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Luis Ganem: Um filme sobre o Axé !

Por Luis Ganem

Luis Ganem: Um filme sobre o Axé !

Alguns resgates são muito importantes na nossa vida. De forma pública ou privada, mesmo aqueles que tenham tido um gosto amargo, são e sempre serão importantes, pois independente do gosto, servirão em algum momento para lembrar algo que fez diferença, a ponto de nos fazer parar para pensar.

E foi justamente a possibilidade de relembrar que me foi ofertada de forma inusitada e confesso, fiquei muito feliz. O fato que relato, aconteceu há alguns dias atrás, quando fui chamado para assistir a um material bruto do filme que está sendo feito a respeito do axé music e sua história. Há um bom tempo e disso eu sei, a produção desse filme vem sendo feita. Sua demora soube no decorrer da audição, tem sido pelo esmero em tentar ser o mais fiel possível a história, lógico com as suas devidas proporções, mas tentando realmente demonstrar, como se deu essa convergência de energias, que formaram um dos mais importantes movimentos musicais do País dos últimos trinta anos, o Axé.

Pois estava eu na Rádio Metrópole finalizando com a produção de jornalismo o conteúdo que iria ser usado na transmissão que iria ser feita do São João do Pelourinho, quando de uma forma singela, apenas com um: “Ganem, chegue aqui por favor”! Fui chamado a sala de Chico Kertész (diretor do filme, e do grupo Metrópole) para dar uma olhada em algo no monitor do computador. Eu que já tinha percebido que Chico – como é conhecido por todos - estava fazendo uma revisão do filme( o filme sobre o axé), fui logo, antes que ele mudasse de ideia, ou aparecesse qualquer outro movimento que me impedisse de ver a obra, mesmo em fase de acabamento.

E olha, posso dizer sem medo de errar: Impressionante. Histórias, se passaram na minha mente no período que fiquei na frente do monitor. Sorri, me emocionei, me arrepiei, só faltou aplaudir – o que não fiz pelo mico que seria -  pois vi passar todo um ritmo que mudou toda uma história da música a Bahia, a imagem do Carnaval de Salvador, e nossa música mundo a fora.

Lembro que antes do surgimento do axé, em meados dos anos oitenta, tínhamos uma festa quase que regional. A nova música baiana – até aquele momento sem nome ou rótulo - não tinha espaço nem na mídia nacional, nem nas rádios locais. Apenas no período do carnaval era que se dava uma “chance” de se tocar a música local - inclusive o filme conta isso com muito mais detalhes.

E são os detalhes no filme que farão todos repensarem. Alguns esclarecedores, outros não, mas principalmente quase todos questionadores do que foi feito ou não nesses trinta anos de criação do movimento.

Engraçado, é que a cada depoimento - e no filme passa muita gente bacana falando - vinham a cabeça historias paralelas. Nada aconteceu, -percebi isso com o filme- de forma reta e direta, sem que histórias paralelas não tivessem acontecido. Fatos por exemplo, de como se deu o surgimento do nome axé music, ou ainda a profunda colaboração de Wesley Rangel para a música da Bahia, com um depoimento que deixou bem claro, suas mágoas e seus ressentimentos a muitos a quem ajudou, são recheadas de histórias outras, que se o diretor do filme resolver contar, terá que ser uma trilogia do axé, com seus diversos capítulos.

Vi, com o passar do filme, como deve ter sido difícil para o diretor Chico Kertész, editar as infinitas horas de material que tinha a disposição sem cair na armadilha de fazer um filme ou cheio de maravilhas, ou somente com depoimentos rancorosos e ressentidos. O filme se passa, justamente nessa linha imaginária entre a precaução e o excesso.

Quando entrar em cartaz, tenho quase certeza que a maioria dos espectadores, vai ficar, da mesma forma que fiquei, com um gosto de quero mais. Antes de ser uma obra de entretenimento, o filme sobre a história do axé, é um instrumento de questionamento, sobre os acertos e os erros cometidos em todos esses anos, pelos protagonistas da festa – empresários ou artistas – e por um mercado que começou amador e foi obrigado a aprender na marra a produzir mas ao que parece, nada aprendeu.

Muita gente boa ou não - a depender do ponto de vista - passou pelo filme. Se fosse listar aqui um por um e um pouco da história de cada personagem, teria que fazer uma coluna somente pra isso. Só espero que agora com o filme, nossos protagonistas se convençam de vez que algo precisa ser feito e percebam de uma vez por todas, a onde estamos errando, pois mesmo hoje com os erros “desenhados” no papel ninguem se "tocou".  Quem sabe se mostrados em uma grande tela, os mesmos não caem na real, e mudam a forma de agir e de pensar.

Assim espero!