Yuri Mar&ccedil;al, 27, acostumou-se a ser cancelado. Dono de um canal de humor que n&atilde;o deixa de botar o dedo na ferida ao tratar de temas sens&iacute;veis como racismo, machismo e homofobia, ele diz que o limite para a piada &eacute; subjetivo, mas diz acreditar que, enquanto a plateia est&aacute; rindo, &eacute; porque houve ponto de equil&iacute;brio. 
 
&Eacute; dentro dessa perspectiva que ela espera que seja recebido &quot;5X Com&eacute;dia&quot;, que estreia na Amazon Prime Video nesta sexta-feira (16). Com cinco epis&oacute;dios independentes, a s&eacute;rie mostra diferentes formas de lidar com o isolamento social gerado pela pandemia de coronav&iacute;rus. 
 
Em &quot;Cinderela&quot;, epis&oacute;dio que ele protagoniza, Robinson &eacute; um rapaz gay que est&aacute; dividindo toda a min&uacute;scula casa com uma fam&iacute;lia enorme na favela do Vidigal, no Rio de Janeiro. Ele &eacute; chamado para resolver um problema tecnol&oacute;gico na empresa em que trabalha, descobre que o espa&ccedil;o (altamente instagram&aacute;vel) est&aacute; vazio, e ent&atilde;o resolve se mudar para l&aacute;. 
 
&quot;O meu epis&oacute;dio d&aacute; uma porradinha na quest&atilde;o perif&eacute;rica e at&eacute; na racial&quot;, avalia Mar&ccedil;al, em entrevista &agrave; reportagem. &quot;&Eacute; uma casa de 30 ou 40 metros quadrados que tem umas oito pessoas. Acaba sendo uma cr&iacute;tica, sim. Tem milh&otilde;es e milh&otilde;es de casas na favela com dezenas de pessoas neste momento. &Eacute; uma realidade que boa parte da popula&ccedil;&atilde;o, para mim, n&atilde;o est&aacute; ligada ou est&aacute; ligada de uma forma muito superficial.&quot; 
 
Apesar de ser baseada na estrutura da pe&ccedil;a hom&ocirc;nima de Sylvia Gardenberg, as hist&oacute;rias da s&eacute;rie foram escritas para retratarem este momento de isolamento social. Yuri Mar&ccedil;al diz que foi convidado pela diretora Monique Gardenberg, irm&atilde; de Sylvia e criadora da adapta&ccedil;&atilde;o, e aceitou porque seria uma grava&ccedil;&atilde;o remota. 
 
&quot;Passei a pandemia bem trancado em casa com a minha namorada [Jeniffer Dias], a gente estava gravando um curta&quot;, lembra. &quot;Eu fiquei meio receoso pensando em como seria fazer esse trabalho na pandemia, mas ela falou que todo mundo iria gravar de casa, que &iacute;amos contar essas hist&oacute;rias de acordo com a realidade que estamos vivendo e achei muito legal.&quot; 
 
Famoso pela com&eacute;dia stand-up, Mar&ccedil;al diz que passou cerca de oito meses sem pisar num palco. Por outro lado, teve um crescimento exponencial nas redes sociais. &quot;Eu produzi muito conte&uacute;do durante a pandemia e teve esse lado positivo, mas eu preferia que isso ocorresse de outra forma, estar no teatro e com todo mundo sem as preocupa&ccedil;&otilde;es que a gente tem neste momento.&quot; 
 
Ele confessa, no entanto, que as grava&ccedil;&otilde;es &agrave; dist&acirc;ncia foram bem mais dif&iacute;ceis do que imaginou. &quot;Sendo bem honesto com voc&ecirc;, foi muito complicado, cara&quot;, afirma. &quot;N&atilde;o digo isso para valorizar, mas o bastidor foi bem tenso mesmo. Tivemos que nos gravar sozinho, mandaram tudo higienizado e os atores tiveram que fazer um pouco do trabalho de todo mundo.&quot; 
 
&quot;Eu entendo mais ou menos o funcionamento de um bastidor, mas ali era de fato posicionar a c&acirc;mera, acertar o plano, gravar, trocar de loca&ccedil;&atilde;o, mudar a lente da c&acirc;mera e por a&iacute; vai&quot;, enumera. Os diretores acompanhavam tudo por videoconfer&ecirc;ncia. 
 
A maior preocupa&ccedil;&atilde;o dele foi com a maquiagem, principalmente na cena em que Robinson resolve se montar de drag queen. Para isso, ele teve ajuda da namorada, que acabou tamb&eacute;m virando sua ajudante oficial. &quot;Ela ralou, acabou trabalhando bastante nessa situa&ccedil;&atilde;o toda, coitada&quot;, diz, aos risos. 
 
&quot;A gente estava preocupado, cansado e tentando fazer a parada acontecer&quot;, resume. &quot;Isso me deu uma nova musculatura como artista. O epis&oacute;dio ficou bem bonito, &eacute; muito legal ver o resultado depois de saber que foi suado, literalmente.&quot; 
 
Sobre o personagem, ele conta que se identificou com algumas facetas de Robinson, que sonha em virar influenciador. &quot;Ele quer viralizar, quer o reconhecimento do trabalho e isso a gente passa a vida inteira&quot;, compara. &quot;Voc&ecirc; quer convencer o pr&oacute;ximo de que voc&ecirc; merece.&quot; 
 
Por outro lado, o personagem &eacute; gay, enquanto Yuri Mar&ccedil;al n&atilde;o. &quot;Eu troco ideia para caramba com v&aacute;rios caras pretos que tamb&eacute;m s&atilde;o homossexuais&quot;, conta. &quot;Tentei jogar isso da melhor forma poss&iacute;vel no personagem para sair de uma forma muito honesta.&quot; 
 
&quot;Eu n&atilde;o queria que as pessoas tivessem a sensa&ccedil;&atilde;o de que &eacute; um h&eacute;tero fazendo um gay cheio de estere&oacute;tipos, de que sou eu fazendo uma bichinha&quot;, afirma. &quot;Ele dan&ccedil;a, ele gosta de se montar de drag, ele gosta de colocar uma roupa e de se maquiar. E est&aacute; tudo certo. Estou torcendo para o p&uacute;blico falar &#39;tenho v&aacute;rios amigos assim&#39;, &#39;isso a&iacute; me lembra algu&eacute;m&#39; ou mesmo &#39;ele parece comigo&#39;.&quot;

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