que vinha fazendo aqui. Eu acho, inclusive, que é o que vai acontecer com a gente no sentido de fazer show fora. Não vamos abandonar Salvador, mas agora está aparecendo muito show fora.