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Grávida pede ao STF para fazer aborto por não ter condições de criar outro filho

Por Lígia Formenti | Estadão Conteúdo

Grávida pede ao STF para fazer aborto por não ter condições de criar outro filho
Foto: Tomaz Silva / Agência Brasil

O PSOL e o Instituto de Bioética (Anis) apresentaram na quarta-feira (22), no Supremo Tribunal Federal (STF), um pedido para que a estudante Rebeca Mendes da Silva Leite, de 30 anos, interrompa a gravidez. Grávida de 6 semanas, a estudante sustenta não ter condições econômicas e emocionais de levar a gestação adiante: é responsável pela criação de dois filhos e vive com recursos de um trabalho temporário que vai somente até fevereiro. Não há nenhuma decisão no STF autorizando casos como esse. Todas as decisões sobre aborto dizem respeito a gestações que trazem risco de vida para a mulher ou envolvendo feto com má-formação. O STF já decidiu que o aborto é permitido em casos de fetos com anencefalia e houve decisão da 1ª Turma da Corte, no ano passado, no sentido de que o aborto até os três meses da gestação não pode ser considerado crime. A decisão motivou reação imediata no Congresso, capitaneada pela bancada religiosa, em favor de legislação que reitere - tornando mais claro - o veto à prática no país (mais informações nesta página). Em entrevista, Rebeca afirma que não teria dificuldade em recorrer a um procedimento clandestino. Isso, porém, nunca foi cogitado. "Não quero ser mais uma mulher que morre em casa depois de hemorragia ou em uma clínica clandestina e depois é jogada na rua. Ou, ainda, ser presa", justifica. "Quero viver com meus filhos, com saúde e segurança", completa a estudante. Aluna do 5º semestre de Direito com bolsa do Programa Universidade para Todos (ProUni), Rebeca afirma que uma gravidez agora colocaria em risco não só seus planos, mas o sustento de toda família. "Terminando o trabalho temporário, quem contrataria uma mulher grávida? A faculdade, que é um passaporte para uma vida melhor, já é difícil de ser feita. Uma gravidez significaria colocar esse projeto de lado." O pedido apresentado nesta quarta é uma reiteração de liminar em uma Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) proposta em março pelo PSOL e pelo Anis. "Temos fatos novos agora. O caso específico de Rebeca, além da estimativa de que, desde março, pelo menos 330 mil mulheres se submeteram a abortos clandestinos", afirma a advogada Sinara Gumieri, da equipe que preparou a ação no Supremo. Os autores da ADPF sustentam que a criminalização, prevista pelo Código Penal, desrespeita direitos fundamentais descritos na Constituição, como o direito à dignidade, à autonomia e à cidadania. "A dignidade está relacionada com a autonomia de a mulher tomar suas decisões, com a liberdade", diz a advogada Gabriela Rondon. A presidente do Movimento Brasil sem Aborto, Lenise Garcia, avalia que há no Congresso número suficiente de parlamentares para barrar a tentativa de liberação. "A PEC só vai impedir o avanço das possibilidades de interrupção da gravidez. O texto não mexe nas formas em que o aborto jáé permitido." Quem interrompe a gravidez é vítima da falta amparo, segundo ela. "Se tivessem apoio, certamente não fariam", diz. "E o aborto para mulher não é uma solução, é mais um problema." Para a pesquisadora do Anis, Débora Diniz, já tem havido um "movimento de retrocesso" no Legislativo desde antes da decisão do Supremo de 2016. A PEC, diz ela, tem como objetivo inibir novas decisões do STF.