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Marca Bahia Notícias Holofote

Entrevista

Magary Lord comenta sobre a lei 'antibaixaria' e o 'apagão' que sua aparição causou em Jauperi

Por Fernanda Figueiredo/Fotos: Tiago Melo

Magary Lord comenta sobre a lei 'antibaixaria' e o 'apagão' que sua aparição causou em Jauperi

"Magary virou um estilo de vida" 
 
Coluna Holofote: Pra começar, Magary Lord é nome artístico ou de batismo?
Magary Lord: Meu nome mesmo é Francisco Pereira Chagas, eu tenho 36 anos, sou do bairro de Brotas, lá no Acupe de Brotas, tenho 12 irmãos, eu sou o número 11. Nascido e criado em Brotas, eu sempre gostei de música. Desde pequeno, os trios paravam ali no Ogunjá para passar o som e eu ficava ali observando, sempre corujando. E eu sempre ouvi de tudo: James Brown, Michael Jackson, Pichinguinha, Batatinha, AGP.
 
CH: Como surgiu esse apelido?
ML: Começaram nas brincadeiras. Tinha o desenho chamado “Jaspion” e ninguém queria ser o “Magaren”, porque era o vilão. Aí, sobrou pra mim e eu ganhei esse apelido que me segue desde a infância. 
 
CH: E o Lord?
ML: Veio de meu pai. Porque meu pai se retava comigo porque eu fazia barulho na vizinhança e quando chegavam as reclamações, aí ele já ficava na porta me esperando “ô, seu Lord, passe aqui seu Lord”. E aí ficou Magary Lord.
 
CH: Magary, as pessoas estão dizendo que você foi o fenômeno deste verão. Você acha que só deu Magary neste verão?
ML: Eu acredito, sim. E foi verdade. A gente vem de um trabalho longo, de 10 anos trabalhando muito: compondo, escrevendo e tendo muito cuidado com a música, trazendo sempre a verdade em nossas mensagens e agora, este ano, nós tivemos uma maior visibilidade. E aí a gente aproveitou essa oportunidade e transformou nessa sensação que está aí hoje.
 
CH: Há quem diga que quando um artista explode assim, no verão principalmente, ele costuma se desrevelar no decorrer dos anos. Você acha que será mais um artista de verão ou veio para ficar?
ML: Viemos pra ficar. Eu não tenho esse medo porque, na verdade, a gente plantou uma árvore. Então, a árvore quando germina e começa a criar uma raiz é uma coisa mais concreta. E é isso que a gente tem: uma coisa mais concreta. Eu sempre soube, dentro da minha musicalidade, a minha formação musical de percussionista, que depois passou a ser cantor e compositor, eu sempre soube o que eu queria. Então, isso torna as coisas mais fáceis de se consolidarem, de consolidar mais a minha carreira, dentro do que eu faço. As pessoas sempre falam de revelação, mas eu sempre falo que eu sou a revelação da renovação da música.
 
CH: Você acha que o segredo desse sucesso todo está no Black semba, esse ritmo novo que você está trazendo?
ML: Sim. Eu acredito que eu sou a revelação desde que eu descobri esse ritmo, que é o Black semba, que é um ritmo de laboratório, de pesquisa minha mesmo, feita por mim e, assim, eu tive a oportunidade de viajar por alguns países e trazer um pouco da cultura de cada um desses países e misturar com nossas influências baianas. E, na verdade, a revelação mesmo é a minha filha. Eu não fui nada. A revelação geral mesmo foi ela. Ela que foi a revelação, principalmente para mim, que estava do lado dela vendo aquela magia. Foi muito mágico!
 
CH: Sua filha também está na composição de “Inventando Moda”. Como foi essa participação?
ML: Então, ela sempre acompanhava meu trabalho em casa. Ela sempre veio se inspirando em mim, nas minhas músicas, na percussão e ela chegou e colocou “Que estranho!” e aquilo foi fabuloso, aquilo ficou interessante e ela é apaixonada por Michael Jackson também e viu na internet aquela mutação de Michael Jackson, que foi branco, depois ficou amarelo, depois... Entende? Daí vem a questão “que estranho, hein”. Foi ela que inventou isso.
 
CH: Foi planejado essa coisa dela subir participar da sua música de trabalho ou aconteceu de forma natural? 
ML: Não, não foi combinado de jeito nenhum. Foi uma coisa natural. No primeiro vídeo que tem no youtube, você pode perceber que ela acabou de chegar da escola, ainda estava de farda e colocou estranho naquele dia, que eu tinha acabado de fazer a música. Ou seja: estava registrando a música e ela chegou na hora e ela tem o dom da música. Porque ela tem uma naturalidade, é dela mesmo. E eu trouxe ela para os palcos porque começou a agradar e as pessoas cobravam, como cobram até hoje. Eu fui fazer um show agora, na Lavagem de Arembepe, não dava para levar ela porque era um domingo, às 21h, tarde e aí, eu não costumo levar. Eu prefiro levar ela nos shows que começam mais cedo, ainda mais agora que começaram as aulas.
 
CH: Você acha que ela vai seguir carreira?
ML: Com certeza. Ela quer. Porque ela achou pouco, né? Ela me disse: “pô, meu pai, já está na hora de colocar mais uma música”. Só que aí vai ficar mais complicadinho para ela me acompanhar nos shows e tal. E já que ela tem esse talento, essa facilidade de compor e tocar e se expressar, ela vai vir com a banda “Black Semba Kids”. Ela já recebeu alguns convites, também, para gravar um filme, participar de um longa.
 

"É a música que fala que vai pegar a linha, que vai dar um tiro na farinha. Então, é uma coisa mal"
 
CH: Você acredita na contribuição de sua filha para esse sucesso que você está vivendo?
ML: Com certeza, eu não tenho dúvida. Atribuiu mais, principalmente para o público infantil, a presença dela agregou mais. E não só as crianças, mas os adultos também, que ficaram surpresos com a espontaneidade dela, porque ela é muito espontânea, muito natural e não tem vergonha, né? A Regina Casé ficou apaixonada por ela.
 
CH: Pois é. E essa participação no programa “Esquenta”, como surgiu o convite?
ML: Jorge Tadeu, que é meu assessor de imprensa, muito descolado, ele estava na internet, aí ele colocou que Caetano [Veloso] tinha ido visitar meu show. Ele estava de férias, no verão, e todo verão ele vem pra cá e quando chegou, ele apareceu lá, no Padaria Bar. Aí Caetano ficou surpreso e disse que era a melhor coisa que já tinha acontecido e aí falou para Regina [Casé] me seguir no Twitter. E Jorge, que fica nessas coisas para mim, me disse: “olha só, a Regina também está te seguindo”. E eu disse para ele: “escreve para ela que eu adoro o programa dela no ‘Esquenta’ e sou fã desde os tempos da TV Pirata. Aí ele mandou para ela, ela deu um saque no nosso vídeo, aí viu Kalinde, aí ela pirou. Ela entrou em contato com Caetano, Caetano trouxe ela no show, ela ficou louca, ela conheceu Kalinde e, em seguida, convidou a gente pro “Esquenta”.
 
CH: Foram duas gravações no “Esquenta”...
ML: Foram. Mas a primeira não funcionou porque passou na semana do carnaval, aí ela convidou a gente de novo. O Rio viu, mas Salvador não viu, por conta da programação de carnaval. E da primeira vez, o convidado foi Magary; da segunda vez foi Kalinde. Magary levou Kalinde e Kalinde levou Magary.
 
CH: Tem muita gente aí com anos de estrada e talento, porém, o sucesso não vem. Qual a fórmula, você que está experimentando isso agora?
ML: A melhor fórmula é a atitude de você acreditar no que você está fazendo e o que fez Magary, na verdade, foi Magary tocar só as músicas dele. Às vezes as pessoas falam que eu tenho que colocar a música de fulano, de cicrano, mas eu digo “Não. Vou colocar outra música minha”. Então, o que fez Magary, na verdade, foi essa personalidade, essa identidade dele.
 
CH: Em relação a lei “antibaixaria”. Em seu show, no Parque da Cidade, você disse que sua música “não tinha baixaria, não tinha bundinha”, essas coisas. O que você entende por baixaria?
ML: Veja bem. Hoje, a gente tem uma liberdade de expressão muito maior que antes. E nós temos crianças em casa. E as crianças sempre foram o futuro do Brasil. Então, eu enxerguei isso muito cedo, essa carência na música. Então, por isso que eu comecei a me separar e pensar em uma forma, sabe? O que é que eu quero? Eu quero compor, quero escrever e minhas músicas falam do meu cotidiano, falam que “minha tia fez uma comida na pegada de Dodó”. Aí eu vou criando minha linguagem, entende? Porque, infelizmente, é o que eu estava falando: não dá – a gente que tem filhos sabe – é uma dificuldade a gente educar nossos filhos. Então, a gente luta e reluta para dar uma educação melhor, quando na televisão estão passando cenas que não são para estar passando em um determinado horário. E aí, como é que vai regular isso? É a música que fala que vai pegar a linha, que vai dar um tiro na farinha. Então, é uma coisa mal. Eu quero tocar uma música que minha avó possa dançar; que minha mãe possa estar cozinhando e ouvindo. Então, essa música de hoje, de baixo calão, prejudica no crescimento e evolução das crianças. Eu me preocupo principalmente com isso. E a música, ela transforma, então, já que ela transforma, vamos aproveitar esse veículo e realmente tentar colaborar com isso.
 
CH: Você acredita que sua notoriedade veio com o sucesso do hit “Circulou”, que é de sua autoria, mas ganhou vida na banda Eva?
ML: Eu já havia composto a música “Circulou” há um tempo atrás e a música já tinha criado uma força com a gente. E aí Saulo me perguntou: “Porra, Lord que música é essa? Muita energia!”. Nós sempre nos reuníamos pra compor: eu, Leonardo, Fabinho e Saulo. Como no dia ele não foi e gostou muito da música, eu falei “Não tem problema, você vai gravar!”. Aí eu tirei do meu disco e deixei ele gravar. Eu sabia que seria um sucesso na voz dele. A nossa relação de amizade é uma relação bacana, nós somos amigos mesmo, parceiros e a gente sempre está junto e se encontro pra falar de coisas, de assuntos musicais. Além de Circulou, a gente também tem uma música, chamada “Planta na Cabeça”. Uma música que já está no novo CD dele.
 
CH: Planta na Cabeça?! Não poderiam interpretar como uma apologia à maconha?
ML: [Hesitação] Poderia também...
 
CH: E se sua música fosse vetada de ser tocada em um show financiado com verba pública? Porque a lei “antibaixaria” também prevê casos de homofobia e de apologia às drogas. Como reagiria Magary Lord?
ML: A música poderia até ser barrada, mas quando você ouve a letra não tem nada a ver com que o título pode dar a entender. Planta, na verdade, é do verbo plantar. Plantar uma ideia na cabeça. “Olha que planta, que dança na cabeça”. É diferente, não tem muito a ver não. Talvez leve pra isso também....
 
CH: Como foi ser convidado para cantar na festa de aniversário de Salvador? A festa já contou com a presença de Ivete, Cláudia Leitte e, agora, você.
ML: A gente ficou feliz. Na verdade, esse show é uma retribuição para todo mundo que nos apoiou, que curte a gente, que deu carinho pra gente no Carnaval. Se a gente for ver, é muita gente. Quem não conhecia ouviu falar de “Magary, Magary Magary”, escutou a música, e é um CD bacana, que você coloca a primeira música e ouve até a última – isso todo mundo me diz. Neste show a gente vai trazer como convidados Toni Garrido, Roberto Mendes, Márcia Short, Lazzo Matumbi, Peu Meurray e os Pneumáticos e vai ter Kalinde Maiara.
 
CH: E você está preparando alguma surpresa especial para Salvador no dia da festa?
ML: Tem uma música inédita, minha e de Fabinho Alcântara, chamada “Capitães da Areia” e que nós preparamos especialmente para a data, um presente para a cidade. E como em toda festa também vai ter uma surpresa, que é a presença de Saulo. Ele pediu pra não divulgar, pois ele só volta no dia 8 de férias do Carnaval. Mas como eu estava com ele essa semana, ele me perguntou como seria esse show e disse que estava afim de ir, mesmo ainda estando de férias e querendo fugir dos repórteres. Então, no final, este vai ser o meu presente.
 
CH: Seus convidados são mais das antigas...
ML: Até que não. Eu admiro Lazzo, um super cantor, de uma voz negra maravilhosa e está num momento não tão legal e eu quero trazer também para essa cena. Márcia Short também. O próprio Roberto Mendes, que considero um matemático da chula. Ele é incrível. No entanto, as pessoas sabem o que é o pagode, mas não conhecem a chula. Não sabe nem o significado da palavra, não entendem as coisas do Recôncavo. Eu estou trazendo ele também por isso, o Black Semba tem um pouco da black music e um pouco dos ritmos do Recôncavo.
 
CH: Não vai ter nada de pagode?
ML: Márcio Victor disse que ia, mas acabou não confirmando. Eu quero deixar claro que não tenho nenhuma restrição ao pagode. Eu acho que a melhor batida de Salvador hoje é o pagode. A batida é muito massa.
 
CH: E qual a expectativa de público?
ML: A gente está imaginando uma superlotação lá no Farol. É aniversário da cidade, com participação especial na abertura do Cortejo Afro. Vai encerrar comigo e o Ilê Aiyê. O pessoal deve começar a chegar por voltas das 18H, o show está previsto para às 19h30.
 
CH: Lá vem o período junino. Já passou o verão, você foi sensação. Qual o seu projeto para poder permanecer em cena?
ML: Então, a gente vai continuar com o projeto Black Semba, que irá virar “Anarriê do Semba”. O nome foi inspirado numa música nova, que é um xote. Eu estou gravando a música ainda e pretendo convidar para o projeto muitos cantores de forró daqui, Adelmário Coelho, Del Feliz, Léo do Estakazero, tem muita gente bacana. No São João eu cantarei alguns xotes, algumas músicas do repertório de Luiz Gonzaga.
 
CH: Tem alguma festa de forró já fechada?
ML: Não temos nenhum convite formalizado ainda, mas estamos pensando em levar o “Anarriê do Black Semba para o Pelourinho”.
 
CH: Estão dizendo que você ofuscou o brilho do cantor Jauperi...
ML: Olha só, eu tenho mais cabelo que ele, meu nariz é mais amassado, a minha pele é mais escura. Mas Jau é maravilhoso, eu admiro muito. Um grande compositor, um grande artista. Tem uma história linda, desde a época do Olodum, passando pela banda Ifá e até onde ele chegou. Ele merece tudo que está acontecendo com ele e a música dele é um pouco diferente.
 
CH: Mas você vê como estilos totalmente diferentes?
ML: Acho que são as mesmas mensagens, mas com linguagens diferentes. Eu trato minha música com mais alegria, diversão. A música do cotidiano é inventar moda. Magary virou um estilo de vida [risos].