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Copa Estado dá prejuízo e FBF diz que clubes devem procurar formas de atrair público

Por Matheus Caldas

Copa Estado dá prejuízo e FBF diz que clubes devem procurar formas de atrair público
Foto: Divulgação / Atlético de Alagoinhas
A Copa Governador do Estado vive um momento decisivo neste domingo (23). Às 17h30, quatro jogos definem os semifinalistas da competição estadual. A esperança é que, pelo caráter de definição, o público compareça aos duelos. Em duas rodadas disputadas, cinco das oito partidas realizadas até aqui deram prejuízo aos participantes da competição.

A Federação Bahiana de Futebol (FBF) disponibiliza em seu site os borderôs de cada partida, que são os balanços financeiros de cada jogo disputado pela Copa Governador. Basicamente, os clubes têm somente a receita da bilheteria que, até aqui, vem dando prejuízo. Nenhum jogo teve mais que mil pagantes – o maior público foi entre Fluminense de Feira e Teixeira de Freitas, vencido por 1 a 0 pelos feirenses. Um total de 986 pessoas pagaram para assistir ao duelo. Os outros dois duelos que deram lucro foram Jacuipense 1x1 Atlântico e Jacobina 1x1 Jacuipense. Confira na tabela abaixo:
 

Relação de jogos da competiçao até aqui | Clique na imagem para ampliar
 
Como despesas, uma série de taxas, principalmente com a arbitragem. Os clubes precisam dar descontos de INSS ao quadro móvel da FBF e ao trio de arbitragem do jogo. Ainda há despesas com lanches aos policias militares. A entidade máxima do futebol baiano restitui em 5% da renda bruta aos clubes mandantes.
 
Para o presidente do Vitória da Conquista, o problema maior é a falta de visibilidade que a Copa Governador tem na Bahia. “É a falta de apelo da competição. Você faz um campeonato que tem pouquíssima divulgação. A própria imprensa divulga muito pouco. Dos 30 minutos das TVs da capital, 29 falam de Bahia e Vitória. Nem falam da Série C. Aqui fazemos uma divulgação, mas mesmo assim é difícil. Há pouco apelo. Mesmo no Baiano há isso. Só quando jogamos com Bahia e Vitória, ou em fases decisivas. Tivemos um o prejuízo de quase R$ 2,5 mil, juntando o borderô da FBF com nosso. Nos dois jogos, tive prejuízo de mais de R$ 7 mil. Se eu for eliminado, ficarei com esse passivo”, lamentou, em entrevista ao Bahia Notícias.

O presidente do Atlântico, recém-promovido à primeira divisão baiana, Zé Carlos, manteve o discurso de que a competição é deficitária. “A segunda divisão, por exemplo, é zero de lucro. Ao contrário, é despesa. Mas, pra mim, é um investimento, porque queríamos subir para a primeira divisão e, graça as Deus, conseguimos. A Copa Governador é um investimento pra nós, pois dá vaga numa competição nacional. A gente observa que, na realidade, o futebol baiano é super deficitário”, reclamou. No Barradão, o Tubarão venceu o Atlético de Alagoinhas, mas teve um prejuízo de R$ 1.584,70.

A FBF pagou as despesas de arbitragens para os times da Série B do Campeonato Baiano. Na edição de 2015 da Copa Estado, por sua vez, também houve esse desconto. Neste ano, no entanto, não houve. De acordo com os dirigentes dos clubes, o motivo alegado foi a vaga na Copa do Brasil que o campeão da competição estadual premia. Só por participar da Copa do Brasil, qualquer time já recebe cerca de R$ 500 mil.

O presidente do Conquista discorda dessa decisão da federação estadual. “Eu, particularmente, discordo disso, pois são seis equipes. Ninguém sabe quem vai levar o título. Muitas equipes ficarão pelo caminho. Eles sempre deram na segunda divisão e, por incrível que pareça, na Copa Estado não há isso. A FBF deveria pelo menos isentar a arbitragem, e isso eu disse a ele [Ednaldo Rodrigues]. É importante dizer que sempre houve ajuda, mas dessa vez não. Não entendi o motivo. Não é uma crítica, mas uma constatação, porque esse ano não houve essa ajuda com a arbitragem. Espero também que o vale show reapareça”, pontou Ederlane.
 

Ederlane Amorim, do Conquista | Foto: Glauber Gerra / Bahia Notícias

Zé Carlos, por sua vez, atribuiu o fracasso da Copa Governador à negligência da imprensa estadual. Além disso, ele colocou a dupla Ba-Vi como agentes que enfraquecem os times menores do estado. “A diferença é que os clubes pequenos são mais enxutos. Mas é deficitário. Nós não temos patrocínios e bilheterias. São clubes que, teoricamente, não são atrativos, o que acho um absurdo. Nós já deveríamos ter algo, pois estamos na Série A. Aqui tudo é voltado somente para Bahia e Vitória, Bahia e Vitória e Bahia e Vitória. Isso já deveria ter mudado. Isso atrapalha o futebol baiano e a própria dupla Ba-Vi. Eles jogam tudo lá pro sul, contratam atletas de lá e vendem pra lá. O Bahia esquece que, em 1988, muitos jogadores vieram da Catuense. O conceito deveria ser mudado. O grande só existe por conta do pequeno. Até a própria imprensa só tem coisa de Bahia e Vitória. Como alguém irá querer patrocinar assim?”, bradou.

Outros clubes que tiveram prejuízo no campeonato não tiveram um tom tão crítico, mas lamentaram o fato. É o caso do Teixeira de Freitas. O presidente do clube, Gerson Portela, disse que o fato de não ter conseguido o acesso pesou. Na derrota por 2 a 1 para o PFC Cajazeiras, houve um déficit de R$ 3.037,05 nos cofres de um clube que já não tem tanto patrocínio. “Aqui em Teixeira o povo gosta, mas o time tem que mostrar que é time. Na final [da Série B, contra o Atlântico] tínhamos mais de mil pessoas. Se o time estiver sempre bem, vai dar 2 mil pessoas no estádio. Na Copa Governador, o povo não tem interesse. A gente tem que pagar para jogar. Eu tive que pagar do meu bolso para jogar. Coloquei o time na Copa para manter a cidade empolgada. Só que eu não contava que não subiríamos. Na segunda-feira após a final, se eu pudesse, retiraria o clube da Copa Governador. Teixeira é uma cidade de moda. Mas, pra poder lotar, temos que estar na primeira divisão”, explicou.

O gerente administrativo do Atlético de Alagoinhas, Reginaldo Silva, isentou a FBF de culpa no cartório. Na visão dele, o fato de ter um clube em divisões inferiores do futebol baiano atrapalha, e a torcida não comparece por isso. “Os conselheiros conseguem manter. Com toda a dificuldade que temos, estamos no controle do clube. Nem Corinthians e Flamengo estão sorrindo, ponderou Reginaldo, que garantiu ter a solução dos problemas do Carcará: a divisão de base. O clube participará da Copa São Paulo e já promove peneiras no interior.
 
Na visão do presidente da FBF, Ednaldo Rodrigues, o problema reside na falta de capacidade dos clubes em fazer ações para o comparecimento da torcida. “A FBF dá um desconto de 50% de taxas de registros e dá outros auxílios. Não temos gerência da parte comercial e de marketing dos clubes. Eles devem fazer isso para levar mais público para os estádios. É algo que a federação não tem como controlar. A Copa Governador dá uma oportunidade de participar de uma Copa do Brasil que, só de participar da 1ª fase, dá R$ 500 mil. O clube tem que passar isso para seus torcedores”, posicionou-se.
 
Para o dirigente do Atlântico, no entanto, não só os clubes têm culpa no fracasso de público da Copa Governador. “É uma atribuição de todo mundo. Eu fiz uma lista de transmissão no WhatsApp divulgando os jogos da equipe, O Cajazeiras copiou isso. É algo simples. São mecanismos que fazem crescer o futebol. Nós trabalhamos com entretenimento e temos o axé como rival. Como posso competir? Vou começar a botar outdoor na cidade ano que vem. Quando houver jogos entre Bahia e Vitória, com mando meu, vou divulgar. Tem que fazer algo diferente”, declarou. O dirigente também acredita que uma saída seria vender os naming rights das competições para empresas, como é feito com a Libertadores, por exemplo. Atualmente, a Bridgestone é a patrocinadora máster do torneio continental. “Essa publicidade é uma troca. Eu já sugeri isso e voltarei a falar em reuniões. Quatro ou cinco milhões para uma cervejaria, por exemplo, não é nada. Eles patrocinam alguns dias de carnaval”, sugeriu.
 

Zé Carlos ao lado de Ednaldo Rodrigues | Foto: Divulgação / FBF
 
Mesmo sem crer que a FBF tenha uma atribuição tão grande à falta de visibilidade da competição, Ednaldo Rodrigues garante buscar mecanismos para alavancá-la no próximo ano. “Estamos tratando por etapas. Estamos otimistas para que, no próximo ano, haja transmissão na televisão, bem como outras competições. Acreditamos que conseguiremos ajeitar essas questões. Já conseguimos isso com o Intermunicipal”, revelou.
 
Enquanto não há um mecanismo para dar mais visibilidade aos times pequenos, o presidente do Conquista se diz temeroso pelo futuro. “Vejo com muito pessimismo tudo isso. Temo muito pelos clubes do interior. Teremos um campeonato [Baiano] sem atrativo para ninguém, até sem parâmetro para Bahia e Vitória. A CBF poderia dar mais apoio através das federações. Não concordo com o fim dos estaduais, a não ser que haja mecanismos diferentes para que os times pequenos se mantenham. É duro colocar isso em prática. Ou, então, acaba o futebol”, lamentou. “Fomos jogar no Barradão, e o funcionário do estádio perguntou quem iria jogar ali. Não há apoio”, contou.
 
Zé Carlos, por sua vez, conta que consegue manter a folha salarial em dia com alguns investidores que esperam retorno num futuro próximo. “Aí você pergunta: como conseguimos isso? Com investidores que apostam no nosso investimento, que esperam um retorno futuro. Isso também já aconteceu com Bahia e Vitória, com presidentes colocaram dinheiro do próprio bolso. No Vitória, Alexi Portela fez isso. No Bahia, Marcelo Guimarães fez isso”, admitiu.
 
Na terceira rodada da competição, quatro jogos serão realizados. O Jacuipense recebe o Atlético de Alagoinhas no Eliel Martins. No José Rocha, o Jacobina recebe o Atlântico, enquanto Fluminense de Feira e PFC Cajazeiras medem forças no Joia da Princesa. O Vitória da Conquista receberá o eliminado Teixeira de Freitas.