Usamos cookies para personalizar e melhorar sua experiência em nosso site e aprimorar a oferta de anúncios para você. Visite nossa Política de Cookies para saber mais. Ao clicar em "aceitar" você concorda com o uso que fazemos dos cookies

Marca Bahia Notícias Holofote
Você está em:
/

Coluna

Aplicando a engenharia reversa, algo a se pensar

Por Luis Ganem

Aplicando a engenharia reversa, algo a se pensar
Foto: Reprodução / Eduardo Auto Peças

 É extremamente chato esse ócio criativo que vive a música da Bahia depois do Carnaval. Ficamos ou entramos, sempre literalmente, em um período de calmaria. Engraçado é que mesmo com a efervescência que o carnaval provoca, o novo acaba não acontecendo e somente raras exceções viram expressão de algo que dá para ser aproveitado.

Mas esse marasmo musical – no mercado comercial do axé, que fique claro –, essa falta da continuidade do novo, por que isso não muda? Por que existe essa falta de senso crítico ou de avaliação do nosso meio musical “corporativista” e como se faz para mudar isso? Pergunto eu, pela enésima vez.
 
Fui mais uma vez ouvir os que têm mais experiência que eu, ou ao menos já passaram poucas e boas nessa vida artística como eu passei, para tentar achar algo que pudesse ascender como um começo para mudar essa mediocridade que vivemos sempre pós-carnaval, e achei de novo algo que fez sentido, de forma acanhada, mas fez.
 
E olha, para chegar a esse entendimento, falamos – nas conversas obtidas  sobre tudo, até que, comentando sobre um filme de alienígenas e de uma série sobre alienígenas que passa em um canal fechado, chegamos à tal história da engenharia reversa.
 
Não, senhoras e senhores. Não estou maluco nem tão pouco falando idiotice. Escrevi realmente engenharia reversa. Lógico, na acepção da palavra, o termo engenharia reversa quer dizer mais ou menos algo a se desmontar, desconstruir, analisar, e pra isso, se desmonta peça por peça do objeto montado até ter o mesmo todo desmontado – dai o fator reverso ou de trás para frente , fazendo um estudo aprofundado para poder se conhecer aquela novidade. Pois, tendo dito isso percebi que podemos aplicar essa forma de estudo à música sertaneja
 
Pois tudo ficou bem claro para mim, em uma rápida pesquisa que fiz, que boa parte da estrutura das músicas que são tocadas hoje no estilo sertanejo tem em suas células musicais traços do estilo axé. Podem até achar que é um grande preciosismo da minha parte ter essa visão, e dizer e demonstrar que ritmos podem e devem ser copiados, mas por sua peculiaridade e por ter “vida própria”, já que possui uma festa anual para difundir suas obras musicais, a música da Bahia e mais precisamente o seu axé, quando estudados a fundo, demonstram que seus ritmos e traços melódicos seguem uma cadencia harmônica totalmente diferente do que se vê por aí (existe uma tese que defende que o axé é a mescla de todos os ritmos regionais baianos, suas frases harmônicas, tudo aliado à singularidade diferenciada dos instrumentos de percussão de origem africana), tornando sua sonoridade quase única e reconhecível em qualquer lugar do planeta.
 
E aí? – pode perguntar o filho do cascudo que não entendeu o texto: e a engenharia reversa, onde se encaixa nisso tudo? Para essa indagação faço uma pergunta: como a rapaziada do novo sertanejo chegou a esse formato que tocam e cantam hoje? Simples: bebendo e aprendendo na fonte, que, no caso deles, foi o Carnaval de Salvador e a nossa forma de tocar. E olha, esse click eu tive ouvindo um desses "pela-saco" da música sertaneja, que me chamou a atenção mais pela estrutura harmônica executada do que pela música em si.

Olha, deixamos de cantar o amor, deixamos de cantar sobre Mila e suas noites de amor, deixamos de cantar sobre ser a "flor do reggae", deixamos de cantar sobre o sentimento mais bonito que existe e que sempre foi referência! Sim, deixamos de cantar o amor, sobre beijar na boca, sobre paquerar, sobre cantar a menina, e tudo isso foi captado, absorvido, assimilado pelo sertanejo que, logo no começo da “invasão” alienígena, chegou aqui como quem não queria nada e levou tudo que precisava de conhecimento e aprendizado. E nós? Nós ficamos, a partir da perda da percepção, do oportunismo dos malandros, e até da nossa falta de capacidade de entender o que estava acontecendo, batendo cabeça como um monte de carrinho bate-bate (que por mais que você dirija sempre batem uns nos outros) e mais perdidos que cego em tiroteio.
 
Então, da mesma forma que se faz a engenharia reversa quando alguma nova tecnologia chega desconhecida é estudada a fundo para ser entendida, que peguemos a música que ajudamos a desenvolver e nos engolir – existem céticos que não pensam assim, e eu respeito que fique claro – e a dissequemos ao ponto de entender o que cantar.
 
Talvez, se formos práticos e profissionais, da mesma forma que fomos ao nos dizimar, consigamos nos salvar, a fazer voltar a música que encantava e alimentava um mercado comercial, mas dessa vez com o novo, e sem a intervenção maléfica e proposital dos parasitas da música.
 
A saber: odeio parasitas.