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Febre amarela: cientistas detectam pela 1ª vez vírus em urina e sêmen de paciente

Por Fábio de Castro | Estação Conteúdo

Febre amarela: cientistas detectam pela 1ª vez vírus em urina e sêmen de paciente
Foto: Divulgação

Um grupo de cientistas brasileiros conseguiu detectar o RNA do vírus da febre amarela - isto é, seu material genético - na urina e no sêmen de um paciente com a doença. De acordo com os autores da nova pesquisa, a descoberta poderá ser útil para aprimorar os testes diagnósticos da doença. O RNA do vírus é normalmente detectado no sangue de pacientes infectados, mas até agora não havia sido observado no sêmen e na urina. A nova pesquisa teve seus resultados publicados na "Infectious Diseases", revista científica dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) do governo dos Estados Unidos. "Nossos resultados sugerem que o sêmen pode ser um material clínico útil para o diagnóstico da febre amarela e indica a necessidade de realizar testes de urina e coletar amostras de sêmen de pacientes com a doença em estágio avançado", diz o artigo. Esses testes poderão aprimorar os diagnósticos, reduzir os resultados falsos negativos e reforçar a confiabilidade dos dados epidemiológicos durante a atual e as futuras epidemias", escreveram os cientistas.


De acordo com o coordenador do estudo, Paolo Zanotto, pesquisador do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de São Paulo (USP), embora a descoberta também levante alguma preocupação - por mostrar que o vírus permanece no organismo por mais tempo do que se pensava - o seu impacto é predominantemente positivo. "É uma boa notícia, porque com a presença do RNA do vírus na urina podemos ter acesso a uma nova ferramenta diagnóstica. Outro aspecto positivo é que aumentamos nosso conhecimento sobre a biologia do vírus. O vírus da febre amarela jáé estudado há quase 100 anos e ainda não se sabia que ele podia ser detectado na urina e no sêmen", disse Zanotto.

Os cientistas ainda não sabem quais as implicações da descoberta para a transmissão do vírus, mas Zanotto considera improvável que a presença do RNA no sêmen permita a transmissão sexual da febre amarela. "Se houvesse um mecanismo de transmissão sexual, já teríamos percebido, porque esse vírus é muito ativo na África e nunca surgiu nenhuma evidência. A transmissão sexual é muito fácil de constatar, porque quando ela acontecem aparecem muitos pares concordantes - isto é, casais que aparecem com a doença ao mesmo tempo. Nos ciclos urbanos do vírus na África não apareceram pares concordantes", explicou o cientista. Segundo Zanotto, para que febre amarela seja transmitida a humanos, é preciso que o mosquito inocule o vírus na corrente sanguínea e que ele chegue ao sistema endotelial da pessoa. "Constatamos que o vírus é excretado pela urina, mas não há evidências de que ele possa chegar ao sistema endotelial por via sexual - o mosquito é capaz de fazer isso com muito mais facilidade", afirmou Zanotto. Embora o RNA do vírus tenha sido encontrado também no sêmen, o cientista diz que ainda não é possível saber se o vírus é realmente excretado pelo sêmen, ou se a detecção ocorreu porque a uretra do paciente estava contaminada com o vírus excretado na urina.